O primeiro clássico da época terminou empatado. Benfica e Sporting disputaram um jogo intenso e emotivo, a um dia do fim do mercado.

O jogo trouxe
algumas certezas e umas tantas dúvidas. Do lado do Benfica, apesar de ter efectuado duas boas defesas, o erro de Artur marca o jogo. Esta situação fez voltar a insegurança e a falta de confiança no guarda-redes. Em Setúbal, o lugar de Júlio César não deve ser o mesmo deste jogo.

Enzo Pérez é um elemento fundamental ainda para mais numa altura em que o sector do meio-campo está fragilizado por lesões e falta de soluções com a qualidade do ano passado. Apesar de o seu rendimento não ter sido ao nível de outros jogos, em virtude da lesão e pouco tempo de preparação, a experiencia, a capacidade para gerir o ritmo e o posicionamento estiveram lá.

Lima é único neste Benfica. Capacidade de trabalho e uma boa dinâmica fazem dele um avançado de qualidade. Mas precisa de companhia. Talisca tem sido o escolhido mas não revela, pelo menos para já, a capacidade para ser o companheiro na frente de ataque do Benfica. Jesus tem alterado a sua posição entre o apoio ao meio-campo e a Lima. Bate bem na bola, mas ainda necessita de decidir mais rápido e ser mais intenso nas acções. É certo que tem apenas 20 anos e tempo para atingir aquilo que Jesus viu nele quando o contratou. A aposta continua, o que é um bom indicador para o jovem brasileiro.

Outros há, como é o caso de Djuricic, que não conseguiram render. Não podia estar nesta posição? Eram as inúmeras opções de qualidade que existiam na época passada que não permitiram a sua aposta e consequente afirmação? Esta temporada Talisca não enfrenta essa concorrência de quantidade/qualidade e continua a merecer a confiança de Jesus. Tendo em conta a saída de vários elementos esta época por que não ficou Djuricic para ser uma aposta? É certo que estou de fora e não tenho o conhecimento das situações mas o que analiso faz-me pensar por que razão alguns jogadores não têm a oportunidade e a possibilidade de ser opção, merecendo espaço de evolução e afirmação. Entre alguns exemplos, Bernardo Silva da formação do Benfica e Djuricic (que foi caro), referido acima.

Gaitan e Salvio são, e já o tinha referido hà duas semanas atrás, quem mexe com o jogo do Benfica. As acelerações e capacidade para desequilibrar fazem deles os homens de quem a equipa não pode prescindir. André Almeida voltou a revelar-se de grande utilidade. A sua polivalência permitiu-lhe chegar à selecção e consegue dar boas respostas sempre que é utilizado. No domingo cumpriu e fez um bom jogo. No banco do Benfica, entre regressos e reforços, apenas Derley entrou aos 86 minutos. Não tenho o registo das substituições neste tempo de Jesus no Benfica, mas não sei até que ponto não terá sido caso único.

O que levou Jesus a mexer tão pouco? Será que a equipa teve um rendimento extraordinário (que não foi o caso) e não havia necessidade de mexer ou quem tinha sentado ao seu lado não lhe transmitia a confiança suficiente para a sua utilização? Opções de Jesus.

Do lado do Sporting, com menos individualidades que possam decidir, a certeza que tem de ser a equipa a dar uma resposta para o que vai surgindo ao longo do jogo. Nani ainda não apresentou o rendimento esperado, mas a sua qualidade e experiência já se fizeram notar num jogo de grande dificuldade. Slimani regressou após as desculpas e mostrou aquilo que foi durante a época passada. Capacidade de luta, disponível e presença na área. O seu regresso trouxe um golo que foge a Montero desde Dezembro. Compreende-se a opção pelo argelino. O que seria de Slimani se tem revelado eficácia nas duas situações (29 e 89 minutos) flagrantes de que dispôs? São estes momentos que definem um avançado e Slimani perdeu-se nas facilidades e desperdiçou um regresso de sonho.

Rui Patrício voltou a ser determinante. Concentrado e com um bom posicionamento, teve uma série de boas defesas e manteve o Sporting sempre no jogo. Ricardo Esgaio teve uma boa estreia no derby. Esteve confiante e seguro e nunca deixou de subir pelo seu corredor. Perante ele esteve Gaitan, um dos melhores do Benfica. Apesar de batido num ou noutro lance, gostei do seu comportamento e da forma como disputou cada lance. Bom posicionamento. Para quê a contratação de laterais direitos (este ano um, dois no ano passado que entretanto já saíram) quando já se sabia da existência de Esgaio dentro de casa?

Nabi Sarr apesar dos seus 20 anos esteve mais seguro que Maurício. Conseguiu resolver as suas situações e acabou por ter um jogo positivo apesar do trabalho que Lima dá a qualquer defesa. 

Esperava mais de William. Já demonstrou muito mais e a equipa sente falta daquela serenidade, capacidade de ter a bola e boas decisões. Na Luz, tal como em Coimbra, algumas das suas acções foram mais lentas e previsíveis que o normal, com reflexos no rendimento individual e no da equipa. Não sei se teve a ver com o regresso tardio aos treinos ou com a pretensa saída de Alvalade, constantemente noticiada. Nunca é fácil para um jovem de 21 anos, depois de uma época extraordinária, ter o seu nome nos jornais relacionado com o interesse dos melhores clubes europeus. Não sei se houve uma proposta concreta mas imagino as conversas e as abordagens. O foco deve estar sempre no jogo, no seu desempenho e na equipa. Acredito numa melhoria no rendimento e o reconhecimento do trabalho desenvolvido por parte de quem dirige.

À semelhança de William esperava mais de Carrilo. O potencial está lá mas a afirmação demora. Uma arrancada, um desequilíbrio mas falta depois dar sequência. Penso, e já o escrevi, que o seu potencial não pode ser adiado. Os objectivos e a expectativa estão mais altos e os desafios, com a Liga dos Campeões pelo meio, aumentam a possibilidade de evoluir e demonstrar toda a sua capacidade. Penso que é a altura e o jogo da Luz deixou-me na dúvida.