A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: Gerson Gómez 
Parceiro oficial nas Honduras: El Heraldo  
Revisão: Filipe Caetano


Luis Fernando Suárez, um treinador habituado a jogar bom futebol, a jogar com sistemas diferentes, a aplicar diferentes esquemas táticos, descobriu que nas Honduras teria de adaptar os seus ideias à realidade. Na «H» não há David Beckham ou o tipo de jogador que pode carregar a equipa às costas. Mas encontrou um grupo de jogadores jovens e explosivos, dinâmicos e com fome de glória.

Seguindo esta lógica, foram testados 98 jogadores hondurenhos até que ficou definido o figurino para o campeonato do mundo. Suárez definiu algumas regras, como o facto da equipa passar a jogar com quatro defesas e sem um número 10 puro, apostando em dois extremos ajudados por dois médios de contenção. O mapa tático da equipa assemelha-se a um 4x4x2, embora Suárez também tenha experimentado jogar com um falso ponta de lança em 4x5x1 (ou 4x6x0).

Depois de no Mundial 2010 ter alinhado com estrelas como Amado Guevara, Danilo Turcios e até David Suazo ou Carlos Pavón, as Honduras tiveram de procurar alternativas tendo em vista o campeonato do Brasil. Muitos dos novos elementos vêem da equipa que chegou aos quartos-de-final dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Pode não ser a equipa mais excitante do planeta, mas é dinâmica e não tem receio de recorrer a esquemas táticos complexos.

As Honduras tendem a jogar com dois médios de profundidade, normalmente Wilson Palacios e Luis Garrido, e dois extremos rápidos, como Boniek Garcia e Andy Nájar, que podem mudar de flanco durante os jogos. A linha ofensiva é liderada sem contestação por Carlo Costly e Jerry Benston.

A nível defensivo também não há grandes alterações. Os dois veteranos Víctor Bernárdez (San Jose Earthquakes) e Maynor Figueroa (Hull City) tomam a liderança, enquanto Emilio «Izzy» Izaguirre (Celtic Glasgow) e Arnold «Arnie» Peralta (Glasgow Rangers) surge à direita, embora nas suas equipas escocesas joguem no meio-campo. Peralta é um dos jogadores que vem dos Olímpicos e tem vindo a assumir a adaptação a lateral-direito, normalmente sem grande sucesso, dado que é muitas vezes por aí que surgem os principais problemas.

Na baliza surge Noel Valladares, que com 121 internacionalizações é o número 1 incontestado e o favorito dos adeptos. Dá equilíbrio à equipa e na África do Sul fez defesas importantes contra o Chile.

Com este onze e a disciplina tática de Suárez espera-se que as Honduras sejam uma equipa sólida, mas explosiva nos flancos.

Que jogador vai surpreender neste Mundial?
Segundo o treinador temos de prestar atenção a Carlo Costly, um avançado que «tem uma maneira estranha de jogar, mas que consegue ultrapassar os adversários». Costly falhou o Mundial da África do Sul porque, dois meses antes do torneio, fraturou o metatarso durante um jogo da liga romena. Para além disso, é o primeiro jogador das Honduras a fazer parte de uma espécie de dinastia, uma vez que o seu pai, Allan Anthony «Cochero» Costly, jogou o Mundial de 1982.

Que jogador vai dececionar no Brasil?
Considerando que é o jogador mais famoso a jogar pelas Honduras se as coisas correrem mal a Wilson Palacios poderá ser alvo de algumas críticas. Tem vindo a debater-se com lesões nos últimos anos e só fez cinco jogos na última época pelo Stoke City, por isso pode passar por momentos difíceis no Brasil.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
O primeiro objetivo é marcar um golo, depois de não ter marcado nenhum no Mundial da África do Sul. O último foi em 1982 contra a Irlanda do Norte, por Anthony Laing. O segundo objetivo é vencer um jogo, algo que nunca conseguiram numa fase final do campeonato do mundo, sendo que empataram duas vezes e perderam um em 1982 e sofreram três derrotas em 2010. O terceiro objetivo é chegar à fase seguinte.



Curiosidades e segredos da seleção

Carlo Costly
Antes da fase de qualificação da Concacaf para o Mundial de 2014, o avançado Carlo Costly decidiu fazer uma pausa de seis meses na carreira de futebolista profissional, porque não conseguiu transferir-se para um clube europeu e estava em final de contrato com o Atlas do México. O selecionador ficou furioso ao saber que a sua estrela estava de férias e a frustração cresceu quando a imprensa noticiou que Costly pretendia passar o tempo a jogar à bola com amigos e ex-jogadores em Miami. «Alguém que passa o tempo a jogar com um grupo de gordos não pode estar na seleção», disse Suárez. No dia seguinte Costly respondeu no twitter com o uma foto: «Aqui em Miami, a jogar com um grupo de gordos».

Noel Valladares
As Honduras deram início à fase de qualificação em casa com o Panamá. O estádio estava cheio com 35 mil espetadores, que esperavam uma vitória fácil da «H», mas Suárez decidiu apostar em caras novas e a equipa acabou por perder (2-0). Os adeptos começaram a atirar objetivos para dentro de campo e pela primeira vez os jogadores foram assobiados no seu próprio estádio, o que impressionou os mais jovens. O experiente guarda-redes aproveitou para deixar um aviso: «Bem-vindos às eliminatórias da Concacaf, bem-vindos aos jogos para homens a sério».

Víctor Bernárdez
Os jogadores gostam sempre de estar na moda, mas Suárez não gostou quando um seu atleta dos San Jose Earthquakes, o defesa Bernárdez, apareceu no treino de cabelo pintado e boné na cabeça. Ficou irritado e avisou que o campo de treinos era para ser respeitado e não era um lugar para palhaços. Bernárdez parece ter aprendido a lição e numa mais apareceu no treino com adereços.

Juan Carlos García
No início da última fase de qualificação para o Brasil, as Honduras jogaram contra o Brasil com temperaturas a rondar os 36 graus. Não venciam os americanos em casa desde 1965, por isso um triunfo era algo muito desejado e acabou mesmo por acontecer. Um dos golos foi apontado por Juan Carlos García, num magnífico pontapé-de-bicicleta que surpreendeu toda a gente, inclusivamente Jurgen Klinsmann.

Donis Escober
É a segunda escolha para o lugar de guarda-redes. Joga no Olimpia e em Setembro de 2012, durante um jogo com o Atlético Choloma, pediu ao árbitro para ir à casa de banho. O juiz deu autorização e o jogador regressou cinco minutos depois, mantendo a baliza inviolável. Duas semanas depois, em vésperas do jogo das Honduras com o Panamá, na cidade do Panamá, os adeptos receberam o rival com uma estátua de Escober a usar fraldas e atiraram centenas de rolos de papel.


Perfil de uma figura da seleção: Óscar Boniek García



O pai de Óscar também foi jogador de futebol, tendo alinhado no Olimpia das Honduras. Tinha uma fixação pelos jogadores mais famosos, por aqueles que conseguiam inscrever os seus nomes na história do futebol. Quando o filho nasceu deixou uma nota para a sua mulher com dois nomes que teria de escolher: Boniek, em homenagem ao polaco Zbigniew Boniek; ou Jairzinho, o brasileiro que brilhou no Mundial de 1970. A escolha recaiu no primeiro.

García percebe a magnitude de transportar o nome de uma das maiores estrelas da história da Juventus e ao longo dos anos aprendeu a analisar os muitos golos apontados pelo avançado e que podem ser vistos online. «É bonito poder ter o meu nome associado a alguém como ele e com humildade trabalho no duro para que um dia possa alcançar o seu nível. Espero poder ser digno do seu nome durante este Mundial», disse.

Boniek não é o único futebolista na família. O irmão Yovany Ávila é um lateral-esquerdo com a alcunha de «mosquito» e representou clubes como o Olímpia ou o Marathon. Samir Garcia é um lateral-direito que defendeu as cores do Motagua e o mais novo, Óscar Garcia, é um defesa que acaba de completar a primeira época como futebolista profissional.

«Eu acho que sou o melhor entre todos», brinca Boniek, que agradece a ajuda da família. O avançado é conhecido pelo seu sorriso aberto e nas Honduras diz-se que está sempre pronto para novas brincadeiras, tentando passar felicidade aos colegas. É raro vê-lo chateado e costuma ter paciência para responder a todos os jornalistas.

No entanto, a sua história nem sempre foi feliz. Viveu tempos complicados quando era criança e sacrificou grande parte da sua infância pelo futebol. Aprendeu os fundamentos do jogo nas ruas, onde muitas gente aparecia só para comprovar o seu talento. Boniek é um dos poucos jogadores negros hondurenhos nascido na capital Tegucigalpa (normalmente vêm da costa norte) e jogou sempre nos escalões inferiores de clubes da cidade.

A ligação ao Olimpia surgiu apenas na adolescência, mas antes de vingar na equipa principal foi emprestado várias vezes ao Real Patepluma, onde se tornou uma estrela. Sem receber ordenado, entrou em greve de fome, mas o clube entrou em bancarrota e nem sequer terminou a época. De regresso ao Olimpia, acabou por ter a sua chance e acabou por tornar-se num jogador fundamental no esquema da equipa.

Passou a ser muito cobiçado e chegou a treinar à experiência no Paris Saint-Germain, mas não ficou e um ano depois já se falava no Wigan, onde já tinham jogado Maynor Figueroa e Palacios. Desesperado por sair, pediu ao presidente para o vender e até a sua mãe apareceu no estádio com um cartaz a fazer o mesmo pedido. Em junho de 2012 Boniek foi jogar para a MLS e atualmente representa os Houston Dynamo, mantendo o seu estatuto de estrela das Honduras.