Ver um jogo da seleção nacional em família é das melhores experiências disponíveis no mercado de desporto em Portugal.

Foi isso que fiz na sexta-feira.

O ambiente era descontraído e alegre.
Muitos pais com filhos pequenos . Muitas mulheres. Muitos amigos, em grupos alargados.

O estádio estava cheio, o que deve ser sublinhado. Os estádios enchem porque alguém trabalha nesse sentido e porque a relação com a equipa nacional é boa. Como disse no início do texto, ir ver jogar a seleção nacional é uma boa experiência. É aquele momento em que até as pessoas que não gostam do nosso outro futebol (os dos casos, o dos dirigentes irados, o do tiro ao árbitro) se deixam tentar. «Está bem, como é a seleção…».

O estádio estava cheio, dizia. Muitas daquelas pessoas foram ali ver, antes de mais, Cristiano Ronaldo. Apesar de ser português, há dez anos que atua lá fora. A seleção é mesmo a única hipótese de o ver ao vivo. Isso notou-se quando foi anunciado o nome do capitão e sobretudo sempre que recebia uma boa e se encaminhava para a área de Israel (sim, eu sei que isso só aconteceu três ou quatro vezes, mas mesmo assim deu para notar). O entusiasmo era genuíno, juvenil, um pouco como as estrelas rock entram em palco.

Como todos sabem, o jogo não foi fácil. Mesmo assim o estádio brincou em duas ou três ondas mexicanas que se prolongaram por diversas voltas. As pessoas bateram palmas, cantaram o hino, gritaram Portugal, a banda tocou, reagiram com palmas ao inesperado golo consentido por Rui Patrício. No final assobiaram. Aguentaram mesmo até ao fim, depois desesperaram. Tinha sido de mais.

O público foi o melhor da noite. A seleção respondeu ao entusiasmo nas bancadas com um jogo cerebral que com o passar do tempo foi perdendo razão de ser.

Ao intervalo eu achava que estava bem assim. E nem era por causa do golo de vantagem. Frente a adversários que só pensam em defender é fundamental ser frio, sereno, saber aproveitar. Portugal tinha sido isso. Como Ronaldo nunca está à esquerda, esse corredor era de Antunes, que foi quase sempre muito inteligente. No meio, Moutinho e Micael jogavam em linha, à frente de Miguel Veloso. Na prática, uma espécie de 3-4-3, com a bola transformado num 3-3-4 graças à mobilidade do defesa esquerdo do Málaga.

Ao intervalo lembro-me de comentar para o lado: «Prepara-te, isto vai ser diferente».

A frase queria dizer apenas isso. Seria legítimo ver Israel subir um pouco, pressionar mais. Tentar jogar. Como confessou Paulo Bento, a equipa portuguesa entrou mal na segunda parte. No fundo, os jogadores não pareceram preparados para aquela alteração do adversário. E no entanto ela era legítima.

A equipa melhorou a seguir e ficou pior depois das substituições, sobretudo por Nani não ter sido um dos jogadores substituídos. O resto da história já se conhece. Erros como o do guarda-redes acontecem, são desagradáveis quando se tem apenas um golo de vantagem. E mais desagradáveis ainda quando acontecem muito perto do nosso lugar no estádio.

Este texto não é para descrever o jogo. É para salientar a distância entre a alegria do público e a escassa energia que chegou ao relvado. Eu percebo, repito, que nestes jogos o mais perigoso é cometer erros, alimentar o adversário. Sim, do ponto de vista estratégico isso faz sentido. O que me pareceu é que a equipa esteve sempre demasiado preocupada em manter-se arrumadinha, não se desalinhar nem quando tinha a bola. Na segunda parte teve momentos em que podia ter partido rapidamente para a frente, mas quem tem um meio-campo de posse como este com Moutinho, Micael e Veloso (além de um Nani sem dimensão) não pode esperar explosão.

Depois de uma campanha em que a norma foi oferecer brindes ao adversário, fiquei com a ideia que a seleção se preocupou em fazer um jogo sólido, com boa posse de bola. Já se sabe que isso implica um futebol mais lento, quase sempre aborrecido. Como se não bastasse, no final lá voltou a aparecer o erro.

Até pode ser que esta campanha acabe com o apuramento direto da seleção nacional. É improvável, mas pode acontecer. Mesmo neste cenário, esta terá sido uma fase de apuramento cinzenta, como a noite de sexta-feira. Somámos lapsos, ofertas e más abordagens aos jogos. O grupo é relativamente tranquilo, mas falhámos nos momentos em que normalmente falhamos: quando é preciso derrubar os pequenos.

Temos uma seleção capaz de se bater com as melhores, como se viu no
Euro 2012. Mas continuamos sem descobrir a fórmula certa para enganar equipas que se fecham. Talvez valesse a pena ter um plano alternativo para estes dias. E não temos. Lamentavelmente nunca nos preocupámos com isso ou simplesmente não sabemos elaborá-lo, apesar de 80 por cento dos jogos serem com seleções de ranking modesto e nenhuma ambição.

As famílias que vão aos jogos da seleção mereciam mais entusiasmo da parte de quem joga. Além de melhor futebol. No play-off, quando estiver em jogo, lá seremos capazes de regressar à vida.