Mesmo em território perigoso - armadilhado pelos principais rivais, pretendentes ao coração da moça -, os rapazes de mestre Guardiola não retraem a profundidade do sentimento. É um toque de confiança, um toque de quem explora e sabe o que faz.
Cumplicidade assim só pode dar bom resultado. O Barcelona, equipa condenada a esta paixão lasciva, aplicou mais uma lição de grande futebol ao Real Madrid. 1-3 em pleno Santiago Bernabéu.
Real Madrid-Barcelona AO MINUTO
Durante 23 segundos, chegou a parecer ser possível outro desenlace. Do apito inicial ao golo de Karim Benzema, mais precisamente. Nesse período viu-se um Victor Valdés desnorteado, uma defesa desfeita, um Real Madrid poderosíssimo e avassalador nos seus intentos. 23 segundos de conquista, 23 segundos de prazer.
Mas foi só. Os restantes 89 minutos e 37 segundos foram, quase em exclusivo, mais uma ode ao futebol de passe curto, circulação paciente e finalizações mortais. No Real Madrid corriam os homens, no Barcelona corria a bola. No Real transpirava-se, no Barça inspirava-se. É, no fundo, a diferença na idiossincrasia dos dois clubes.
O chileno Alexis Sanchez empatou à passagem da meia-hora, na sequência de uma genialidade mais de Leo Messi, e fez tremer o Santiago Bernabéu. A pré-anunciada superioridade do Real Madrid, examinada e certificada pelos mais credenciados especialistas do futebol-rei, começava a ruir ali.
Recorde: golo de Benzema é o mais rápido de sempre no Clássico
E ruiria mesmo, com estrondo. A segunda parte foi a expressão máxima da tal história de amor: 11 homens e uma bola. Entre instantes de sorte, como no golo de Xavi (o segundo), e outros de deleite (o cruzamento de Dani Alves para o cabeceamento de Cesc no 1-3), a partida tornou-se um poema escrito numa harmonia admirável.
O Real nunca baixou os braços, naturalmente, e até podia ter marcado. Cristiano Ronaldo teve dois lances claros para bater Valdés, mas a desinspiração raramente largou o internacional português.
Tudo em esforço, tudo baseado num futebol directo e dinâmico. Até pode funcionar com todos os outros, como tem funcionado. Com este Barcelona, nem pensar. É preciso muito mais.
Equipas oficiais:
Árbitro: Fernández Borbalán
REAL MADRID: Casillas; Fábio Coentrão, Pepe, Sergio Ramos e Marcelo; Lass Diarra (Khedira, 62) e Xabi Alonso; Di María (Higuaín, 68), Ozil (Kaká, 58) e Cristiano Ronaldo; Benzema.
Suplentes: Adán, Albiol, Arbeloa e Callejón
Treinador: José Mourinho
BARCELONA: Valdés; Dani Alves, Puyol, Piqué e Abidal; Busquets, Iniesta (Pedrito, 89), Xavi e Fabregas (Keita, 78); Alexis (David Villa, 83) e Messi.
Suplentes: Pinto, Mascherano, Maxwell e Thiago Alcântara
Treinador: Pep Guardiola
Cartões amarelos: Xabi Alonso (25), Alexis Sanchez (26), Messi (36), Piqué (47), Lass Diarra (60), Pepe (62), Sérgio Ramos (69)
Golos: Benzema (23 segundos), Alexis Sanchez (31), Xavi (52) e Fabregas (65)
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