Traçado o diagnóstico, há que pensar no tratamento. Jorge Silvério, mestre em Psicologia do Desporto, explicou que o trabalho de um psicólogo passa mais por prevenir o aparecimento de problemas do que por resolvê-los. A ansiedade que afecta o Sporting poderia ter sido prevenida, mas agora que se instalou, ainda há formas de ser ultrapassada.
O primeiro passo é substituir os pensamentos negativos por positivos. E para aqueles que pensam que isso não resulta, aqui vai a explicação de quem sabe do assunto: «Se eu começar a pensar positivo e interpretar as coisas de uma forma positiva, começo a ganhar mais confiança. Se eu interpretar o stress como um desafio e não como uma ameaça, ele pode ser positivo. Provavelmente no Sporting não interpretam de uma forma positiva e provavelmente isso não está a ser trabalhado».
Descontrair também ajuda, sobretudo para evitar os desagradáveis sintomas físicos associados à ansiedade. Jorge Silvério aconselha técnicas de relaxamento que podem ser feitas diariamente e que também são muito úteis quando se aproximam os jogos.
Outra técnica usada é a visualização, que consiste em «fazer com que os jogadores consigam imaginar algumas situações para que consigam lidar com elas antes delas acontecerem»: «O José Mourinho fazia isso muito bem quando entregava os relatórios detalhados a cada jogador do adversário directo».
Jorge Silvério realça que «não basta trabalhar em termos físicos, é também preciso trabalhar todos os dias em termos psicológicos e mentais». Difícil é fazer com que os jogadores e treinadores aceitem este facto. O psicólogo foi professor de José Peseiro, José Mourinho, Carlos Carvalhal, Carlos Brito e José Couceiros, treinadores que estão já mentalizados para a importância do aspecto psicológico. Com os jogadores a situação é algo diferente: «Os jogadores ainda têm a percepção errada de que o psicólogo é só para quando há problemas, quando 90 a 95 por cento da nossa intervenção é feita no sentido de evitar problemas».
«É preciso tempo»
O Maisfutebol lançou o desafio a Jorge Silvério. O que faria se fosse chamado para ajudar o Sporting? «O mais provável era recusar esse desafio. Como disse, a nossa intervenção deve ser feita no sentido de evitar os problemas. Depois há aquela situação tipo bombeiro, em que quando surge algo se chama o psicólogo. Essa intervenção não tem resultados, porque é muito difícil numa semana mudar tudo. Era preciso um programa de treino mental em que fossem ensinadas algumas destas técnicas aos jogadores, sempre tendo em atenção que os resultados não vão aparecer numa semana ou em duas. São coisas que demoram algum tempo».
«Não faço milagres nem conheço nenhum psicólogo que faça. Peseiro precisa de mais tempo. Embora eu tenha a noção de que da forma que as coisas estão e a instabilidade que existe a nível directivo também pode estar a complicar as coisas. As pessoas que lideram têm que assumir as situações e dar espaço para que as coisas aconteçam», considerou. No F.C. Porto, por exemplo, os pedidos de paciência do treinador e do capitão de equipa parecem ter dado resultado: «Se calhar os adeptos do F.C. Porto foram mais compreensivos. Houve a mudança de treinador e os dirigentes usaram a pedagogia, alertando as pessoas para que não esperassem resultados imediatos».
Alem disso, alerta para a existência de focos de instabilidade, que acabam por ter repercussões no rendimento da equipa: «As declarações dos responsáveis têm esse peso. No Sporting isso não acontece. Até vemos um vice-presidente dizer que se os resultados não aparecessem o treinador tinha de ir embora. Isso não ajuda a criar a estabilidade necessária. Temos exemplos de treinadores que se dizia que iriam ser despedidos, mas que a direcção optou por manter e os resultados acabaram por aparecer. Isso quer dizer alguma coisa».