Época de ingenuidade e atrevimento, de aventuras no desconhecido. 1860, o futebol pouco mais era do que um dislate de cavalheiros burgueses, saturados pela canseira do tempo livre e o esgotamento imposto por intermináveis compromissos familiares.

Três anos antes nascera o Sheffield FC, clube da cidade, opulento e inexpugnável no monopólio desportivo, dono e senhor de uma modalidade que crescia. Atraente e desordenada.

Na zona rural de Sheffield, um grupo de elementos ligado a uma cervejeira (Whitbread Brewery) sonhou mais alto e afrontou o poder instituído. Criou o Hallam Football Club e ergueu o que é, até aos dias de hoje, o campo de futebol mais antigo do mundo: sejam bem-vindos ao mítico Sandygate Road.

Hallam FC: o dia em que um cão marcou de penalty

Esta visita faz-se carregada de simbolismo e emoção. O presidente do Hallam FC, Jackie Farnworth, encaminha-nos para o historiador do emblema. E é John Steele a narrar ao Maisfutebol as maravilhas que se escondem neste terreno com 153 anos!

«Nem balneários havia. Imagine um espaço baldio, de terra batida, duas balizas e uns bancos onde se sentavam os espetadores. Em 1860 isso era um luxo», conta o homem que sabe «de trás para a frente» a vida do segundo clube de futebol mais antigo do planeta.

Um tesouro escondido em balneários bizarros

Até 1950, os jogadores equipavam-se «do outro lado da rua», de forma a terem «alguma privacidade». Em meados do século XX, a empresa proprietária das instalações fez um investimento fortíssimo: «construíram casas de banho».

«Eram partilhadas por jogadores e espetadores. Estavam trancadas a cadeado e era obrigatório pagar one penny para usá-las. Esta regra de utilização estendeu-se até 1954, altura em que se aboliu o pagamento», conta John Steele.

Foi a melhor coisa que o clube, e os responsáveis pela companhia cervejeira, podiam ter feito. «Na verdade, ninguém se lembrava que havia esse depósito de moedas. Estava esquecido numa caixa dentro das casas-de-banho. Deitou-se tudo abaixo e o Hallam FC percebeu que estava rico».

Dois certificados Guinness e um contributo para a história

Um bar de apoio ao campo (1964), pequenas torres de iluminação (1992), uma bancada (1999) e, finalmente, balneários novinhos em folha (2001). Neste lento desenvolvimento se percebe que a riqueza acidental do Hallam FC depressa se esvaiu. Os múltiplos penny foram insuficientes para uma vida de luxo e garbo.

Nada que incomode, de todo o modo, este clube naturalmente fadado para ser «suburbano e amador». «Mais difícil do que vencer tem sido sobreviver. Os dois certificados Guinness não nos dão dinheiro, apenas orgulho e alguma glória».

A equipa principal do Hallam compete na VI Divisão Nacional inglesa, integrada no Northern Counties East League Division 1. O clube tem também reservas, sub-19, sub-18 e veteranos. Pode parecer pouco, mas os triunfos do Hallam são eternos e não se apagam no tempo.

«Veja bem: temos o campo mais antigo do mundo, o primeiro troféu na história do futebol (Youdan Cup) e o nosso presidente John Charles Shaw teve um papel instrumental na criação das primeiras regras do futebol. Já ninguém nos rouba o nosso lugar na história».

Um jogo no campo mais antigo do mundo: