Zulte, cidade-berço do pintor Raveel, 15 mil habitantes; Waregem, ponto nevrálgico na I Guerra Mundial, 35 mil habitantes. Urbes vizinhas, unidas por um clube de futebol desde 2001.

O SV Zulte Waregem passou de «profundamente amador» a encantadoramente desafiador em cinco temporadas. Foi vice-campeão da Bélgica na época agora finda e vai jogar o play-off da Liga dos Campeões.

Há evidentes pontos em comum entre esta aventura imprevista do Essevee, alcunha da equipa, e o FC Paços de Ferreira. O baixo orçamento (oito milhões no caso belga) é superado pela «união, camaradagem e motivação sustentada», como explica ao Maisfutebol o dirigente Cedric Tack.

As obras, o outro Hazard e uma estrela a nascer

«Ficámos só atrás do Anderlecht, mas fomos líderes durante muito tempo», adverte, também já a par do sucesso pacense na liga portuguesa.

«Na Bélgica fala-se mais de Porto e Benfica, mas sim, o feito do Paços de Ferreira [o sotaque é encantador] chegou até nós. A história é muito parecida».

Falamos do Paços e pensamos em Paulo Fonseca, Josué, Vítor, André Leão, Cássio, até Cícero e Tony. Qualidade a baixo preço. No SV o cenário volta a coincidir.

O vice-campeão belga ergueu-se sob o comando técnico de Francky Dury, um quarteto defensivo veterano, um grupo de atletas em busca de um segunda oportunidade, dois emprestados pelo Anderlecht e um par de descobertas nas divisões secundárias de França.

O cenário, pouco prometedor, compôs-se «depois de uma vitória no estádio do Standard». «Iniciámos um ciclo de 15 jogos sem perder, fizemos resultados tremendos fora de casa e começámos a acreditar. Olhávamos uns para os outros e percebíamos que eramos tão bons como os melhores».

Dois mil adeptos no primeiro treino: «É lindo»

«Sem pânico», o SV Zulte Waregem assumiu, «já numa fase adiantada da época», o sonho: chegar à Liga dos Campeões.

«Quisemos fazer possível do impossível, afrontar a hierarquia definida no futebol da Bélgica. Falhámos por pouco o título mas, honestamente, acha que alguém ficou desapontado pelo segundo lugar?»

O entusiasmo persiste e alavanca a nova época. Época histórica, está bom de ver. Só no pormenor seguinte, o decalque com o Paços deixa de fazer sentido. Os castores perderam já várias peças relevantes (Cássio, Luiz Carlos e Josué, além de Fonseca), o SV segura todas. Pelo menos, por ora.



«Estamos a fazer tudo para manter a equipa. Queremos repetir os bons resultados e ir longe na Europa. Temos quatro jogadores novos, todos baratos, e o apoio total do nosso público», sublinha Cedric Tack.

O dirigente sabe do que fala. No primeiro treino de pré-época, dois mil adeptos foram aplaudir os jogadores. «É lindo. São a nossa mais-valia e razão de ser. Eles não se esquecem que há cinco temporadas limitávamo-nos a ser uma equipa amadora e entusiasmada. Chegámos onde ninguém acreditava».

Bruxelas, Brugge, Gent, Liège, o braço motriz do futebol e turismo belga não entram nesta equação. Os GPS podem não reconhecer Zulte e Waregem à primeira, mas é melhor que se habituem depressa. Este clube está determinado a surpreender. Como o Paços.

Vídeo promocional do SV Zulte Waregem: