Quem desce a frondosa Rua do Crasto e vira na primeira à esquerda, rapidamente percebe que a casa do Futebol Clube da Foz já não é suficiente para albergar a ambição da instituição.

O crescimento desportivo é evidente, mas teima em não ser acompanhado pelas infraestruturas. Duas questões «cruciais» no imediato e que são analisadas ao Maisfutebol por Eduardo Avides Moreira, presidente do histórico portuense desde maio de 2019 e sócio há 28 anos.

No velhinho Campo da Ervilha vivem-se, na verdade, tempos paradoxais. Por um lado, toda a zona da Foz do Douro está orgulhosa pelas subidas das últimas épocas e pela campanha de luxo em 2019/20 no maior escalão da AF Porto. Por outro, a direção de Avides Moreira admite «frustração e insatisfação» pela decisão recentemente tomada pelo executivo associativo.

Na altura em que a divisão de Elite foi suspensa, quatro clubes estavam em posição de acesso ao play-off de subida ao Campeonato de Portugal. Salgueiros e FC Foz na série 1; Tirsense e Sobrado na série 2. A AF Porto indicou à FPF os nomes dos líderes das séries – Salgueiros e Tirsense -, mas a decisão promete não ser pacífica.

O FC Foz, pela voz de Eduardo Avides Moreira, apresenta argumentos fortes e lamenta a postura distante da AF Porto ao longo de todo o processo.

«Passámos a esmagadora maioria das jornadas num dos dois primeiros lugares e vencemos duas vezes o Salgueiros, o primeiro classificado. Há critérios para todos os gostos», refere o presidente do FC Foz, na pequena sala de reuniões encravada entre o bar e os balneários do mítico Campo da Ervilha.

Eduardo Avides Moreira (à direita) é presidente do Foz há um ano

«Todos os dois primeiros classificados, em alguns casos também os terceiros, de todas as outras divisões da AF Porto foram promovidos. Menos os da Elite, pois dependeriam de uma decisão da FPF. Isso foi o que a associação disse num primeiro comunicado. Em meados de abril enviámos um ofício à AF Porto a perguntar o que podíamos esperar. No nosso modesto entender garantimos o mesmo que o Salgueiros, o Tirsense e o Sobrado.»»

Eduardo Avides Moreira lamenta a «relação fria» entre a AFP e os clubes, lembrando que o FC Foz tem «15 equipas inscritas em todos os escalões e 86 anos de história».

«Ninguém nos chamou, ninguém conversou connosco. O que sabemos é através dos comunicados oficiais. A associação apenas nos disse que aguardava a decisão da FPF sobre a questão dos quadros competitivos. Nunca houve o cuidado de ter uma palavra. No dia 7 de maio, depois da última comunicação da associação, decidimos que tínhamos de fazer alguma coisa. Enviámos um novo ofício, dissemos que considerávamos a decisão injusta e colocámos em causa o critério aplicado, pois já sabíamos que esse era o caminho da AF Porto.»

Eduardo Avides Moreira acredita que «até ao lavar dos cestos é vindima». Se a situação do Foz for não for revista, admite qualquer cenário.

«Se isto [subidas de Salgueiros e Tirsense] se concretizar, temos de ser compensados. Prejudica-nos, é objetivo. Ou fazem justiça desportiva ou nos dão uma compensação financeira, que não é o que pretendemos. Queremos ter uma postura positiva, mas sempre a defender os interesses do clube. Estamos abertos ao diálogo e devíamos ter sido chamados pela AF Porto. Merecíamos, no mínimo, esse cuidado.»

Batalha jurídica à vista? «É importante medir as consequências»

O FC Foz conseguiu nos relvados distritais aquilo que a pandemia e a decisão da AFP lhe roubou: a possibilidade de lutar pela estreia num campeonato nacional. O futuro é incerto, para todos, mas o presidente do clube garante que o seu emblema não será abalado.

«A pandemia terá consequências graves no futebol. Os clubes precisam e vão precisar de meios financeiros que no curto/médio prazo vão escassear. As pessoas não têm noção do impacto que esta crise global terá também no futebol. Felizmente, as receitas sendo diversificadas permitem-nos ter uma condição financeira confortável nesta altura», garante, não colocando nesta altura de parte um recurso aos meios que estão ao dispor para defender os legítimos interesses do FC Foz.

O FC Foz não desiste de lutar pela subida aos Nacionais

Eduardo Avides Moreira não se quer precipitar, privilegia o diálogo, decisões que sejam «justas e equilibradas» e que em caso de dano haja «compensações», avisando ainda que foi eleito para defender os interesses dos sócios.

«O que se pode fazer? Estou a ouvir a minha direção e outras pessoas que vivem o clube. Impugnações e batalhas jurídicas vão consumir recursos. Não é o melhor caminho, mas… queremos que entendam a nossa posição. Até o sorteio puro seria mais justo do que isto. É importante lembrar que estes quatro clubes partiriam com zero pontos, todos, no play-off. É importante ouvir quem sabe e ponderar aquilo que nos dizem do ponto de vista legal.»

«Podíamos perfeitamente jogar o play-off no início da época, em julho ou agosto, e colocar um asterisco no sorteio do Campeonato de Portugal sobre os nomes dos representantes da AF Porto», diz o presidente do Foz. «Não se disputa a Supertaça em Agosto, uma competição referente a época anterior?»

«O André Villas-Boas sugeriu interromper a época e voltar a jogar quando fosse possível. Estou de acordo. Isso até nos permitiria acertar os calendários com o Mundial de 2022, que se jogará em dezembro.»

«Em 1995 fomos jantar de smoking para resolver o problema do campo»

No momento da sua eleição, há um ano, Eduardo Avides Moreira delineou quatro objetivos.

1. Resolver a questão das infraestruturas
2. Subida de divisão aos nacionais até 2023
3. Duplicar o número de sócios e chegar aos 1000
4. Certificar o clube como entidade formadora

O Futebol Clube da Foz respira saúde - «encontrei um clube bem gerido, com as contas perfeitamente em dia» -, mas é nesta altura um organismo excessivo para a esconsa casa que possui. O problema arrasta-se, no mínimo, há 25 anos e obriga a equipa sénior a jogar sempre fora. A ‘Ervilha’ nem medidas oficiais tem para jogos da divisão da Elite.

«Fizemos um jantar em 1995 com o presidente da câmara da altura, o dr. Fernando Gomes, no antigo Twins. Lá fomos nós de fraque», lembra o tesoureiro e um grande 'fozeiro', Adelino Sá.

«Havia a hipótese de o campo novo avançar, mas os terrenos privados que rodeiam o campo foram um obstáculo. A autarquia optou por renovar o campo do Pasteleira. 25 anos depois, estamos na mesma.»

O velhinho Campo da Ervilha já não pode receber os jogos do FC Foz

Ano após ano, elenco camarário após elenco camarário, o Foz acreditou ser possível ter uma casa nova. A frustração da espera é normal.

«No mandato do eng. Nuno Cardoso as coisas estavam bem encaminhadas. Não deu em nada. Depois esteve aqui o dr. Rui Rio. Fomos visitados também pelos doutores Luís Filipe Menezes e Rui Moreira em ações de campanha. As promessas não se concretizaram. E o mais triste é que não seria difícil, havendo bom senso, equilíbrio e vontade em resolver os assuntos», lamenta Adelino Sá.

Eduardo Avides Moreira não perde, porém, o otimismo. «As coisas não estão paradas e há vontade por parte da autarquia em ajudar. Joguei alguns anos futebol e futsal federado, vi muitos jogos de futebol pelo distrito do Porto, vimos fazer tanta coisa e só nós é que temos o azar de não conseguir. Estou certo de que é um projecto vencedor. As pessoas não percebem as razões para o FC Foz não ter um campo impecável também. Temos de resolver isto..»

«O clube tem terrenos, ainda que pequenos, mas há também privados e tem de haver negociação entre proprietários e autarquia o que é muito complexo. O objetivo do FC Foz é que a câmara possa adquirir esses terrenos, cedê-los ao clube e arrancar com as obras e implementar o projeto. Um campo com medidas oficiais, um pavilhão, um campo de treinos. A nossa parceria com o FC Porto na formação prevê esse crescimento.»

A situação é ingrata e aumenta o grau de heroísmo dos feitos da equipa sénior em campo. «Há dois anos tivemos de jogar em cinco concelhos na condição de visitados. Esta época conseguimos jogar mais vezes no Inatel e agradecemos desde já a colaboração da Ágora - Cultura e Desporto, antiga Porto Lazer. Só admito que o clube se endivide numa situação: investimento em infraestruturas, projeto a longo prazo. É como contrair um empréstimo para comprar uma casa, financiamentos para custear a atividade operacional não. Esse é um dos grandes males que afeta o futebol.»

FC Porto gere a formação de 288 atletas no campo do Foz

A parceria com o FC Porto supracitada por Eduardo Avides Moreira envolve 288 jovens futebolistas e estende-se até aos sub19. É «uma fonte de receita essencial» e implica «dinamismo e profissionalismo».

Há uma «excelente parceria», todas as equipas têm treinadores da Dragon Force e aplicam as metodologias definidas por esta «conceituada escola». Até aos 14 anos os equipamentos de treino são azuis e brancos, mas ao fim-de-semana quem entra em campo é a camisola e o emblema do Futebol Clube da Foz.

«Todas as equipas da formação estarão na I divisão distrital em 2020/21. Além das nossas camadas jovens ainda há a escola aberta, que envolve 100 crianças. Infelizmente, já não temos espaço para mais atletas. Temos 530 sócios pagantes, vivemos numa zona privilegiada e há muitas pessoas aqui vizinhas que nos podem ajudar.»

A luta pela subida ao Campeonato de Portugal, a luta pelo direito a ter casa apropriada. Duas batalhas no presente do popular Foz.