Há coincidências incríveis que fazem ótimas histórias e este é um caso que encaixa perfeitamente nesta categoria. Nuno Viseu e Diogo Viseu são pai e filho e também, ambos, guarda-redes de futebol. No último fim de semana conseguiram, em dias consecutivos, a proeza de marcar um golo. Não foi combinado e nem sequer sabiam do feito um do outro até começarem a contar. O futebol tem estas passagens quase surreais...

A história foi revelada no site «O Mundo dos Guarda-redes» e o Maisfutebol não ficou indiferente. Conversou com os dois protagonistas para perceber todos os contornos.

Vamos então a isso. Tudo começou no último sábado, no jogo de juniores da Académica-SF, o clube de futebol da Associação Académica de Coimbra, contra o Sepins. Que se tornou num verdadeiro festival com goleada de 14-0.

Deu para tudo e o guarda-redes, Diogo Viseu, de 17 anos, aproveitou para fazer o gosto ao pé. «Não foi a primeira vez que marquei. Aliás, quando jogava no Condeixa até batia livres. Não sei bem quanto estava, mas já eram seis ou sete zero», conta.

O jogo foi, então, no sábado de tarde. Ao contrário do habitual, o pai, Nuno Viseu, que costuma, no mínimo, ligar ao filho (não vivem juntos) quando não pode assistir no local aos jogos, acabou por não fazer o contacto.

«É uma daquelas coincidências enormes. Eu ligo quase sempre, mas naquele dia não o fiz. Por isso, no domingo, quando entrei em campo não sabia que ele tinha marcado. No final do jogo pensei logo em ligar-lhe para lhe contar. E, de forma incrível, estava eu a contar-lhe que marquei um golo e ele responde que também tinha marcado. Até me vieram as lágrimas aos olhos. Foi incrível. Um arrepio enorme», conta.

Ao contrário do filho, Nuno Viseu não tem por hábito marcar golos. «Foi o primeiro da carreira», conta. Aos 44 anos e já a caminhar para o dia em que irá pendurar as luvas, assume que era uma das metas que ainda tinha em mente antes de deixar de jogar.

Queria marcar um golo num jogo oficial, mas não era fácil convencer o treinador. «No jogo contra o Sp. Pombal o nosso marcador habitual falhou e voltei a sugerir ser eu a marcar. Acho que tenho frieza para isso. Durante um treino falei com o treinador e ele disse-me: ‘marcas três penáltis, se forem os três da mesma forma e com sucesso és tu que bates’. Meti todas na baliza e ficou decidido que o próximo era meu», descreve.

Nuno Viseu (Foto: Facebook pessoal)

Ao contrário do jogo do filho Diogo, que estava completamente desequilibrado, o golo de Nuno Viseu permitiu dar a vitória ao GD Pelariga, no jogo com o líder da Divisão de Honda da AF Leiria, o Marinhense. Triunfo por 2-1. «Hoje sou o herói pelo golo que marquei e ninguém se lembra que o jogo é decidido numa defesa que faço a cinco minutos do fim que poderia ter dado o empate», brinca.

Vida de guarda-redes…

Pai ou filho: quem é o melhor?

Diogo Viseu tem ainda o futuro e uma eventual carreira nas balizas à sua frente. «Comecei por ser ponta de lança. Talvez seja daí que vem o bichinho por marcar golos», atira entre risos.

Acredita que, com os conselhos do pai, poderá um dia ter uma carreira até superior à de Nuno, que teve como limite a II Divisão B, terceiro escalão do futebol português. «Na idade dele, é muito melhor que eu. Só tem um problema: é ligeiramente baixo e isso pesa para muita gente», lamenta o pai Nuno, que sempre detetou qualidades no filho desde que este lhe pediu «umas luvas e umas calças» para experimentar a baliza.

Os ídolos de Diogo Viseu são Buffon e Van der Sar. Ainda brincamos com a hipótese Rogério Ceni, pelo prazer em marcar, mas sublinha um aspeto: «Gosto de marcar, mas preocupo-me mais em defender.»

Diogo Viseu (Foto: Facebook pessoal)

Nuno Viseu, que descobriu mais tarde a paixão pelos golos, conta uma passagem interessante na hora de cobrar a grande penalidade: «Quando olhei para a baliza, parecia que era de hóquei em patins!».

«Percebi ali a dificuldade que é. Consegui pôr-me na pele das pessoas que falham», assume.

O dia em que Nuno Viseu treinou com Jesus e defendeu penáltis de Baroni

Com Diogo Viseu ainda a dar os primeiros passos e a fazer as primeiras defesas na carreira, é o pai quem tem mais histórias para contar. Uma delas é, deveras, curiosa.

«Fui treinar ao Felgueiras, quando estava na Liga. Foi a grande oportunidade da minha carreira», conta.

Estávamos em 1995/96, na reta final da época. Nuno Viseu é amigo pessoal de Sérgio Conceição que dava nas vistas no Felgueiras orientado por…Jorge Jesus. Arranjou-lhe um período à experiência com o grupo que lutava pela manutenção. A ideia era mostrar-se para integrar o plantel do ano seguinte.

«Fiz o mais difícil que foi agradar ao Jesus, mas depois a equipa desceu, ele foi embora, vieram os problemas financeiros e foi tudo por água abaixo. Até tinha salário acertado. Ia ganhar 900 contos, salvo erro. Na altura estava no Sp. Pombal a ganhar 200», recorda.

A equipa do Felgueiras, que nunca mais voltou à Liga, tinha algumas figuras marcantes da década de 90 no futebol português. Além de Conceição, também Lewis, Bozinovski ou Baroni.

«Olhe, defendi dois penáltis do Baroni», conta Nuno Viseu, entre risos, para fim de conversa.