Títulos, títulos e mais títulos.

Letras gordas.

Destaque em primeiras páginas.

«Sporting faz história e apura-se para os oitavos da Champions»

«Gilberto Duarte sagra-se campeão espanhol pelo Barcelona»

«Rugido do leão assusta gigante europeu na Liga dos Campeões»

«Portugal consegue vitória histórica contra a França»

«Madeira SAD apura-se para final da Taça Challenge e vai defrontar equipa do selecionador nacional»

«FC Porto faz história e apura-se para a final-four da Taça EHF»

«Seleção portuguesa volta à fase final de um Europeu, 14 anos depois»

«Portugal com duas equipas na fase de grupos da Liga dos Campeões pela primeira vez»

«Seleção portuguesa de sub-21 nas meias-finais do Mundial»

«Seleção de sub-19 apura-se para as meias-finais do Mundial»

«FC Porto vence campeão europeu de 2016 na Champions»

«FC Porto consegue vitória histórica em casa do Kiel»

«FC Porto volta a brilhar e vence em casa do campeão europeu de há dois anos»

«Sporting garante apuramento na Champions pelo segundo ano consecutivo»

«Benfica apura-se para a fase de grupos da Taça EHF»

O último ano do andebol português tem banalizado palavras como «histórico», ou «incrível» e obrigado a que se deixe de utilizar o termo «surpreendente».

As equipas portuguesas têm brilhado na Europa, chamando a atenção com vitórias que há não muito tempo poderiam ser consideradas imprevisíveis, mas que se têm tornado cada vez mais comuns.

A juntar a isso, em janeiro dá-se o regresso de Portugal à fase final de uma grande competição, algo que não acontecia desde 2006. E também nas seleções mais jovens o verão de 2019 foi particularmente positivo, com as equipas de sub-19 e sub-21 a ficarem às portas da final dos mundiais das respetivas categorias.

Afinal, que revolução é esta que vive o andebol português? A que se deve o sucesso recente? Como se tem visto o crescimento da modalidade em termos internacionais por essa Europa fora? Será este o melhor momento de sempre do andebol português?

O Maisfutebol foi à procura dessas respostas junto de alguns dos protagonistas dos feitos que abrem este texto.

Os treinadores de Benfica, FC Porto e Sporting explicam-nos como têm vivido esta fase, tal como o selecionador nacional, e ainda Pedro Portela, internacional português que joga em França, num dos principais campeonatos do mundo.

A acordar de um sono longo e profundo

Sim, o andebol português vive um bom momento, mas ainda longe do que aconteceu na década de 90. Essa é a convicção de Carlos Resende, treinador do Benfica e considerado por muitos como o melhor andebolista português de sempre.

«Se olharmos para os anos 90, vemos que o ABC foi à final da Liga dos Campeões [1993-1994]. No ano seguinte chegámos aos quartos de final e no outro também. Depois, no ano em que não fomos à Liga dos Campeões, fomos às meias-finais da Taça EHF, e no ano seguinte voltámos aos quartos da Liga dos Campeões», sublinha Resende, afastando sinais de euforia.

«Eu fui o melhor marcador da Liga dos Campeões em dois anos consecutivos, o que só foi possível porque fizemos muitos jogos na competição», reforça o antigo primeira-linha, lembrando um outro dado relevante: «naquela altura íamos constantemente aos Campeonatos do Mundo e da Europa.»

Ideia semelhante é defendida, de resto, por Paulo Jorge Pereira, atual selecionador português.

«Na década de 90 a seleção atingiu um nível excelente e tivemos o ABC na final da Liga dos Campeões, além de um FC Porto também muito forte.  Agora, após um período grande de adormecimento, voltamos a atingir um excelente nível, com o regresso da seleção a uma fase final», orgulha-se, elogiando também os bons desempenhos das equipas portuguesas nas competições europeias.

O selecionador português aponta também uma outra situação semelhante com a década de 90: as naturalizações na seleção.

«À semelhança do que também já tinha acontecido na década de 90, na altura com jogadores russos, agora tivemos algumas naturalizações de jogadores cubanos e é inegável que isso veio trazer mais-valias em termos de peso, altura e agressividade», defende, vendo nessa situação um fator decisivo para o aumento do nível da seleção. «Acredito que sem isso, teria sido mais difícil ter chegado a uma fase final nesta altura.»

«Agora as pessoas entendem o porquê de ter escolhido Portugal»

Mas afinal, o que está a acontecer no andebol português?

«É engraçado que acabaram de me ligar do jornal L’Equipe para me fazerem exatamente a mesma pergunta», responde com um enorme sorriso Thierry Anti, treinador francês do Sporting, que escolheu Portugal para primeira experiência no estrangeiro, apenas um ano depois de ter levado o Nantes à final da Liga dos Campeões.

Thierry Anti levou o Nantes à final da Champions e um ano depois escolheu vir treinar o Sporting

Aliás, a chegada de um técnico tão reputado no andebol europeu pode ser considerado outro sinal do bom momento que a modalidade atravessa em Portugal. Até porque não é caso único, tendo em conta que um ano antes tinha sido Magnus Andersson a trocar o campeonato alemão, considerado o mais forte do mundo, por Portugal, para devolver o FC Porto aos títulos nacionais.

«Desde há dois ou três anos que eu andava de olho em jovens jogadores portugueses: [André] Gomes, Miguel Martins, [Alexandre] Cavalcanti… O [Luís] Frade, que agora é meu jogador. Já andava atento ao andebol português porque via grande potencial», admite Anti.

Nesse sentido, finda a ligação ao Nantes, e apesar de ter propostas da Alemanha - «mas para andar pelo 5.º ou 6.º lugar» -, o treinador francês não hesitou em optar por vir lutar pelo título em Portugal, ainda para mais com a oportunidade de continuar a disputar a Liga dos Campeões.

Mas será que a opção por um campeonato menos conceituado surpreendeu as pessoas mais próximas?

«Não, porque comigo é sempre uma surpresa. Todos me conhecem por ser surpreendente. Foi uma surpresa e não foi: porque foi uma coisa do Thierry. E o Thierry pode fazer qualquer coisa», responde numa gargalhada.

«Mas agora, claro: em França há muita, muita gente a falar do andebol português. Agora as pessoas entendem a razão pela qual eu escolhi vir para Portugal. E há muita gente a ligar: ‘consegues encontrar-me um lateral-esquerdo, não muito caro, que possa jogar no ataque e na defesa…?’. Eu tenho de dizer ‘ei, calma, eu não sou empresário», confidencia, entre mais sorrisos.

Também Magnus Andersson revela que passou mais ou menos pela mesma situação cerca de um ano antes, ao mesmo tempo que admite que também foi convencido em parte pelo talento que sabia existir em Portugal.

«Quando era treinador do Goppigen joguei contra o FC Porto e sabia que havia muitos jogadores talentosos na equipa. E mesmo os meus amigos não acharam que eu estava a fazer uma opção errada. Ficaram impressionados, mas contentes pela minha escolha», assume o treinador sueco dos dragões.

Magnus Andersson está na segunda época ao serviço do FC Porto e chegou do campeonato alemão

«É mais barato ter uma equipa de andebol na Champions do que no futebol»

Também Paulo Jorge Pereira testemunha que os resultados do andebol nacional têm suscitado curiosidade além-fronteiras.

«Lá fora fazem-me a mesma pergunta: ‘o que é que está a acontecer em Portugal, tanto nos clubes como na seleção?’. E aquilo que digo é que são muitos fatores. Desde logo, os clubes têm feito um investimento maior no andebol, tal como a federação», resume.

Investimento. Essa é a palavra-chave, na opinião de Carlos Resende.

«Sem dúvida que este bom momento se deve ao grande investimento que Benfica, Sporting e FC Porto têm feito nos últimos anos. Têm dotado as equipas com excelentes plantéis e isso tem tido resultados, como mostra a boa campanha que o FC Porto fez no ano passado e está a fazer neste; com a boa campanha que o Sporting fez na Liga dos Campeões da época passada, só tendo sido eliminado pelo Veszprem, que depois foi à final, e que está a fazer este ano; e também por uma campanha que pode vir a ser bastante boa do Benfica na EHF desta época; ou pelo que o Madeira SAD fez na época passada na Taça Challenge», defende.

Para o treinador do Benfica, a principal diferença para o que já foi conseguido no passado acontece ao nível da seleção.

«A grande diferença está no facto de o último apuramento ter sido quando eu ainda jogava. Agora, finalmente, conseguimos voltar uma fase a final. E com um treinador português. Por isso, são muitos fatores a provar que o andebol português está de novo na rota dos bons resultados», nota.

Carlos Resende foi eleito para o sete ideal do Europeu de 2000

Mas se há uma dependência tão grande do investimento, e tendo em conta as reduções orçamentais que já se registaram na modalidade num passado não muito longínquo, será viável que as equipas portuguesas continuem a investir como têm feito nos últimos anos?

Para Carlos Resende a resposta é simples. E traduz-se em resultados. «Se os clubes fazem investimentos e sentem que ele dá algum retorno, acho que é uma motivação para continuarem a investir. E também por isso estes resultados são positivos.»

«Se as equipas continuarem a ter este tipo de investimento nas modalidades, eu diria que até é mais fácil do que obter bons resultados no futebol. Ficará francamente mais barato ter bons resultados numa Liga dos Campeões de andebol do que no futebol», diz Resende, ainda que reconhecendo distâncias.

«Claro que temos de reconhecer a grande diferença que existe. Este pavilhão leva 1500 pessoas e nem sempre enche, enquanto o nosso estádio de futebol tem 60 mil lugares e enche muitas vezes. O mercado é completamente diferente, mas como pessoa do andebol, quanto mais equipas tiverem financiamentos elevados, mais vou ficar satisfeito», aponta.

«Só três equipas podem ser campeãs, isso não é bom»

A opinião de Thierry Anti vai exatamente no mesmo sentido do de Carlos Resende. Ele que recorda que o campeonato francês viveu uma situação semelhante no início do século.

«Tudo é uma questão de orçamento. De dinheiro. São necessários parceiros, ter mais gente nos pavilhões, mais gente a pagar bilhetes e chamar grandes patrocinadores. Em França começámos assim também. Depois fomos crescendo, crescendo…», recorda, apontando, desde logo, um ponto que é necessário mudar urgentemente.

«Em Portugal há muito bons jovens jogadores, mas se querem ser mais fortes no futuro, terá de se construir uma Liga mais forte. Neste momento o campeonato tem 14 equipas, mas a maioria não luta para ser campeã. Não têm todas as mesmas condições para treinar. Talvez só FC Porto, Benfica e Sporting possam ser campeões. E isso, na minha opinião, não é bom para o campeonato», defende, voltando ao exemplo gaulês.

«Atualmente o orçamento mínimo no campeonato francês é de 2,5 milhões de euros. Se uma equipa não tiver 2,5 milhões de euros, um excelente pavilhão, não apostar e comunicação, marketing, não pode jogar na primeira divisão. E têm de ter um mínimo de 12 jogadores profissionais», enaltece, recordando a entreajuda que teve de existir entre os clubes franceses para que o campeonato gaulês chegasse ao nível que hoje apresenta.

«Eu estava lá quando criámos a liga profissional em 2002. Trabalhámos nela durante dois anos e ela arrancou em 2004, oficialmente. E para isso acontecer, os 14 clubes que a compunham tiveram de se ajudar entre eles para crescerem juntos», sublinha.

Também Paulo Jorge Pereira aponta o mesmo fator como algo a melhorar para que se continuem a dar passos seguros no crescimento da modalidade.

«O desnível do campeonato espelha um pouco o que é o nosso país, não só no andebol, mas em todas as modalidades. Os três grandes têm investimentos grandes, mas é difícil aos restantes clubes lutarem contra as armas deles. E a competição sai prejudicada por esse desnível», refere, ainda que veja algumas pequenas mudanças a começar a surgir.

Porém, quando confrontado com as palavras de Thierry Anti, o selecionador nacional aponta as diferenças brutais que existem entre os campeonatos português e francês.

«Seria excecional que se conseguisse fazer o mesmo em Portugal, mas estamos longe disso. Há pouco tempo estive em França a assistir um jogo e no final, mais de 1000 pessoas ficaram para jantar. Um jantar a pagar. Estamos a falar de um jogo normal de campeonato, que é transformado num evento em que as pessoas ficam depois da partida para conviver num meio de andebol, com os jogadores, treinadores. Mas por trás disso existe todo um trabalho de marketing e uma cultura diferente», realça.

«Em Portugal as pessoas se têm de pagar cinco euros para assistir a um jogo, já não vão. Ali pagam 15 euros para ver o jogo e ainda mais 10 para um jantar em pé, porque existe outra envolvência. Por isso, a única solução que vejo é que consigamos produzir melhores espetáculos», receita.

«Ganhámos o respeito de todos os que seguem o andebol»

É precisamente em França que encontramos Pedro Portela, ponta direita português, que há duas épocas trocou o Sporting pelo Tremblay.

E o jogador de 29 anos confirma: o eco do bom momento do andebol português faz-se ouvir num dos campeonatos mais fortes do mundo.

«As pessoas de fora de Portugal começam a olhar para o andebol português de outra forma. Nota-se que ganhámos o respeito de quem segue o andebol. Os jogadores portugueses têm mostrado valor e os clubes têm feito grandes campanhas nas competições europeias nos últimos dois anos», declara Portela, afirmando-se «orgulhoso» pelo reconhecimento internacional, ainda para mais num país onde o andebol é tão forte.

Portela representa os franceses do Tremblay há duas épocas

«Tem-se falado das vitórias do Sporting e do FC Porto na Liga dos Campeões, sobretudo a do FC Porto aqui com o Montepellier e em casa do Kiel. Em França o andebol é uma dos desportos com maior importância, existe uma grande cultura da modalidade, por isso é normal que se fale do crescimento do andebol português. Estamos claramente a chamar a atenção», reconhece.

Também na quantidade de jogadores lusos nos melhores campeonatos, a realidade é diferente agora da que se viveu nos 90, ainda que neste caso com vantagem para aquilo que acontece atualmente.

Enquanto jogador, Carlos Resende optou sempre por manter-se em Portugal, ao contrário de um ou outro jogador da mesma geração, que teve experiências com relativo sucesso, como foram os casos de Eduardo Coelho ou Ricardo Andorinho.

Por isso, o treinador das águias vê como positivo que mais jogadores portugueses saiam para jogar nos melhores campeonatos, ainda que não aponte claramente se isso é causa ou consequência do bom momento do andebol luso.

«É causa e consequência. Há uns anos, as equipas portuguesas baixaram bastante os investimentos e a saída foi uma forma que os jogadores portugueses encontraram para conseguir lá fora aquilo que não conseguiam cá. Mas quando ouvimos o Patrice Canayer, treinador do Montpellier, e o Thierry Anti a dizerem que os jogadores portugueses têm muita qualidade – estamos a falar dos finalistas da Liga dos Campeões de 2018 -, tem uma expressão diferente de ser eu a dizê-lo várias vezes», admite, enaltecendo a boa imagem que têm os atletas portugueses atualmente.

Contudo, a mudança no que diz respeito aos jogadores, acredita Paulo Jorge Pereira, foi também mental. «Não consigo identificar concretamente o momento do clique, mas a determinada altura começámos a acreditar que podemos jogar olhos nos olhos com os jogadores de grande nível europeu. Houve uma evolução mental dos nossos jogadores, que deixaram de olhar a nomes e a não temer defrontar quem quer que fosse», diz, assumindo que a presença de mais jogadores nos melhores campeonatos terá contribuído para isso.

«O contacto com os melhores, ajuda-os a perceber que estão realmente ao nível deles e a confiarem cada vez mais nas capacidades que têm», elogia.

Duas potências pela frente depois deixar a Europa de boca aberta

A 13 de junho de 2019, os amantes do andebol receberam uma notícia pela qual ansiavam há demasiado tempo. Mais de uma década depois, a seleção portuguesa ia voltar aos grandes palcos, neste caso o Europeu que se vai jogar na Áustria, Suécia e Noruega.

Esse foi o culminar de um percurso que se percebera meses antes que seria uma realidade. Quando, em abril, Portugal venceu a seleção francesa em Guimarães, ainda para mais da forma como o fez, por seis golos de diferença (33-27), a Europa do andebol abriu a boca de espanto.

Depois de ter vencido França no apuramento, Portugal volta a defrontar os gauleses, desta vez sem Gilber Duarte, que vai falhar o Europeu por lesão

Na bancada, precisamente com a mesma reação, estava Thierry Anti, então ainda longe de imaginar que estaria a treinar em Portugal meses depois.

«Eu estava lá e foi uma surpresa ao longo o jogo. Durante os primeiros 10 minutos, Portugal não acreditou realmente que podia vencer, e a França achou que seria fácil. Mas a determinada altura, talvez perto dos 15 minutos, as coisas mudaram na cabeça de muitos jogadores. Talvez muita gente tenha acreditado que depois do intervalo a França iria dar a volta, mas isso não aconteceu. E Portugal jogou muito bem, com uma grande exibição do guarda-redes, e a França jogou muito mal – desculpem dizê-lo», defende Anti.

«Em França esse resultado foi um grande acontecimento aqui em Portugal também, e um pouco por toda a Europa», reforça o técnico francês.

Em França, o impacto foi sentido por Pedro Portela, que acredita que só agora o público da modalidade começa a entender que aquele não foi um resultado do acaso.

«Ninguém acreditava que podíamos ganhar à seleção francesa, foi algo muito surpreendente. Mas agora, vendo o nível que as equipas portuguesas têm apresentado, as pessoas começam a perceber que foi algo natural. Sinto que neste momento, em França, se respeita muito mais Portugal. Antes metiam-se algumas vezes comigo, mas agora já não se aventuram tanto», confessa.

Quis o sorteio da fase final do Campeonato da Europa que Portugal, além de apanhar a anfitriã e vice-campeã do mundo Noruega, voltasse a ter de defrontar a seleção dos irmãos Karabatic, de Luc Abalo, Valentin Porte, Sorhaindo, Ludovic Fabregas, entre tantos outros nomes sonantes da modalidade.

Mas agora há uma diferença: o respeito pela equipa portuguesa vai ser muito maior.

«Agora a seleção francesa sabe com o que contar. Por isso, não acredito que possa acontecer uma segunda vez», defende Thierry Anti, ainda que lembrando que é um jogo único «e Portugal também sabe que pode ganhar».

Ainda assim, o treinador do Sporting vê muito complicada a tarefa de Portugal, num grupo em que há ainda a vice-campeã do Mundo Noruega e a Bósnia, uma estreante nestas andanças.

«Com essas equipas, acredito que vai ser muito difícil para Portugal. Na minha opinião, vai depender do jogo contra França. Mais do que contra a Noruega»

E Anti fundamenta a opinião: «A Noruega joga em casa, tem praticado um excelente andebol, tem dois ou três jogadores que fazem muita diferença. Acho que em casa vai ser difícil de derrotar.»

A mesma opinião é partilhada por Magnus Andersson que realça a dificuldade que se antevê que Portugal vá enfrentar.

«É um grupo mesmo muito, muito complicado, incluindo a Bósnia. E é uma fase em que é difícil surpreender as maiores seleções», analisa, ainda que deixe o desejo «que Portugal consiga, apesar dessas dificuldades.»

Não obstante considerar que França e Noruega são favoritos a chegar à main round, são muitos os elogios de Thierry Anti para a equipa lusa.

«No alto nível, para ter sucesso o que é preciso ter? Primeiro de tudo, um grande guarda-redes: e acho que Portugal tem dois excelentes guarda-redes, que podem decidir um jogo; depois é preciso ter uma defesa forte, e Portugal já mostrou que consegue ter uma defesa forte; e claro, no ataque, quem sabe? Talvez vá depender da eficácia do jogo 7x6. Mais do que do 6x6, em que acho que Portugal não é assim tão forte», defende.

«O apuramento para o Euro não pode ser prémio suficiente»

Mas e o que acha o selecionador nacional do desafio que Portugal terá pela frente no Europeu?

Paulo Jorge Pereira 'devolveu' a seleção portuguesa à fase final de um Europeu

Desde logo, Paulo Jorge Pereira deixa claro que não se pode voltar a pensar baixinho.

«O apuramento não pode ser visto como um prémio suficiente. Temos de mudar essa mentalidade. Nós vamos entrar para cumprir o nosso objetivo, que passa pelo apuramento para a segunda fase. Já tínhamos definido esse objetivo antes do sorteio e não o vamos alterar», começa por sublinhar, antecipando uma seleção francesa de olhos abertos no primeiro jogo do Euro.

«Depois de ter perdido connosco na qualificação, provavelmente a França virá com tudo. Mas vai lembrar-se desse jogo e sentir que nós podemos ganhar. Isso pode ser bom ou mau para nós, mas é um jogo: tudo pode acontecer», atesta.

«Claro que não somos parvos. Estamos num grupo com o 2.º e o 3.º classificados do último Mundial, por isso sabemos que será ainda mais difícil. Além disso, se calhar este não era o melhor Europeu para Portugal regressar, porque acontece em ano de Jogos Olímpicos. Noruega e França têm sempre aspiração a estar nos JO, por isso vão apostar forte», continua, sem se deixar atemorizar, contudo.

«Mas esse cenário também torna as coisas mais apetecíveis para nós.  E aquilo que posso garantir é que vamos tentar continuar a chamar a atenção para o andebol português», conclui.

É uma revolução que continua em marcha, portanto. «Histórico» e «surpreendente» são palavras para se manterem longe do léxico das notícias sobre o andebol português.