Por David Marques e Pedro Lourenço Jorge

Ainda faltava uma hora para o início de todas as decisões e o Parque Eduardo VII, um dos pontos de Lisboa onde o Mundial se tem vivido com maior intensidade, estava composto. Sinal de que os portugueses – pelo menos os que ali estavam – acreditavam que os planetas pudessem alinhar-se (leia-se, Portugal ter uma tarde inspirada e contar com uma vitória folgada da Alemanha) no final do 90 minutos e, assim, Portugal fosse capaz de realizar o milagre de se apurar para os oitavos-de-final do Campeonato do Mundo. João Botas, animador dos jogos da equipa das quinas, dava voz à réstia de esperança que ainda residia no íntimo de muitos adeptos. «O povo acredita e é perfeitamente possível que a Alemanha ganhe por 3-0 e nós por 2-0. Em Portugal, nada se fez sem sacrifício. Desde os descobrimentos», sublinhava. 

Norueguesas a torcer pelo Gana:

Os estrangeiros mais tímidos e que gostam pouco da confusão subiram o parque e deitaram-se no inicio do jardim para aproveitarem o sol enquanto assistiam à partida no Futebol Park de forma descontraída. A maioria estava por Portugal, mas havia também quem torcesse pelo Gana. É o caso de Ingrid e Linda. O Maisfutebol foi ao encontro destas duas amigas norueguesas que estão de férias em Lisboa por uma semana e que esperavam a vitória da seleção do Gana. Isto porque o namorado da irmã de Linda é Adam Kwarasey, guarda-redes suplente da seleção ganesa. O guardião de 26 anos nasceu em Oslo, na Noruega, mas é filho de um ganês e, por isso, optou por representar o Gana. 
 
«Viemos pela diversão», dizem as duas amigas, que admitem não ser fãs de futebol. «Estamos aqui para torcer pelo nosso amigo», revela Ingrid, que não esconde o carinho que tem pelos portugueses. «Se ganharem também não ficamos chateadas.» Até agora têm gostado da estadia. «Fomos ao castelo e gostamos de tudo: das pessoas, da vista e dos bons restaurantes.»

Americano quer qualificação da Alemanha e Gana:

Em pleno jardim do Goethe Institut (Instituto Alemão) foi instalado um ecrã gigante, onde foi transmitido o jogo entre Alemanha e Estados Unidos, que reuniu as atenções de cerca de uma centena de alemães e outros simpatizantes. Na parte de trás do jardim foi colocado um televisor, que transmitiu o outro encontro do Grupo G, entre Portugal e Gana, com uma franja de adeptos mais reduzida. Foi aqui que o Maisfutebol encontrou um americano que não torcia pela seleção dos Estados Unidos. Chuck, de seu nome, queria a qualificação da Alemanha e do Gana. 
 
Chuck é do Colorado e sofre pela «Mannschaft». «Vivi na Alemanha durante bastante tempo e fiquei aficionado com o futebol de lá. E vou torcer pela Alemanha contra o meu próprio pais. Não conheço nenhum dos jogadores americanos. Porque é que eu haveria de ver o jogo deles?» 

O americano trabalha em Portugal há oito anos e não considera que a seleção dos Estados Unidos seja competitiva para este Mundial de futebol. «Nunca seremos bons nisto», afirmou de forma pragmática. «É o quinto desporto na América, e como não há dinheiro investido como no futebol americano e basebol, nunca seremos melhores do que uma Bélgica.» Em relação a Cristiano Ronaldo, foi peremptório. «É uma desilusão que o melhor jogador do mundo não vá estar nos oitavos-de-final.» Chuck não acha, no entanto, que esta seleção portuguesa mereça passar à próxima fase. «Estava à espera de mais do Ronaldo, mas, para além do Fábio Coentrão, o resto da equipa é bastante medíocre». 
 
Os golos de Portugal fizeram acreditar os portugueses que assistiam ao encontro junto ao Marquês de Pombal. Mas quem seguiu em frente foi a Alemanha e os Estados Unidos.

Alguns minutos depois do apito final do árbitro, um casal destacava-se no centro do Parque Eduardo VII. Ele, de boné na cabeça e cachecol de Portugal ao pescoço; ela, brasileira, com uma camisola da canarinha. Era o primeiro jogo que assistiam ali, o último da selecção no Mundial do Brasil. «Faltou mais convicção, principalmente no jogo com os Estados Unidos, que era o mais importante, e o Cristiano Ronaldo teve hoje a tarefa de conseguir o que era quase impossível. O Paulo Bento tem contrato por mais dois anos e não penso que as coisas melhorem se ele sair. Mas deve promover uma renovação na selecção», alertava.

Carlos era outro português vestido a rigor. Parecia ainda desiludido com a falha da qualificação aos «oitavos».
«Portugal jogou bem (hoje), mas não merecíamos ter passado. São três jogos e é preciso merecê-los em todos para conquistar os pontos (para passar à próxima fase)», exclamou desalentado. 
 
Afirma que o futuro da seleção passa por uma renovação. «Paulo Bento tem de sair.» O setor do meio-campo é o que mais o indignou: «Jogadores com Meireles (Raul), Veloso (Miguel) não deviam continuar na seleção. É preciso lançar novos jogadores». Quanto a Cristiano Ronaldo, «continua a ser o melhor do mundo», declarou sem dúvidas.

«Ganhámos o jogo, mas foi tarde demais. Não conseguimos dar a volta ao goal average», lamentava-se o speaker no rescaldo do jogo. João Botas ainda acreditou num milagre depois de Ronaldo ter feito o 2-1 quando ainda faltava dez minutos para jogar. «Estava toda a gente com esperança, mas a verdade é que as lesões traíram toda a gente. De quem é a culpa? Não sei se é dos jogadores, do Paulo Bento ou do clima. Não sei responder a isso.»