A Seleção Nacional escolheu os EUA como local do estágio de preparação para o Mundial-2014.

Entre 2 e 10 de junho, nos dias imediatamente anteriores à viagem para o sonho brasileiro, os comandados de Paulo Bento farão trabalho de oito dias em solo norte-americano, com dois jogos de permeio (dia 6, com o México, no Gillette Stadium, em Boston; e com a República da Irlanda, dia 10, no MetlIfe Stadium, em New Jersey).

Mas a base da «equipa de todos nós» nos EUA será em Princeton, uma das mais prestigiadas universidades do Mundo. Os treinos poderão mesmo ser no «campus» ou, em alternativa, num recinto de treino situado a apenas dois quilómetros da universidade.

Membro do restrito lote das «Ivy League» (grupo das oito melhores universidades americanas, todas eleas com fortes ligações ao desporto, onde também se encontram Harvard e Yale), Princeton já acolheu, na sua história de mais de dois séculos e meio, três Presidentes dos EUA: James Madison (1809-1817), Woodrow Wilson (1913-1921) e John F. Kennedy (1960-1963).

Também a Primeira Dama, Michelle Robinson Obama, esposa do atual Presidente dos EUA, foi estudante em Princeton, tendo concluído a formação em Sociologia (à qual soma com o de Direito, em Harvard, tendo portando duas «Ivy League» no seu impressionante currículo).

A tese de Michelle

Michelle Obama, a popular Primeira Dama dos EUA (há muito que tem melhores índices de aprovação que o marido), foi estudante em Princeton entre 1981 e 1985.

Nessa altura, início dos anos 80 do século passado, uma jovem negra frequentar uma mais prestigiadas universidades da América, não sendo inédito, ainda era visto com uma certa desconfiança.

Natural do South Side de Chicago, zona difícil da principal cidade do Illinois, Michelle é filha de um antigo técnico de caldeiras e de uma secretária que, muito nova, ficou no desemprego e se dedicou a cuidar dos filhos.

A entrada de Michelle na «elitista» Princeton levou-a a escolher como tese de final de curso um tema bem revelador da sua própria experiência: «
Os negros educados de Princeton e a comunidade negra».

Nessa tese, Michelle, então só com o nome de solteira Robinson (só viria conhecer Obama seis anos depois, quando ambos trabalhavam na firma de advogados Sidley Austin, em Chicago), observava: «As minhas experiências em Princeton ajudaram-me a perceber a verdadeira dimensão do que é «ser negra». Descobri que, em Princeton, independentemente dos professores e colegas estudantes poderem ser liberais e com mente aberta, por vezes sinto-me como uma visitante na minha própria universidade. Como se, de algum modo, eu não pertencesse a este ambiente. Mesmo que me relacione com colegas e professores brancos, parece que sou vista, primeiro, como uma negra e, só depois, como estudante» (in «Princeton-Educated Blacks and the Black Community», Michelle Robinson, 1985).

Michelle, então com 21 anos (completou recentemente 50), viria mais tarde a concluir Direito em Harvard e tornou-se uma advogada de sucesso em Chicago. Casou em 1992 com Barack Obama e tornou-se, em janeiro de 2009, na primeira mulher negra com a função (não oficial, mas muito importante no sistema político americano, basta dizer que até tem um gabinete e uma agenda próprios na Casa Branca...) de Primeira Dama dos EUA.

Passaram, entretanto, três décadas desde a tese (crítica) de Michelle. Os EUA mudaram muito, desde aí, a forma de encarar a integração dos negros. As duas eleições presidenciais de Barack Obama serão a maior prova disso: mas haverá ainda um longo caminho a percorrer.

O que JFK escreveu sobre Princeton


Entre os três antigos presidentes americanos que constam da lista de antigo alunos de Princeton, John F. Kennedy é o que mais perdura na memória coletiva.

JFK passou apenas seis semanas na universidade que acolherá, no início de junho, os treinos da Seleção Nacional. Uma doença obrigou-o a abandonar precocemente os bancos daquela prestigiada faculdade do estado da Nova Jérsia.

Mas Kennedy quis mesmo muito juntar Princeton ao seu currículo académico, que também inclui Harvard. Na sua candidatura, escreve: «Sempre tive a ambição de entrar Princeton».

«O meu desejo de vir para Princeton funda-se num vasto conjunto de razões. Sinto que posso receber desta universidade o maior «background» possível e que posso ter uma educação o mais liberal possível», acrescentou JFK.

Kennedy apontou ainda, nessa candidatura com data de 8 de março de 1935: «Desde que estou na escola, mantenho o desejo entrar em Princeton. Sinto que o ambiente nesta universidade não fica atrás de nenhuma outra e isso só poderá ter um bom efeito em mim. Ser um «homem de Princeton» é, sem dúvida, uma distinção invejável» (John Fitzgerald Kennedy, Boston, 8 de março de 1935).

JFK tinha então 17 anos e dez meses. Já na altura, era perseguido por problemas de saúde que o viriam acompanhar até à morte, em Dallas, na sequência de um assassinato a tiro, ainda hoje por esclarecer.

Mesmo assim, por seis semanas, entre janeiro e fevereiro de 1936, «Jack» viria mesmo a frequentar Princeton, terminando abruptamente essa passagem com uma hospitalização em Boston, na altura por suspeita de leucemia.

Após a recuperação, em setembro desse ano de 1936, começaria o curso em Harvard. A carreira política começaria na década seguinte: em 1946, já depois de ter batalhado na II Guerra Mundial, ao serviço da Marinha norte-americana, JFK viria a ser membro da Câmara dos Representantes, com apenas 29 anos, e senador, com 35.

Em 1960, com apenas 43 anos, foi eleito Presidente dos EUA.

Dois séculos e meio de história

Desde 1746, data da sua fundação, a história de Princeton foi sempre diretamente ligada ao percurso da «elite» política e social norte-americana.

Além dos exemplos já referidos, houve ainda dois candidatos à presidência que perderam as respetivas eleições e passaram por Princeton: Norman M. Thomas, que tentou por seis vezes a presidência dos EUA (entre 1928 e 1948), pelo Partido Socialista (frequentou a universidade em 1905), e Adlai Stevenson, candidato do Partido Democrata em 1952 e 1956, perdendo ambas as corridas para o republicano Dwight D. Eisenhower (foi aluno em Princeton em 1922).

Forte ligação ao desporto


Princeton situa-se a meio caminho entre Filadélfia e Nova Iorque e faz parte das oito «Ivy League», grupo de elite que congrega as universidades de maior prestígio do nordeste dos Estados Unidos. O nome original do agrupamento deriva de uma antiga liga desportiva formada pelas oito instituições. Essa forte ligação ao desporto mantém-se até aos dias de hoje.

Inicialmente designada como College of New Jersey, numa alusão ao estado onde fica situada, Princeton passou a ter a sede definitiva, a partir de 1756, num edifício histórico conhecido por Nassau Hall, construído nas terras então doadas por Nathaniel Fitz Randolph. O edifício, que foi temporariamente a capital dos EUA, em 1783, abrigou todos os cursos oferecidos pela universidade durante meio século.

Nos dia de hoje, é uma referência em áreas como matemática, física e astronomia, economia, história e filosofia. Alberga cerca de oito mil alunos (5.200 a tirar curso superior, cerca 2.600 em pós-graduações), e mais de mil professores, instrutores e «fellows».

A importância do desporto em Princeton é facilmente demonstrável com números: a universidade tem equipas 37 modalidades diferentes. Nelas podem participar estudantes da instituição, independentemente dos seus «skills» atléticos, de modo a desenvolver áreas como a liderança, o espírito competitivo e o companheirismo.

A filosofia do Programa Desportivo de Princeton é a de «consolidar os melhores elementos da competição, instrução e recreação», pode ler-se no site oficial da universidade.

As equipas de Princeton competem com equipas homólogas de outras universidades americanas.