Portugal tem uma selecção de futebol de rua que vai participar no III Mundial dos sem-abrigo, na Escócia, de 19 a 24 de Julho, e até foram divulgados, esta terça-feira, os oito jogadores convocados pelo treinador João Barnabé, ex-jogador do Sporting e antigo seleccionador. Luiz Felipe Scolari também esteve presente para entregar as camisolas aos atletas, que realizaram o seu primeiro treino de preparação e sorriram por sentirem que há um sítio em que eles são o mais importante.
Muitos nem deram pela existência do primeiro campeonato nacional de futebol de rua, que decorreu no dia 5, mas nele participaram representantes dos concelhos da Amadora, Mafra, Sintra e Lisboa. A prova foi ganha pela Amadora, concelho que dá mais atletas à selecção nacional, quatro. Todos os elementos pertencem a projectos de intervenção de instituições sociais dos concelhos participantes. São pessoas que passaram pela rua ou por «situações de rua». Ou seja, viveram/vivem em bairros de lata.
Este Mundial não se rege segundo as mesmas regras do futebol de onze ou as competições que todos conhecem. Isso também não é o mais importante. A mensagem deixada por Paulo Marques, coordenador do futebol de rua da «Cais», e por João Barnabé, seleccionador, aponta para a necessidade de integrar as pessoas, fazer com que sintam que fazem parte da sociedade e que também são importantes. Todos querem ver estes jovens, e alguns não tão jovens, a sorrir. Querem que exista a possibilidade de concretizar sonhos.
João Barnabé lembrou que «o futebol dos milhões chegou do pé descalço» e pediu para que as pessoas não vissem a sua equipa «como uns coitadinhos». Vincou a ideia de diferença e a importância social do evento, por isso, nesta selecção existe também uma mulher. Chama-se Sara Coelho e vem de Sintra. A jogadora tem 25 anos, está a tirar dois cursos ¿ Marcenaria e Decoração/Arquitectura de interiores ¿ e garante que este evento mudou a sua vida: «Queria participar porque gosto de desporto e era uma forma de sair da monotonia. Sinto-me lisonjeada por estar aqui. Sinto mais confiança. Isto mostrou-me que há coisas que acontecem mesmo e não só nos contos de fadas.»
Scolari entregou as camisolas e até viu «boas qualidades» em alguns atletas. Nuno Carlota, da Amadora, surpreendeu o seleccionador com o seu visual (cabelo e sobrancelhas pintadas de louro) e ficou logo baptizado como o «Cissé» da equipa. O treinador disse querer estar presente para poder «observar os atletas felizes por participarem em algo, porque, quem sabe, não lhes é dada qualquer oportunidade e o futebol oferece-lhes isso». Scolari apontou que esta também é uma forma de mostrar que não existe racismo e que o futebol une todas as pessoas, independentemente, das suas diferenças ou das realidades que vivem.
Convocados:
João Reis, 41 anos, Sintra (guarda-redes)
Mário Baptista, 32 anos, Lisboa (guarda-redes)
Edgar Martins, 43 anos, Mafra
João Ricardo Semedo, 20 anos, Amadora
Luís Patrício, 20 anos, Amadora
Nuno Carlota, 17 anos, Amadora
Ricardo Andrade, 16 anos, Amadora
Sara Coelho, 25 anos, Sintra