Simon Vukcevic, o regresso ao futebol português cinco anos depois. Montenegrino faz mea culpa pelos erros cometidos em Alvalade em entrevista ao Maisfutebol

Nem pensou duas vezes quando o telefone tocou de Portugal. Uma proposta do Chaves para voltar a jogar na Liga levou Vukcevic a pisar novamente os relvados portugueses. Depois de ter vestido a camisola do Sporting em 135 jogos, nos quais apontou 28 golos, entre 2007 e 2011, o montenegrino Simon Vukcevic regressou esta época a Portugal para, aos 30 anos, representar o Desp. Chaves.

Para trás fica um passado em que cruzou cinco países em cinco anos (Inglaterra, Ucrânia, Sérvia, Grécia e Chipre) depois de sair de Alvalade, e um histórico de conflitos aquando da passagem pelo Sporting, apagando o que fez de bom no arranque, sendo considerado pelos treinadores da Liga o jogador revelação na época 2007/08.

Em entrevista ao Maisfutebol, com um português fluente apesar dos anos de ausência, Vukcevic mostra-se uma pessoa diferente, ciente dos erros cometidos no passado e com uma postura distante do Vukcevic impulsivo que há nove anos chegou a Portugal. O extremo esquerdo aborda a zanga com Paulo Bento e a saída do Sporting.

PARTE II: «Jogar? O Chaves está bem, não há porque mexer»

Depois de passar pelo Sporting seguiram-se cinco países e igual número de clubes diferentes. Podia ter dado outro rumo à carreira?

Claro, claro que sim. Mas é tudo culpa minha, deveu-se ao meu comportamento, que era muito mau. Eu destruí a minha carreira, não é nada de extraordinário. Pensava diferente do que penso agora, era mal comportado. Quis ser tudo, pensei que sabia tudo, não quis ouvir ninguém e não deixei ninguém ajudar-me. Tinha tudo, mas Deus dá tudo e tu não queres nada. A constituição de família veio ajudar a acalmar. Não gosto do futebol como está atualmente, em que há muita pressão até em miúdos com 12 anos. Os treinadores berram que têm de ganhar. Até me assusto, não há alegria. É culpa é de todos, os pais apontam os erros em vez de dizer aos filhos que os amam.

O Sporting foi o clube no qual esteve mais tempo, para além do Partizan. É o clube que mais marcou a sua carreira?

Sim, foi um clube que me marcou, além do Partizan, na Sérvia. Quatro anos é muito tempo, mas mesmo assim sinto que podia ter dado muito mais e ter feito mais. Mas eu decidi sozinho, cometi muitos erros. Fiz muitas coisas más.

Em 2008 teve um momento menos bom com Paulo Bento, em que inclusivamente esteve afastado das convocatórias. O que se passou?

Sem dúvida nenhuma, a culpa foi minha. Ele tentou ajudar-me, hoje percebo que foi para o meu bem, mas o meu comportamento não era bom. Quis ajudar-me, tentou fazer-me ver que o grupo era mais importante, mas eu parecia que era jogador de ténis, que estava sozinho. Foi minha culpa. Já passou.

A saída do Sporting foi algo atribulada, com vários avanços e recuos. Ficou alguma mágoa desse momento?

Não, não. Não ficou mágoa, eu tinha uma proposta para renovar por mais quatro anos e não quis. Cometi um grande erro ao não assinar um novo contrato (suspiros), porque já disse, o meu comportamento não era o melhor. Tenho de estar agradecido a toda a gente lá pela forma como se comportaram comigo. Quando se é jovem pensa-se que se sabe tudo, mas não sabes nada. Queremos mandar, achas que é o mais inteligente do mundo, mas isso não é bom e eu tive isso. Morava sozinho há muito tempo, saí do Montenegro com 14 anos e pensava que sabia tudo. A coisa mais importante da vida é o comportamento enquanto homem; dinheiro, sucesso e fama é tudo falso.

«Quando saí o campeonato português era melhor»

Quando veio a primeira vez para Portugal falou-se também do interesse do FC Porto…

Sinceramente, não. Saíram coisas nos jornais, mas foi só isso. Falei com as pessoas do Sporting e foi assim, tratámos de tudo. Acho que não houve nada com o Porto, foi só mesmo nos jornais.

Como vê atualmente o campeonato português, em relação à sua primeira passagem por Portugal e comparativamente com os outros países por onde passou?

O campeonato português quando eu saí era melhor. Comparando as equipas grandes, quando saí tinham mais nomes. E mesmo equipas mais pequenas, não querendo ofender ninguém, tinham outros nomes. Penso que era muito mais difícil, na minha opinião. O Championship [segundo escalão inglês] é muito forte, é melhor do que a Liga Portuguesa. Há muita competição, 24 equipas equivalentes e tudo pode acontecer. É uma competição muito dura. Em relação aos outros países por onde passei, o futebol português é, sem dúvida, mais forte.

Foi colega do Nuno Gomes no Blackburn Rovers. Havia rivalidade por ter saído do Sporting e ele do Benfica?

Não, de todo. Gosto mais do Sporting, claro, mas não tenho nada contra o Porto ou contra o Benfica. Faço apenas o meu trabalho, gosto de os ver jogar e de os ver ganhar. Há homens, com família, de um lado e de outro. Depois desta entrevista muita gente pode ficar chateada por eu dizer isto, mas não odeio o Benfica. Antes de odiar o que quer seja prefiro sempre gostar.

Qual é o candidato mais forte ao título?

Ainda é muito cedo, muita coisa pode mudar, na minha opinião. É impossível fazer planos tão longínquos. Só mais no fim é que se pode ver isso.