«Um prémio para os incumpridores». O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) não poupa as propostas da direcção da Liga Portuguesa Profissional de Futebol (LPFP), que têm como objectivo impor medidas mais rígidas contra os clubes com salários em atraso e vão ser discutidas esta segunda-feira na assembleia geral do organismo.

Em declarações ao Maisfutebol, Joaquim Evangelista acusou a direcção da LPFP de «quebrar a palavra dada» para com o sindicato e diz que as alterações que este organismo quer ver implementadas são «demagógicas» e irão «legitimar mais ainda o incumprimento salarial».

O presidente da SJPF começou por justificar as críticas que faz, recordando o que é pretendido pela Liga. «Ao nível dos pressupostos financeiros, o que a Liga defende é que haja uma declaração emitida pelos clubes que certifique que não há dívidas e que essa mesma declaração seja depois assinada pelo revisor oficial de contas. Portanto, têm que certificar que não há dívidas no mês de Maio».

«Só o Estrela da Amadora é que era penalizado»

Evangelista sublinhou que «esta norma já existia no ano passado» e denunciou: «Há clubes incumpridores que emitem a certidão e ela muitas das vezes não corresponde à verdade e são obrigados a competir com base numa certidão falsa». A solução: «Dissemos à liga que essa certidão devia ser emitida pelo sindicato. Devia ser o sindicato a dizer à Liga quais são os clubes devedores. A Liga imediatamente contactava os clubes para fazerem prova do pagamento e em função disso eram admitidos à competição. É assim que funciona em Espanha».

O sindicalista também atacou a outra proposta, que prevê a perda de pontos para os clubes que não tenham os salários em dia, considerando-a demasiado permissiva. «A Liga vem dizer que um clube que tenha três meses de salários em atraso deve ser interpelado pela Liga nos 30 dias seguintes e há sanção e perda de pontos. O que a Liga está a dizer é que aceita que os clubes com dois meses de salários em atraso possam competir, porque só ao terceiro é que intervém para sancionar».

Mas Joaquim Evangelista vai mais longe na leitura das consequências desta norma: «Vamos imaginar que um clube deixava de pagar em Novembro. Em Fevereiro era notificado pela Liga, pagava, resolvia a situação e a seguir podia voltar a incumprir». «Feitas as contas, se analisarmos o que se passa neste momento com o incumprimento salarial só o Estrela da Amadora é que era penalizado», disse.

Proposta

Em alternativa ao que descreve como «uma proposta demagógica», «que não acrescenta nada de novo» e que «pelo contrário, vem legitimar mais ainda o incumprimento salarial», o presidente do SJPF apresenta uma proposta mais rígida.

«Trinta dias após o vencimento do salário, se não for pago, deveria haver consequências. Não podemos ser mais permissivos. A perda de pontos levava a que aqueles que honram os seus compromissos vissem garantidas as suas expectativas de um plano de igualdade, porque os que não cumpriam era penalizados», explicou.

«Agora, não pagar, reforçar-se sem honrar os seus compromissos¿ cria-se uma desigualdade gritante», acrescentou o dirigente. «É um prémio para os incumpridores».

Falta com palavra dada

Joaquim Evangelista reconhece alguma «intempestividade» nas críticas que fez à direcção da Liga. Penitencia-se da forma, não do conteúdo. E diz que a LPFP faltou com a «palavra dada» ao Sindicato dos Jogadores, com quem tinha o «compromisso de uma solução conjunta».

«Fomos surpreendidos com a publicação nos jornais da proposta da Liga e algumas declarações do dr. Hermínio Loureiro, dizendo que ia ser severo e implacável», referiu, explicando que essa situação «gerou um sentimento de revolta porque houve quebra de confiança».

«A Liga quer aparecer aqui como a entidade que resolve os problemas todos do futebol e portanto chuta para canto as outras instituições», rematou.