O desporto português nunca foi de criar muitos heróis, nem para consumo interno. Tem que ver com a nossa grandeza, somos grandes em muito pouco. 

É certo que há nomes que, com toda a justiça, fazem parte da nossa história. Nomes que às vezes nos fizeram ficar acordados de madrugada, a olhar para muitos quilómetros de distância, enquanto conquistavam medalhas para este pequeno país. 

Nomes que se superaram, que superaram andarmos sempre a correr atrás do futuro e dos outros em quase todas as modalidades, conseguindo verdadeiros milagres. Nomes que vocês já conhecem, fazem parte do vosso imaginário, e que merecem ser recordados por vocês a seguir a este ponto final. 

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Não são assim tantos, não é verdade?


Depois, há o futebol-eucalipto, que seca tudo à volta. Sobretudo neste país, que não tem olhos para mais nada. O futebol cria heróis a cada golo e a cada finta, reclama todas as atenções, todo o tempo de conversa e não deixa espaço para o que é verdadeiramente notável. Claro que há exceções, algumas com Bolas de Ouro. 


Numa disciplina com tradição recente por cá, o currículo de Nélson Évora é, só por si, notável. 

Mais notável ainda é, com 30 anos - quase seis (sim, seis) depois do último grande resultado, a medalha de prata nos Mundiais de Berlim - ter voltado a este nível.

E ainda mais notável é ter passado por duas fraturas na tíbia, uma por stress, e uma operação ao joelho para corrigir um problema na cartilagem, quando atravessava o melhor momento da carreira, depois do título mundial em Osaka e da medalha olímpica em Pequim.

Mais uma vez, notável.

Nélson Évora tem, parece-me evidente, lugar na galeria dos heróis do desporto português. Enorme!


Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER.