Maisfutebol efetuou diversos contactos ao longo do dia para perceber o que há de novo no conflito Sporting-Bruma, quais os antecedentes e, sobretudo, como pode evoluir o processo. Eis as nossas conclusões.

Silêncio

Depois de um dia em que praticamente toda a gente falou, a sexta-feira foi de silêncio. Os responsáveis do Sporting estiveram longas horas reunidos a preparar a resposta a dar ao documento que Bruma enviou. Apesar deste passo, os dirigentes continuam disponíveis para dialogar, caso essa possibilidade surja.

Na prática, este foi também o segundo dia em que Bruma, na perspectiva do Sporting, faltou aos treinos. A instauração de um processo disciplinar é, pois, um passo previsível. Caso tente dá-lo, o clube terá uma dificuldade: encontrar o domicílio de Bruma, que até agora vivia na Academia de Alcochete. E já não vive, como é público e notório.

Quanto a Bruma, nem uma palavra. O jogador está resguardado, depois da intensidade das horas anteriores. Catio Baldé, o tutor, também nada disse. Bebiano Gomes, tanto quanto Maisfutebol soube, viajou para o estrangeiro. Sem mais declarações.

Maisfutebol tentou confirmar junto da Liga a entrega de algum documento de Bruma, mas a resposta foi: o assunto será da Comissão Arbitral Paritária.

Comissão Arbitral Paritária, o que se segue

De facto, Bebiano Gomes tinha referido, na véspera, que nos primeiros dias da próxima semana entregará o requerimento de nulidade na CAP, tribunal arbitral que jogadores e clubes reconhecem para dirimir questões laborais. Emana do Contrato Coletivo de Trabalho e é composto por seis elementos. Três nomeados pela Liga, outros tantos escolhidos pelo Sindicato.

Por norma, a CAP é chamada a pronunciar-se sobre a existência de justa causa para rescisão. Grande parte dos processos são relativamente simples, prendem-se com salários em atraso, algo comum no futebol português.

Os contornos, pelo menos os conhecidos, do caso Bruma são originais. Mas a CAP é competente para os apreciar. O primeiro passo deverá, pois, ser dado pelo jogador, uma vez que o Sporting já disse que no seu entender o contrato é válido até 2014, nada se passa. Assim que receber a exposição do extremo, a CAP chamará o Sporting para contestar os argumentos. O caso será então entregue a um relator e a decisão final pertencerá aos elementos deste tribunal arbitral.

A CAP tem, no máximo, 40 dias para resolver estes processos. Uma vez que os documentos não entraram esta sexta-feira e só deverão lá chegar a meio de julho, o tempo corre contra Bruma. O mercado fecha a 2 de setembro e os 40 dias terminam muito perto do fecho de mercado. Com férias pelo meio.

E a FIFA?

Obter o reconhecimento da nulidade do contrato na CAP é fundamental para a estratégia de Bruma. Caso o consiga, o jogador ficará livre para assinar com quem desejar, sem riscos. Neste momento já o pode fazer, mas para isso precisa de encontrar um clube que aceite correr o risco. Neste cenário, que parece pouco credível, o jogador poderia requerer à FIFA uma licença provisória que lhe permitisse competir.

A questão de fundo será decidida pela CAP, podendo depois chegar até ao Tribunal Arbitral de Desporto. Resumindo: se o tema não for resolvido pela via do diálogo com o Sporting, dificilmente Bruma estará a jogar antes do final de agosto.

Como Maisfutebol escreveu esta quinta-feira, a questão decisiva é esta: o contrato assinado em outubro de 2010 (e em agosto de 2011), por três anos com mais dois de promessa e um de opção, viola a norma da FIFA (e da FPF) que impede menores de se comprometerem por mais de três temporadas?

De acordo com o que Maisfutebol apurou, este tipo de compromisso é comum no Sporting e outros clubes portugueses. O objetivo é simples: impedir que futebolistas formados durante anos possam sair com facilidade aos 19 anos, sobretudo para o estrangeiro.