Érico Sousa, Jorge Intima (Jorginho), Wato Kuaté e Jordan Machado. Conhece estes nomes? Provavelmente não. Na semana passada, os quatro jovens fizeram a sua estreia pela seleção portuguesa de sub-19.

Hélio Sousa aproveitou o jogo particular frente ao Qatar, em Rio Maior, para fazer algumas experiências e, entre seis caras novas, quase todas vinham de fora do país.

A seleção vai alargando os seus horizontes. Érico Sousa e Jorge Íntima crescem em Inglaterra, Wato Kuaté está desde janeiro na Turquia e Jordan Machado veio de França.

Os responsáveis pelos escalões jovens procuram acompanhar a evolução de talentos desconhecidos para o adepto comum. Nem todos voltarão mas esta foi uma oportunidade para os conhecer melhor e enviar um sinal: Portugal conta com eles.

Érico Sousa, por exemplo, nasceu no Barreiro mas está desde os 10 anos em Inglaterra. «A seleção portuguesa foi a primeira a contactar-me mas também podia jogar por Angola, já que a minha mãe é angolana, ou por Inglaterra. Mesmo assim, sempre quis jogar por Portugal. Foi um sonho concretizado», explica o jogador do Barnsley, à Maisfutebol Total.

O médio ofensivo saiu de Portugal para acompanhar a família. Com 15 anos, esteve no Manchester City, um ponto em comum entre três destes nomes: Jorginho representa atualmente os Citizens e Wato Kuaté jogou no clube em 2012 e 2013.

Jordan Machado tem uma história ligeiramente diferente. Nasceu em Montpellier, tem dupla nacionalidade (francesa e portuguesa) e por lá ficou. Nesta altura, joga nas reservas do clube da Ligue 1.

Jorge Intima, vulgo Jorginho, surgiu na Academia Vital da Guiné-Bissau e, após breves experiências no Valência e no Sporting, acabou por rumar ao Manchester City em julho de 2012.

Nessa altura, ainda se cruzou com Wako Kuaté, o nome que será mais estranho para os adeptos portugueses. Guirlain Désiré Wato Kuaté nasceu nos Camarões mas viajou para o nosso país e surgiu no radar com a camisola da União de Leiria. Seguiu-se o Man. City. No início do ano assinou pelo Akhisar e já fez dois jogos na Liga Turca, como suplente utilizado.



«Quando me ligaram até achei estranho»

Érico Sousa ficou surpreendido quando recebeu a convocatória para a seleção portuguesa. Aliás, teve a mesma reação quando foi contactado pela Maisfutebol Total. Algo natural para quem está em Inglaterra há nove anos.

«Nasci no Barreiro, joguei no Fabril mas vim com a minha família para Inglaterra aos 10 anos. Viemos para Leeds. Continuei a jogar mas de forma amadora, até que aos 15 fui para o Manchester City, por pouco tempo. Entretanto, já estou no Barnsley há praticamente quatro anos.»

Médio ofensivo, Érico cresce nos sub-21 do Barnsley enquanto a formação sénior disputa o Championship, segundo escalão do futebol inglês.

«Quando me ligaram da seleção até achei um pouco estranho, foi uma surpresa para mim. Mas percebi que era mesmo verdade e fiquei muito feliz, era um sonho que tinha. Fiquei com a camisola do jogo e vou guardá-la para sempre», garante o jovem.

O jogador português ficou satisfeito com a estreia pela seleção. «Portugal é um dos países que cria mais talentos e acho importante que sigam os que vão para fora e que podem jogar por outras seleções. Eu não tinha dúvidas, porque sou 100 por cento português, mas já tinha condições para ter a nacionalidade inglesa, se quisesse.»

«Fui bem recebido pelo grupo, que tem um bom espírito. Perceberam que sou um pouco calado mas receberam-me de braços abertos, senti-me bem com todos», garante.

Érico promete continuar a trabalhar para garantir novas oportunidades. Para já, faz a apresentação possível. «Sou um médio ofensivo, que joga sobretudo no meio mas também pode jogar no flanco. Tenho técnica e gosto de fazer passes, sobretudo. O meu ídolo era o Ronaldinho Gaúcho mas por aqui dizem-me que tenho coisas de Quaresma ou de Nasri. Eu não sei, não devo ser eu a fazer a avaliação», remata.



«Objetivo é chegar à equipa principal do City»

O jovem do Barnsley nasceu em Portugal mas tal não aconteceu com Jorge Intima (Jorginho), Wato Kuaté e Jordan Machado. Por isso, é natural que os talentos pudessem ser disputados por outras seleções.

Jorginho é mais um filho da Guiné-Bissau a chegar à seleção lusa. Médio versátil - «posso jogar a oito ou dez, mas aqui tenho jogado como extremo direito ou esquerdo» -, está no Manchester City desde julho de 2012 e tem demonstrado a sua influência na equipa sub-18 dos Citizens.

Em entrevista à Maisfutebol Total, o jogador conta a sua história: «Na Guiné-Bissau jogava na Academia Vital. Entretanto, fomos a Portugal disputar um torneio e fiquei três meses no Sporting, mas não correu bem. Voltei à Guiné, depois passei um mês no Valência, gostaram de mim e nem sei porque não fiquei.»

«Entretanto, o meu empresário ligou-me a dizer que o Man. City ia fazer a pré-época em Portugal. Fui com mais quatro jogadores da Academia mas acabei por ser o único a ficar.»

Com apenas 16 anos, Jorginho abraçou um novo desafio em Terras de Sua Majestade. «Fiquei na casa de uma família britânica, para me adaptar melhor. Não sabia falar inglês, foi difícil habituar-me ao clima mas agora está tudo ótimo.

O médio tinha dois sonhos: jogar em Inglaterra e na seleção portuguesa. «Costumava dizer aos meus amigos que um dia ia jogar em Inglaterra e pela seleção de Portugal, mas riam-se de mim. Ainda por cima, estou bem perto do meu ídolo, o David Silva.»

A mãe, curiosamente, queria ver Jorginho na seleção da Guiné-Bissau. «Cheguei a jogar pela seleção guineense quanto tinha 13 anos, mas é diferente, é um orgulho enorme para mim ter sido chamado por Portugal. Agora, o meu grande objetivo é chegar à equipa principal do Manchester City. Quero que a minha mãe me veja um dia na TV a jogar pelo City. E claro, ser chamado mais vezes por Portugal.»

Rony Lopes e Jorginho, dois nomes para acompanhar nos Citizens.

Os talentos nascidos nos Camarões e em França

Jorginho chegou ao Manchester City pouco antes de Wato Kuaté e partilhou casa com o jogador nascido nos Camarões. O médio defensivo saiu de África com tenra idade. «Penso que o pai dele morava ou mora em Portugal». Wato destacou-se nos iniciados e juvenis da União de Leiria.

«Pouco depois de eu chegar, chegou o Wato e moramos com a mesma família até ele ir para a Turquia. Era bom tê-lo cá porque com ele só falava português», recorda Jorginho.

Em janeiro de 2014, Wato Kuaté saiu do Man. City e assinou por três épocas e meia com o Akhisar Belediye. O jogador teve uma estreia de fogo na Liga turca: suplente utilizado na visita ao Galatasaray. Neste fim-de-semana, saltou novamente do banco, desta vez frente ao Besiktas.

Jordan Machado foi o outro nome a captar a atenção dos responsáveis federativos portugueses. Aliás, Hélio Sousa concedeu a titularidade ao médio ofensivo do Montpellier no encontro particular frente ao Qatar (1-0).

Nascido em França, Jordan Jean Luc Agostinho Machado vai conquistando o seu espaço nas reservas do clube que disputa a Ligue 1.