Noventa minutos de um longo bocejo, com alguns (poucos) espasmos pelo meio. Quando tudo parecia terminado vieram os golos. Ainda assim, o sumo do triunfo português, por 2-0, sobre a República da Irlanda é muito pouco. Insuficiente para a sede das mais de 3 mil pessoas que se deslocaram ao Estádio Municipal de Águeda numa sexta-feira à tarde. É, na verdade, um jogo sem história que não ficará na história e que foi apenas mais um na preparação da caminhada para o Euro 2013, que arranca em Setembro.

De facto, a plateia nem foi má tendo em conta a qualidade do espectáculo. Mas, durante grande parte do tempo, o público esteve alheio ao jogo. Aproveitou-se para se saber as últimas novidades, para comentar a crise política, as eleições no Sporting e o anunciado desfecho do campeonato. Enquanto isso, corria-se no relvado. Alguma transpiração. Inspiração é que nem vê-la.

Um remate ao lado de Bebé e um cruzamento de André Martins para as mãos de McLoughlin foi o melhor que se viu de Portugal, num primeiro tempo que poderia ter terminado ainda pior. Aaron Doran caiu na área quando estava isolado e parece ter ficado uma grande penalidade por marcar.

Para a segunda parte, como é normal neste tipo de encontros, Rui Jorge mudou quase toda a equipa. Deixou o «espectador» Anthony Lopes na baliza, recuou Edu para a ala direita da defesa e manteve a aposta em João Faria ao centro, ele que estava a realizar uma exibição segura. André Martins, o capitão, também permaneceu.

Abel e Freddy acrescentaram irreverência na frente, já que Bebé e Diogo Viana tinham mostrado muito pouco. David Simão, um dos mais experientes, também conseguiu carrilar jogo a meio campo, mas os frutos continuavam a ser muito poucos. Até ao golo de Abel Camara, apenas um remate à baliza, por Ricardo Martins, num livre, a um quarto de hora do fim.

A selecção irlandesa já queria muito pouco. Viria a terminar com menos um jogador, por lesão de Richie Towell quando as substituições já estavam esgotadas. Portugal tentava, mas não conseguia fazer mais. O público, que despertou por uns minutos no segundo tempo, voltou a adormecer. Caiu, então, do céu, o «golaço» de Abel que serviu como prémio para as gentes de Águeda. O bilhete do jogo valeu mesmo só por este momento, em cima do minuto 90. Josué ainda aproveitou uma falha de Michael Quirke para aumentar a contagem, num resultado algo enganador.

É que, apesar da vitória ficam várias ilações para o futuro. É complicado haver uma ligação entre o público e uma equipa que, pese todo o potencial e boa vontade, é, como o seleccionador Rui Jorge definiu na convocatória, a «equipa possível». Dos onze que jogaram de início, só um elemento, João Silva, joga na I Divisão portuguesa, e nem é propriedade do clube em questão. Abundam jogadores do terceiro escalão luso numa fase que é a última antes da equipa principal. Faltam oportunidades para estes jovens e Rui Jorge fica com uma tarefa ingrata. O grupo revela pormenores mas não tem fio de jogo. Os aspirantes a craques não explodem. É um caso flagrante de uma excepção à velha máxima: nem sempre a culpa é do treinador.

Ficha de Jogo:

Estádio Municipal de Águeda

Árbitro: António Augusto Costa

PORTUGAL: Anthony Lopes; Ivo Pinto (Rúben, 45), Joshua Silva (João Pereira, 45), João Faria e Hugo Costa (Ricardo Martins, 45); André Martins e Filipe Ferreira (David Simão, 45); Diogo Viana (Fredy, 45); Bebé (Josué, 45) e Edu; João Silva (Abel, 45).

Treinador: Rui Jorge

REP. IRLANDA: Ian McLoughlin (Michael Quirke, 45), Mark Connolly (Oyebanjo, 14), Gavin Gunning (John Dunleavy, 67), Rob Kiernan, Niall Canavan (Shane Duffy, 45), Richie Towell, Adam Barton, Conor Clifford, Conor Henderson (Paddy Madden, 55), Aaron Doran (Ronan Murray, 78) e Shane OConnor (Conor Hourihane).

Treinador: Noel King

Disciplina: Amarelo para João Faria (39), Michael Quirke (63)

Golos: Abel (89) e Josué (90)

Ao intervalo: 0-0