«Temos de ter a noção de que segunda-feira vai ser bem diferente.»

É inevitável começar esta crónica com aquela que era a convicção de Ruben Amorim após a goleada por 5-0 do Sporting ao Marítimo no encerramento da fase de grupos da Taça da Liga.

E é inevitável porque o Sporting repetiu, agora diante de uma das quatro melhores equipas nacionais, o resultado de há dias. Contra as expectativas de Amorim e dos cerca de 20 mil adeptos leoninos que estiveram em Alvalade, não porque o momento fosse sugestivo de nova vitórias mas pelo números dela em si.

Teoricamente, o Sporting-Sp. Braga tinha tudo para ser o melhor jogo dos quartos de final da Taça da Liga. Não foi porque durante os primeiros 45 minutos só houve uma equipa em campo e ao intervalo o placard já registava impensáveis 5-0.

E impensáveis não pelo que o Sporting fizera. A equipa de Ruben Amorim justificou cada um dos golos. Mais! Criou de sobra para ir para o intervalo até com mais um ou outro golo.

Impensáveis, sim, pela soma de erros chocantes de uma equipa que reclama – e com legitimidade, diga-se! – o estatuto de grande do futebol português.

Alguns desses erros foram primários, mas outros foram mérito do Sporting, que parece ter encontrado o caminho do bom futebol numa espécie de retiro durante o qual fez também as pazes consigo próprio após um início de temporada que dirá o tempo se foi ou não fatal nas aspirações de uma equipa para o resto dela.

Altamente sólidos na defesa, asfixiantes quando não tinham bola, rápidos e práticos quando a tinham para chegar o mais rapidamente possível à baliza contrária. Os leões foram tudo isso e muito mais nesta segunda-feira, confirmando que as afirmações de que esta equipas está bem melhor não eram manifestamente exageradas.

Aos 8 minutos já o Sporting vencia por 2-0. Gonçalo Inácio inaugurou o marcador e quando a equipa arsenalista procurava levantar-se do tapete já Paulinho tinha marcado.

O dinamismo do trio ofensivo dos leões, o meio-campo sólido e a defesa impenetrável explicava muito, mas o comportamento dos visitantes também. Como o disparate de Tormena, quando perdeu a bola para Edwards e travou-o depois na área para um penálti que Pote – hoje médio – converteu.

Aos 20 minutos, o jogo estava decidido e aos 30m Artur Jorge mexeu no Sp. Braga, tirando de cena Fabiano e Castro para lançar André Horta e Victor Gómez.

Mas nem isso estabilizou os visitantes, que continuaram a ter pela frente um leão insaciável que continuou a acelerar na direção da presa com a mesma velocidade com que o vento soprava na direção da baliza norte.

Ainda antes de se virem mais golos, Paulo Oliveira e Tormena adiaram-nos com cortes decisivos. Nessa altura via-se um Sp. Braga a tentar reagir mas tremendamente desequilibrado e sempre mais perto de sofrer um golo do que de marcar, mesmo quando a bola circulava à entrada do terço defensivo do Sporting.

O 4-0, concluído por Trincão, foi prova disso. Dos desequilíbrios de uma equipa e do poderio com que o Sporting em três passes criava e finalizava com sucesso uma ocasião de golo. O 5-0, de Edwards a segundos do apito para o intervalo, do desnorte de uma equipa que acabava de fazer o segundo penálti em pouco mais de 20 minutos.

Na segunda parte, o Sporting continuou dominador. Voltou a criar, mas recriou-se mais e não teve o mesmo sentido prático dos 45 minutos iniciais.

O Sp. Braga, entre a correção imperativa dos erros e o natural levantamento do pé do adversário, também estabilizou, mas continuou a dar uma pálida amostra do que tem mostrado, razão pela qual a equipa ouviu no final do jogo o descontentamento de quem se habituou a muito mais mas que hoje, mesmo com esse mais, talvez não fosse suficiente perante um Sporting de altíssimo nível numa noite de vendaval leonino e que, no fim de contas, não foi assim tão diferente da de há dias.

E isso quer dizer dizer muito.