Pouco faltava para se chegar ao minuto noventa quando Paulo Bento soltou um grito de alívio na tribuna de imprensa. O treinador tinha sido expulso do banco a meio da segunda parte, dirigiu-se para a zona onde se encontram os jornalistas e sofreu até ao fim. Quando Liedson consumou a viragem do resultado, o técnico libertou toda a fúria.
Mas fez mais do que isso. Gritou de orgulho, certamente. Ele que frisara que era altura dos mais velhos se assumirem por entre um onze com seis miúdos da formação e com idades na casa dos 21 anos. Os velhos assumiram-se mesmo. Puxaram os miúdos e no final resolveram. O mérito, esse, é de todos: o leão tem gente para ir até ao fim.
Por fim não deixa de ser curioso que o V. Guimarães desta época não consiga riscar nada nas contas pelo título. Ameaça, ameaça, ameaça, mas só isso. Há duas semanas esteve a vencer o F.C. Porto e permitiu a viragem. Esta noite fez o mesmo com o Sporting. Este Vitória, definitivamente, serve apenas para afirmar candidaturas ao título.
Coragem, força e maturidade, eis o leão
A vitória do Sporting, já se disse atrás, foi sofrida até ao fim. Mas apenas por manifesta falta de sorte. A equipa teve tudo, menos sorte. Teve coragem, teve força, teve vontade. A equipa teve até maturidade para se meter com tudo numa luta de gente de barba rija. Dobraram várias contrariedades e alimentaram até ao fim a ilusão da vitória.
Pelo caminho ultrapassaram bolas na trave, uma situação de desvantagem e até uma decisão muito polémica do árbitro. Sobre o intervalo, Bruno Paixão anulou um golo a Daniel Carriço por um pé em riste no mínimo discutível. Pouco tempo após o regresso dos balneários a equipa sofreu um golo que parecia significar o fim do sonho pelo título.
Pura ilusão. Paulo Bento foi com tudo para o relvado, lançou um avançado e colocou profundidade na esquerda com a entrada de Ronny, o Sporting encheu-se de coragem e passou a última meia-hora no meio-campo adversário. Nos dez minutos finais chegou à vitória: Derlei primeiro e Liedson depois viraram a desvantagem do golo de Roberto.
Quinta vitória consecutiva, na afirmação de um candidato
Por aqui também já se percebe como o jogo foi bom. Desde o primeiro minuto ao último, foi sempre disputado à flor da pele. Nem sempre foi bem jogado, é verdade, mas com a emoção de um jogo grande. Houve oportunidades de um lado, oportunidades do outro, picardias, desentendimentos, muita contestação ao árbitro e incerteza até ao fim.
O V. Guimarães apoiou-se numa noite inspirada de Nuno Assis para jogar melhor, para jogar pelo menos um futebol mais apoiado, mais fluído, mais bonito. A formação de Paulo Bento respondeu com coração, muitos lançamentos longos e transições rápidas. Entre a arte de um e o suor do outro, criou-se um ponto intermédio que valia a pena.
Em jeito de conclusão, importa dizer que a vitória do Sporting acaba por ser justa porque foi a equipa que criou mais oportunidades de golo. Mais do que isso, porém, somou a quinta vitória consecutiva e mostrou que atravessa o melhor momento da época. Na fase decisiva, é um pormenor que pode animar a Liga. O V. Guimarães terá confirmado o adeus à Europa.