Em Pequim, Portugal é mais do que Cristiano Ronaldo ou José Mourinho. Em Pequim, Portugal é, acima de tudo, 海 梅 帕 切 科. Leu bem, caro leitor: Jaime Pacheco. É dele que falamos. A primeira época no comando técnico do Beijing Guoan foi «maravilhosa», o triunfo da diáspora lusitana nas terras do mandarim.

O segundo lugar no campeonato, a presença nas meias-finais da taça e a eleição como melhor treinador do ano para a imprensa chinesa sublimaram o prestígio do técnico. E é para continuar. «Tenho mais dois anos de contrato e volto em Janeiro para lá», diz Jaime Pacheco ao Maisfutebol, em período de descanso no nosso país.

A Grande Muralha e as viagens sem fim

Os dados iniciais apontavam noutro sentido. Relatos locais sugeriam, de resto, que Pacheco não ficaria «mais de dois ou três meses». «Diziam que tínhamos uma equipa envelhecida, não havia reforços e lembravam sempre que tinham saído quatro titulares da época anterior. Ultrapassámos as limitações, calámos os críticos e arrancámos para uma temporada sensacional.»

O Beijing Guoan chegou a andar em primeiro, esteve 20 jogos sem perder e conquistou a simpatia do público. «O estádio passou a estar cheio. 50 mil pessoas. Jogámos um futebol apoiado, de passe curto e ressuscitámos aquela equipa.»

«Mesmo nos treinos apareciam centenas de pessoas, à procura de autógrafos e fotografias. O embaixador de Portugal em Pequim chegou a dizer-me que sou o português mais conhecido na China», conta o técnico, que na China se faz acompanhar dos adjuntos Luís Diogo Campos e Khadim Faye.

Distinguir os jogadores pelo número

Um balneário de olhar rasgado, nomes imperceptíveis, caras que se confundem. Jaime Pacheco não teve um início fácil na China, principalmente na comunicação diária com o plantel. «Diferenciava-os pelos números. Mas o tempo tudo corrige. O Maradona diz que o futebol é igual em todo o lado e é bem verdade.»

Um tradutor facilitava as coisas. «Falávamos numa mistura de inglês, chinês, espanhol e português.» O resto foi tratado pela linguagem universal do futebol, esse dialecto riquíssimo. «Funcionou bem. O atleta chinês é humilde, receptivo, afável e muito disponível. Têm de melhorar o rigor e concentração.»

Esse rigor e concentração caiu por terra, de facto, pontualmente. «Sofremos golos no último minuto em cinco ocasiões. Não pode ser. Mas fiquei surpreendido com a qualidade do campeonato e das equipas. Há bons jogadores e boas equipas.»

«Sofri muito no futebol português»

Em Portugal jogam dois chineses nas ligas profissionais. Zhang Chengdong no Beira-Mar e Wang Gang no Sp. Covilhã. Jaime Pacheco diz que a China é um filão desconhecido, por explorar.

«Há jogadores bem superiores a esses na liga chinesa. O meu guarda-redes no Beijing Guoan [Yang Zhi] seria titular em qualquer equipa portuguesa», regista Jaime Pacheco.

E um departamento em cada clube português para um jogador chinês - essa ideia peregrina de Paulo Futre - resultaria? «Não. Só nos principais campeonatos europeus. Em Portugal não faz sentido, apesar da China ser um país emergente, uma potência económica inacreditável. Não temos visibilidade que potencie um negócio desses.»

A liga chinesa tem especificidades curiosas. Jaime Pacheco explica. «Não se pode contratar guarda-redes estrangeiros, não há naturalizações e cada clube só pode ter cinco jogadores de outros países (um obrigatoriamente asiático). Em campo apenas podem estar quatro. Há também um campeonato de equipas B, com o mesmo calendário do campeonato principal», explica o técnico português.