Vítor Baía tem tido uma carreira marcada pelo infortúnio das lesões. Mas não só. O guarda-redes conta no livro que já viveu dois sustos de morte. Um nos juniores, outro na final da Taça Intercontinental. Veja como ele os explica no livro:
Juniores
«A tromboflebite aconteceu na véspera de ir jogar à Luz, na fase final do Campeonato de Juniores. Tinha ficado a dormir em casa do Fernando Santos. Ao despertar senti um formigueiro no braço, como se tivesse dormido em cima dele. Tinha acordado naquela posição e pensei que tivesse sido isso. Quando me preparava para o treino, estava de manga curta, porque era Verão, e os meus colegas repararam que estavam com o braço fortíssimo. Na brincadeira até me disseram que parecia o Rambo. Comecei a reparar naquilo e apercebi-me depois que o braço estava pesado. Fui falar com o enfermeiro, Eduardo Braga, que percebeu logo que havia algo de anormal. Viajei na mesma para Lisboa, fiz alguns exames e disseram-me que era de cervical e que, provavelmente, teria que ser operado. No entanto, o Dr. Fernando Povoas descansou-me um pouco e colocou de parte a operação. A caminho de Lisboa comecei a sentir muitas dores. Tirei a ligadura que me tinham colocado e mostrei o braço ao Dr. Povoas, que, a brincar e para me animar, disse: ¿Isso não é nada...¿.
Soube mais tarde que o Dr. Povoas ameaçou abandonar o clube se nessa noite eu não fizesse um exame rigoroso. Sabia como eu era importante para esse jogo, mas colocou a minha saúde à frente. Fiz o exame e o diagnóstico não enganava. Estava uma veia entupida, formaram-se coágulos e, se jogasse, poderia ter colocado a minha vida em risco. Fiquei eternamente agradecido ao Dr. Povoas. Acabei por ser internado na Ordem do Carmo onde fiquei durante mês e meio. Nasceu a incógnita se poderia voltar a jogar. Fui a última consulta a Paris. (...) Três semanas após a alta médica, fiz o meu primeiro jogo pelos seniores».
Final da Taça Intercontinental
«Senti-me tonto, com dificuldades de visão. Só me lembro de ter chamado pelo Bicho e de me estender no relvado. Jamais esquecerei esse dia! Essencialmente, porque foi algo que me apanhou desprevenido. Sentia-me normalíssimo e, de repente, senti algo de estranho, o coração a bater de uma forma acelerada, e muitas dificuldades em respirar nos primeiros instantes. Entrei em pânico e aconteceu a taquicardia. Passou-me muita coisa pela cabeça. Não desejo a ninguém o que me aconteceu ali naquele relvado. Foi algo de novo para mim. Depois de ter estado no hospital e de me encontrar tranquilo é que cheguei à conclusão de que nunca me consegui adaptar às diferenças horárias.
Fiz o filme dos dias anteriores no Japão e, realmente, concluí que não tinha dormido bem, que tinha estado acordado nos momentos em que devia estar a dormir. Ou seja, dei-me mesmo muito mal com o jet-lag. (...) Tinha muitas dores no peito, pensei que estava a passar por algo idêntico ao que aconteceu com o Fehér, por exemplo. (...) Foi sem dúvida a situação mais dramática que já vivi durante um jogo».