Nenhum teve o brilho que queria. Xavi esteve igual a si próprio mas faltou-lhe o toque de génio que, por vezes, faz a diferença. Sneijder teve esse toque de génio quando isolou Robben, mas faltou-lhe a consistência do espanhol, desaparecendo do jogo por largos períodos.

Xavi esteve mais em jogo, Sneijder deu mais nas vistas. Xavi cresceu, Sneijder subiu, chegou ao auge, caiu e nunca conseguiu reerguer-se. Xavi foi mais cerebral (quando não é?). Sneijder quis ser repentino mas poucas vezes conseguiu.

Nenhum falhou completamente. Nenhum esteve verdadeiramente mal. Sneijder não esteve verdadeiramente bem. Xavi...foi Xavi. Ou, pelo menos, andou lá perto.

Passe

Sneijder leva para casa o prémio de melhor assistência do jogo. Primoroso o passe que, aos 62 minutos, deixou Robben na cara de Casillas. Acabou por não dar golo. Foi, aliás, o melhor momento do holandês no jogo, embora um novo passe para Van Persie, pouco depois, tenha sido apagado pelo fora-de-jogo do colega.

Xavi destacou-se, como habitualmente, pelo acerto neste capítulo. Passes tensos, bolas «redondinhas» como é costume dizer-se, mas nenhum rasgo na defesa contrária. A diferença entre os dois esteve aí: Xavi foi mais cerebral e metódico; Sneijder arriscou mais, recolhendo os frutos e espinhos da ousadia.

Remate

Com a bola a rodar, nenhum arriscou. Em abono da verdade em nenhum lance corrido Sneijder ou Xavi apareceram em posição de remate, daí que este capítulo se resuma aos livres. Xavi teve dois perto da área e atirou ambos por cima. Sneijder foi tentando mais de trás. No primeiro até acertou na baliza, mas Casillas defendeu facilmente, aos 17 minutos. Já no prolongamento, acertou na barreira e a bola saiu ao lado.

Apesar da escassez de remates, Sneijder conseguiu chegar ao fim do Mundial como melhor marcador da prova, a par de Villa, Muller e Forlán. Servirá de consolação?

Bolas paradas

Xavi cobrou todos os cantos da Espanha. Metade levaram perigo para Stekelenburg, ainda que, logo no primeiro dos casos, tenha sido um canto curto que culminou com um cruzamento de Xabi Alonso para o remate de Villa às malhas laterais, aos 11 minutos. Aos 47 Capdevilla falhou a emenda e aos 75, Sérgio Ramos cabeceou por cima. Já Sneijder só foi uma vez junto da bandeirola de canto, já no prolongamento, com Mathijsen a cabecear por cima. Ainda assim o holandês não esteve menos activo neste aspecto, uma vez que é o senhor dos livres na sua equipa.

Recuperações

Xavi e Sneijder são jogadores de construção, é certo. Mas o holandês acabou por ter uma intervenção decisiva aos 81 minutos, quando, já na área e depois de Iniesta passar Heitinga conseguiu por cobro à jogada. Um detalhe que prova que um artista também veste fato macaco quando é necessário.

Temperamento

Nenhum é de ficar calado. Xavi protestou com o árbitro, protestou com os colegas, protestou consigo mesmo. Caiu na área no início do prolongamento, pediu penalty, não foi concedido, levantou-se, barafustou sozinho mais um pouco e voltou a concentrar-se no jogo.

Sneijder começou mais calmo, mas foi aos arames quando Howard Webb não lhe deu canto num lance em que a bola bateu claramente na barreira e, quase de seguida, não assinalou uma falta sobre Elia. Poderia ser normal, não fosse, na resposta, a Espanha ter feito o golo da vitória. Sneijder protestou com o assistente enquanto Xavi festejou. No final do jogo, antes de se render à evidência ainda tirou mais satisfações com o juiz inglês. Depois, perdeu as forças, sentou-se no relvado e tentou ignorar o sorriso vitorioso de Xavi.