Assegura não guardar ressentimentos mas é sem papas na língua que Victor Zvunka aborda, pela primeira vez, os motivos da sua saída da Naval. Depois de assinar a rescisão, na noite da última segunda-feira e três semanas após a decisão de Aprígio Santos de o afastar do comando da equipa, o técnico francês não poupa críticas a uma «minoria de jogadores», que acusa de terem trabalhado nos bastidores para o derrubar.

«Ainda hoje não compreendo o que se passou, não esperava que acabasse assim. Temos de ver que jogámos com todos os grandes, incluindo o Sp. Braga, apenas à excepção do Benfica, e perdemos 3-0 em Coimbra, mas foi um jogo especial. Penso que não estivemos assim tão mal, nem fomos ridículos. Na minha opinião, o presidente tirou conclusões demasiado cedo. Estava convencido que poderia ficar ainda, vá lá, até ao final de Outubro. Acredito que, comigo, não teríamos perdido estes últimos dois jogos, com o Paços e para a Taça de Portugal», começa por dizer ao Maisfutebol o experiente treinador.

Sobre aquilo que poderá ter estado na génese da rescisão, Zvunka não tem contemplações: «Houve dois ou três jogadores, portugueses e brasileiros, que me minaram o terreno. Não tinham muita vontade de trabalhar e evoluir, ainda por cima não estavam a jogar. Eu já os tinha identificado e avisado. Numa selecção natural, acabariam por perceber, mas, no limite, poderiam ser sancionados. Penso que teria conseguido fazer uma limpeza se lá continuasse. É pena que uma minoria tenha afectado o balneário, manipulado as pessoas, e vencido. Continuam lá e vão acabar por prejudicar o clube. Não vou citar nomes, pois eles próprios saberão enfiar a carapuça.»

Problemas de expressão?

As dificuldades de comunicação, argumento utilizado por Aprígio Santos, não colhem de acordo com o técnico francês: «O meu adjunto, o Caetano [servia de tradutor], foi impecável, adorei trabalhar com ele. Depois, havia o Nuno Cardoso [director desportivo] e o Ferreira [vice-presidente] e os quatro entendíamo-nos muito bem. Contrataram-me para impor rigor e trabalho e foi o que tentei trazer, à imagem do que se faz em França, que é a minha referência. Lamento porque estava verdadeiramente a gostar, fui bem acolhido pelos meus homólogos, por todos em geral. Já estávamos a conseguir resultados, ao nível de um maior profissionalismo, alimentação dos jogadores, repouso, uma série de coisas. Foi pena não me terem deixado terminar.»

Aquilo que Zvunka também lamenta foi a falta de oportunidades para dialogar mais com Aprígio Santos, dos problemas já mencionados, bem como doutros. «Se calhar, não falei tantas vezes como desejava com o presidente para expor melhor as coisas», reconhece, ao mesmo tempo que destaca as dificuldades inerentes a treinar um pequeno clube: «A Naval, vamos ser claros, joga para ficar entre o 14º e o 8º lugar. Não há possibilidade de lutar pelos primeiros lugares da tabela, temos de utilizar os trunfos que temos à mão.»

Ausência de Fábio Júnior prejudicou

Outro aspecto que ensombrou o consulado de Zvunka foi, nas palavras do próprio, a ausência prolongada de Fábio Júnior. «Andámos a trabalhar um esquema para um avançado considerado dos melhores em Portugal mas só o tive por um jogo. Acredito que se me tivessem dado mais 15 dias/três semanas, poderia trabalhá-lo e, se calhar, estaríamos agora a fazer outro tipo de análises», defende.

Aberto a propostas, o técnico francês vai continuar em Portugal até final do mês, a descansar, para depois tentar abraçar um novo projecto: «Se puder continuar por cá, ficarei encantado. Gostei muito da experiência, fiquei, diria, com água na boca. É um país que ama o futebol, onde se joga bem, e onde me sinto muito confortável.»