Val Teixeira é um português de Lisboa: nasceu na capital e fala um português perfeito, naquele sotaque lisboeta de carregar nos vês. Estava a treinar nos juniores do Benfica, com José Morais, quando as curvas da vida o levaram para os Estados Unidos. Nunca mais voltou, pelo menos não em definitivo.

Foi por isso em Rhode Island, muito perto de Nova Iorque, que Val Teixeira viveu o ataque que mudou o mundo: tinha 24 anos. «Estava em casa quando um amigo me ligou a perguntar se tinha ouvido falar do ataque em Nova Iorque», conta. «Liguei a televisão e vi o segundo avião a bater na segunda torre.»

A partir daí nada foi igual. Foi isso que o Maisfutebol procurou saber com os portugueses nos States. «O povo americano ficou mais unido, mais humano», diz. «Começou a ver o mundo de forma diferente. Mais de três mil pessoas morreram e ninguém olha a vida agora da mesma maneira.»

Foram dias de pânico e sofrimento, acrescenta. «O país temia mais atentados a qualquer altura. Não houve jogos, foi tudo cancelado. A segurança era apertadíssima em qualquer circunstância». Dez anos depois, percebe-se que o mundo mudou. Val Teixeira diz que os Estados Unidos mudaram mais.

«O povo americano antes do 11 de Setembro só tinha olhos para si mesmo. Agora percebeu que há mais mundo, que também vive e sofre. Os ataques serviram para abrir essa consciência: vê-se mais notícias de outros países nas tv's, há mais atenção ao sofrimento dos outros, há mais humanismo.»

Até o futebol mudou: mudou tudo. «O futebol aqui é um mundo à parte, porque a maior parte das equipas são formadas por imigrantes ou filhos de imigrantes. Os americanos preferem outros desportos. Mas sinto nos meus colegas que nasceram cá também esse cuidado, foi uma mudança generalizada.»

Foram semanas e semanas, recorde-se, de luto, de choro e de respeito pelas vítimas. Questionaram-se razões, perguntou-se porquê, tentou perceber-se o que motivava aquele ódio. No fim, diz Val Teixeira, houve a percepção exacta de que os Estados Unidos não viviam numa redoma particular no mundo.

«Até o futebol mudou. As equipas e os jogadores passaram a ter mais consciência social. Agora são enviados equipamentos para países pobres, algumas equipas fazem jogos para recolha de fundos para essas comunidades, enfim, uma série de coisas que antes não aconteciam. O futebol era só um jogo», conta.

«Depois, claro, a segurança: mudou em todo o mundo, a nossa vida mudou com ela. As pessoas perceberam que é importante zelar pela segurança e respeitam as novas regras. Antes podiam levar tudo para dentro de um estádio, por exemplo, hoje não. Qualquer acontecimento é policiado ao pormenor», conta.

Dez anos depois, Val Teixeira recorda tudo com a sensação de quem viveu por dentro dias decisivos para o relacionamento da humanidade. Dez anos importantes que impuseram uma nova ordem. «Este domingo vai ser um dia importante. Há uma grande vontade de não deixar morrer o 11 de Setembro.»