«Os árbitros recusam-se a apitar os jogos da próxima jornada! Impõem condições para fazê-lo!» Ninguém que liga ao futebol ficaria indiferente se a ameaça fosse real, se fosse presente. Mesmo que as razões desse interesse fossem várias. Os árbitros fazerem greve, tendo como motivos as reacções de que são alvo pelas suas actuações, não espantaria alguns, deixaria com certeza outros indignados, mas, de uma forma ou de outra, agitaria seguramente o status quo futebolístico.
Recuemos então até Maio de 1974, quando a ameaça foi real. Estava-se a uma jornada do fim do Nacional da I Divisão. O Sporting (líder da prova) e o Benfica disputavam o título, o V. Setúbal espreitava ainda o segundo lugar, o Barreirense lutava para não descer de escalão. No último fim-de-semana do campeonato, dois dos jogos eram o Barreirense-Sporting e o V. Setúbal-Benfica. A meio da semana, o panorama futebolístico ficou em estado de terror com a ameaça de greve a estender a Revolução aos campos de futebol.
Os árbitros exigiram a garantia de condições de segurança para apitarem as partidas. Dois casos que chocaram pela violência das agressões foram emblemas da cruzada dos homens do apito. Um espancamento e uma agressão à pedrada, entre outros incidentes (onde os juízes também ajudaram um polícia a salvar-se da ira popular), desencadearam o boicote. Compromissos de colocar vedações nos campos, segurança feita pelas Forças Armadas e exclusão de estádios até estas exigências estarem garantidas (como o do U. Montemor, onde se atirou a primeira pedra) eram condições impostas pelos árbitros para dirigir os encontros.
António Garrido estava no activo em 1974 e viveu esses momentos conturbados da Revolução de Abril que não deixaram o futebol de fora. E era também um dos quatro membros da comissão coordenadora que representou a classe nas suas reivindicações. «Houve bastantes agressões na jornada anterior, como noutras. Os árbitros, pelo facto de sentirem que não tinham condições, decidiram, não uma greve, mas uma paralisação (na comparência aos jogos) no sentido de ver se as coisas melhoravam», relembrou António Garrido para o Maisfutebol.
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