A primeira derrota do Benfica na Liga explica-se sobretudo com uma enorme desinspiração coletiva e indiscutível mérito vimaranense, mas para o resultado contribuiu igualmente o desequilíbrio que o líder da Liga apresentou a meio-campo.

A ausência de Javi García já deixava adivinhar dificuldades no setor, de resto. Esta foi a terceira derrota da equipa de Jorge Jesus esta época, e o espanhol não participou em nenhum desses encontros, o que diz muito. Matic não oferece as mesmas garantias, já se sabe. O antigo jogador do Chelsea até fez um belo jogo com o Nacional, mas em São Petersburgo e na cidade-berço não conseguiu ser o ponto de equilíbrio de que a equipa precisava. Acaba até por ter responsabilidades no golo de Toscano, pois era o seu marcador direto.

Deixar Witsel no banco agravou o problema do Benfica na faixa central. Sem a habitual ligação belga, a equipa encarnada ficou partida em dois. Avaliar a decisão de Jesus agora é obviamente mais fácil, mas a verdade é que poucos não terão ficado surpreendidos. Dos dezoito jogos que o Benfica já tinha disputado fora de casa, esta época, o antigo jogador do Standard só não tinha sido titular em três, sendo que dois deles foram da Taça de Portugal, em que Jesus apostou em jogadores menos utilizados. De resto, o técnico só prescindiu do belga numa deslocação: Barcelos, na ronda inaugural da Liga.

Foi a contratação de Witsel que permitiu a Jesus incutir ao Benfica um perfil mais sólido. Sobretudo nas exigentes noites europeias, mas também nos mais difíceis compromissos internos, o técnico privilegia um meio-campo com Javi, Witsel e Aimar. Foi assim em sete deslocações, às quais se somam mais três em que o belga jogou mais sobre o corredor direito.

Em Guimarães o técnico encarnado preferiu a abordagem mais audaz, e o Benfica acabou punido. Não tanto por aquilo que destapou na retaguarda, mas sobretudo pela forma partida como jogou. Essa foi a parte estratégica que correu mal, ainda que a equipa tenha revelado sobretudo desinspiração generalizada, como já foi referido. Mérito também da abordagem da equipa da casa, claro, cujo treinador tem tido o mérito de saber esconder as lacunas herdadas (a falta de extremos, por exemplo).

P.S. (para seguir): os mais atentos lembram-se certamente de Martin Harnik, jogador do Estugarda que marcou ao Benfica na Luz, em 2010/11. Esta época continua a dar nas vistas, já com onze golos marcados na Bundesliga. Nascido em Hamburgo há 24 anos, mas internacional austríaco, é um extremo direito de grande qualidade, muito astuto a aparecer em zonas de finalização. A merecer outras lutas.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-táctica do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.