O debate tático mais interessante do momento prende-se com a utilização de James no flanco ou a «10», mas essa questão já foi abordada neste espaço, há cerca de um ano, num texto que sustenta uma opinião favorável à utilização do colombiano a partir da ala, mas com liberdade para fazer a diagonal para espaços interiores, como já é habitual. Pelo menos tendo em conta as opções atuais de Vítor Pereira.

Centro-me então em Enzo Pérez e no seu irmão gémeo. Sim, que este camisola 35 do Benfica nada tem a ver com aquele chegou à Luz, lesionou-se na estreia e logo quis voltar à Argentina. A adaptação à zona central do terreno só veio confirmar um Enzo mais comprometido, mais decidido a vingar de águia de peito. Mesmo que aqueles que o viram no Estudiantes saibam que «El Principito» pode render muito mais.

Embora tivesse conquistado a titularidade no lado esquerdo do ataque, Enzo respondeu com a postura certa ao desafio gerado pela saída de Witsel e pelos problemas físicos de Carlos Martins. De dois jogos na posição «8» saiu com nota positiva. Jorge Jesus disse mesmo, em Glasgow, ter ficado encantado com a cultura tática do internacional argentino. É isso que tem surpreendido mais, de facto. Quando se adapta um extremo a médio-centro é de esperar que tenha tendência para perder as referências posicionais e procure estar o mais próximo da baliza possível, mas Enzo tem sido um jogador muito equilibrado. Recupera bolas, joga em espaços curtos e vai ao choque, quando o normal, na posição de raiz, é assumir o risco de perder a bola em lances de 1x1 e procurar zonas menos povoadas para fugir ao choque e desequilibrar.

Não quer isto dizer que Enzo Pérez seja uma solução melhor do que Carlos Martins, ou que a sua presença no «miolo» dispense a titularidade de Aimar. Para jogar com apenas dois médios (Matic + 1) talvez faça mais sentido o internacional português, pela forma como consegue conciliar a aplicação defensiva e capacidade para pegar no jogo de uma posição mais recuada. Enzo Pérez não tem a mesma aptidão para encontrar buracos nas defesas contrárias, através do passe, e por isso precisa de um complemento. Ou ter Aimar à sua frente, com aquele dom para inventar caminhos para o golo, ou ter Martins ao seu lado (e Matic mais atrás), para um meio-campo mais homogéneo.

P.S. (para seguir): Uma das estrelas da primeira jornada da Liga dos Campeões, Henrikh Mkhitaryan está a fazer um início de época absolutamente arrebatador. Catorze golos em onze jogos são números de ponta de lança, mas o internacional arménio é, na verdade, um médio com uma impressionante capacidade para aparecer em zona de finalização, mas também para lançar os colegas. Contratado pelo Shakhtar em 2010, tem sido um grande aliado da armada brasileira. Em 2011/12 foi mesmo eleito o melhor jogador do clube, pelos adeptos. Filho de um antigo internacional arménio, já falecido (a mãe trabalha na federação daquele país e a irmã mais velha na UEFA), Henrikh Mkhitaryan nasceu para ser jogador de futebol. Com apenas 23 anos constrói o reinado de melhor figura da história do futebol arménia, mas esse título parece pouco para o talento que vai mostrando.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.