No mesmo fim de semana em que Manuel Pellegrini aproveitou para equilibrar o saldo nos confrontos com José Mourinho, eliminando o Chelsea da Taça, depois de duas derrotas com os «blues», o estádio Emirates foi palco de outra desforra sobre um desaire recente: uma semana depois de ser humilhado em Anfield, pelo Liverpool, o Arsenal deixou também os «reds» pelo caminho (2-1), fazendo as pazes com os adeptos, depois de um dececionante nulo caseiro a meio da semana, com o Manchester United. «Era vital responder à nossa atuação dececionante em Liverpool. Fiquei feliz com a intensidade, empenho e determinação dos meus jogadores, pudemos sentir a vontade intensa de aproveitar todas as oportunidades», admitiu o técnico Arsène Wenger no final da partida.

O jogo deste domingo teve o jovem Oxlade-Chamberlain como protagonista: o extremo de 20 anos marcou o primeiro golo da sua equipa, e ofereceu o segundo a Podolski, reforçando com esta exibição uma candidatura cada vez mais firme a uma vaga no próximo Mundial.

Já com 2-0 no marcador, os autores dos golos dos «reds» estiveram na origem do segundo ato da partida, marcado pela forte ponta final do Liverpool e, em especial, pela polémica em redor da arbitragem de Howard Webb, talvez perturbado por este curioso momento na primeira parte, em que pareceu genuinamente contemplar a hipótese de partir o braço a Raheem Sterling depois de este lhe tocar no peito.



Pouco depois de Podolski ter derrubado Suarez na área, e de Gerrard converter o penálti, Oxlade-Chamberlain fez o mesmo nas barbas de Webb que, talvez iludido pela queda aparatosa de Suarez, mandou prosseguir o lance:



Brendan Rodgers, técnico do Liverpool, admitiu ter ficado incrédulo com a decisão: «Nada pode mudar a decisão, mas vou falar com alguém da federação, porque seria bom saber por que razão não foi assinalado. Foi ainda mais claro do que o primeiro lance, e Howard estava em excelente posição. Não sei se terá sido por este lance ter acontecido logo a seguir ao outro penálti», admitiu. Mas o juiz inglês, que já foi considerado pela FIFA como o melhor do mundo e dirigiu a final do último Mundial, confirmou mais uma vez estar a viver uma má temporada: pouco depois deste lance, também fez vista grossa a um penálti sobre Cazorla 




e perdoou o segundo amarelo a Steven Gerrard, fazendo com que, no final da partida, os adeptos dos dois lados estivessem estranhamente de acordo, unindo-se num coro de desaprovação («não tens condições para apitar»), testemunhado pelos jornalistas presentes, como o correspondente do France Football:




Seja como for, a vitória deste domingo fez com que Arsène Wenger restaurasse a moral da equipa, quatro dias antes do complicadíssimo jogo com o Bayern, para a Liga dos Campeões. Ao mesmo tempo, o técnico francês recuperou algum do orgulho ferido nos últimos dias, o que lhe permitiu retomar o diálogo azedo dos últimos dias com José Mourinho, que o tinha rotulado como «especialista em falhanços»: «Sinto embaraço por ele, a sério. Nunca me referi a ele na minha conferência e por isso não tenho nada a acrescentar em relação a frases tontas e desrespeitosas. É mais dececionante para o Chelsea do que para mim», concluiu.

Para todos os efeitos, para além da tarde desastrosa de Webb e dos ajustes de contas entre os grandes e milionários, a jornada de Taça inglesa serviu também para provar que a mística da prova continua bem viva. Além de um Arsenal-Everton como cabeça de cartaz para os quartos-de-final, deixou já a garantia de que, para manter a tradição, vai estar pelo menos uma equipa dos escalões inferiores nas meias-finais. E uma delas pode bem ser o Sheffield United, que apesar de estar nesta altura ameaçado de descida ao quarto escalão, garantiu o passaporte para os últimos oito deixando pelo caminho outro histórico, o ex-campeão europeu Nottingham Forest.

Programa dos quartos de final, a 8 de março:
Arsenal (I)-Everton (I)
Brighton (II) ou Hull (I)-Sunderland (I)
Manchester City (I)-Wigan (II)
Sheffield Utd (III)-Sheffield Wednesday (II) ou Charlton (II)

Entre parêntesis, o escalão a que pertencem