O Estoril deixa de ter futebol profissional! As portas foram fechadas esta quinta-feira. «Os jogadores estiveram no clube e despediram-se um dos outros. Morreu um projecto que durou quatro anos», anunciou ao Maisfutebol António Figueiredo, presidente da SAD do Estoril.
«Não estive com os jogadores hoje. Andei a queimar os últimos cartuchos na tentativa de encontrar uma solução, sabendo que podíamos morrer na praia», desenvolveu.
António Figueiredo desconhece qual vai ser o futuro do clube, agora que a SAD vai encerrar. «É praticamente definitivo que não vamos comparecer sábado com o Desportivo das Aves, a não ser que se conseguia de alguma forma fazer um esforço no sentido de agarrar esta queda. Mas é praticamente definitivo que a curto prazo não haverá futebol sénior. As coisas agora ficarão nas mãos do Grupo Desportivo Estoril Praia que tem uma magnífica equipa de juniores.»
O presidente da SAD canarinha não quer atribuir culpas a ninguém para a situação a que o clube chegou, mas diz sentir-se enganado: «A culpa não é de ninguém. O que falhou foi a empresa accionista com 40 por cento da SAD que não colocou nem um cêntimo do valor que estava acordado. Sinto-me enganado pois quando fomos a Londres se nos dissessem que as intenções eram estas não tínhamos criado a equipa como criámos.»
Para além deste facto, António Figueiredo aponta ainda o dedo à falta de apoio camarário: «As ajudas não são nenhumas e estou pouco crente que possam existir algumas. Há uma grande diferença nos apoios. Por exemplo, a SAD do Leixões recebeu da Câmara Municipal 600 mil euros o que significa uma ajuda preciosa. A Câmara Municipal de Cascais entregou ao clube a posição que tinha na SAD do Estoril e entende que não tem de dar dinheiros camarários para o futebol profissional. Se recebêssemos 600 mil euros da Câmara tínhamos condições para chegar ao fim da época.»
Por tudo isto, o ainda presidente da SAD do Estoril sente-se triste, mas de consciência tranquila: «Sinto que fiz tudo o que era humanamente possível. Não me saiu o Euromilhões nem tenho fortuna pessoal por isso fiz tudo o que era possível.»
Terminar com o futebol profissional do Estoril significa que 14 jogadores que ainda constavam do plantel ficam sem clube. António Figueiredo desconhece se haverá verbas para liquidar os cerca de três meses e meio de salários que estão em atraso: «Se a SAD tiver condições irá pagar. A SAD tem também outras obrigações e ainda existem activos, mas são inferiores ao passivo. A Administração vai reunir-se nos próximos dias para dissolver a SAD e entregar a documentação no Tribunal de Cascais.»
O fechar de portas do Estoril deve servir de alerta. «A nível de quadros competitivos é insustentável. O nosso estádio tem capacidade para 4900 lugares e na Liga de Honra está sempre vazio. Na época passada quando estávamos na Liga nunca esgotou, nem com Sporting e F.C. Porto. Só quando deslocámos o jogo do Benfica para o Algarve é que conseguimos uma receita importante que nos permitiu pagar os últimos três meses de ordenados. Tudo o que não seja da primeira Liga ou alguém mete dinheiro ou é impossível. Se as coisas não forem alteradas são coisas vão piorar no futebol português. Esta situação já aconteceu a históricos como o Salgueiros e o Farense. Agora é a vez do Estoril. A curto prazo vai acontecer a muitas equipas do futebol português», concluiu António Figueiredo.