São 28 as seleções africanas que vão jogar a partir de sexta-feira na corrida à CAN 2015. Mas não sabem para onde correm. A dois meses da prova maior do continente africano, não há sede para a competição. Era Marrocos e deixou de ser, numa decisão que teve como pano de fundo receios sanitários por causa da epidemia de Ébola em algumas zonas do continente. A Confederação africana (CAF) promete uma decisão em dois a três dias e garante que tem alternativas, mas para já não há qualquer destino concreto sobre a mesa. Hipóteses são muitas, até no Qatar se falou.

Faltam duas jornadas para o fim da qualificação e a incerteza afeta toda a gente que está a lutar pelo apuramento, mas também quem já o conseguiu. Nesta altura há apenas duas seleções com o apuramento no bolso: Argélia e Cabo Verde.

Para Cabo Verde, a decisão de retirar a organização a Marrocos não é seguramente positiva, defende o selecionador Rui Águas. Antes de mais do ponto de vista dos adeptos. «Para nós não será bom. Pela proximidade, era mais simples e mais barato para as pessoas daqui irem a Marrocos. Não é positivo de todo», diz o treinador ao Maisfutebol: «Para quem vive em Portugal ir a Marrocos era um pulinho, para quem está aqui também.»

«Estamos a acompanhar a situação na expectativa. Contávamos com um cenário e agora mudou», prossegue Rui Águas. Isto porque o planeamento da fase final também fica, obviamente, afetado. Não estava fechado para Cabo Verde, até porque a incerteza sobre Marrocos já se arrastava há muito, mas agora vai ter que se fazer em andamento. «Vamos pensando no planeamento, de acordo com a localização. Não temos nada perfeitamente estabilizado», diz, antes de salientar que Cabo Verde, pelo menos, já atingiu o mais importante.

«Estaremos preparados para o que for, seja onde for. O que interessa é a equipa ter conseguido apurar-se e ter merecido», nota, antes de mais um confronto, agora em casa com o Níger, onde Cabo Verde procura garantir mais um objetivo: «É o jogo que pode determinar o primeiro lugar, o que é positivo e pode beneficiar a equipa na fase final.»
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Rui Águas evita de resto comentar a decisão propriamente dita, que surgiu depois de Marrocos ter pedido o adiamento da prova por seis meses pelo menos, alegando com o risco de acolher no país seleções e adeptos de zonas afetadas pelo Ébola, que desde março deste ano já matou quase cinco mil pessoas, sobretudo em países da África ocidental, como a Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacri. «Respeito a decisão. Não vem certamente apenas da seleção de Marrocos, virá do Estado também«, diz o treinador português.

Quanto à questão do Ébola, num país onde o vírus não é uma ameaça direta, como não é em Marrocos, Rui Águas diz que ele não afeta o dia a dia das pessoas, nem é uma preocupação premente: «Na minha vivência, onde tenho estado, não. Aqui e ali, em aeroportos africanos, sente-se mais algum controlo.»

Houve várias vozes críticas da decisão de Marrocos. Uma delas, relevante, a de Yaya Touré. O médio marfinense do Manchester City, há três anos consecutivos vencedor do troféu para o melhor jogador africano, fala numa decisão política, lembrando que Marrocos até vai acolher, já em dezembro, o Mundial de clubes.

«A decisão de Marrocos é difícil de compreender, tanto mais que organiza daqui a um mês o Mundial de clubes e que a companhia aérea marroquina já não faz voos para regiões infetadas com Ébola», disse Touré ao canal France24, considerando que «os argumentos sanitários não são válidos»: «Na minha opinião, foi a decisão política que prevaleceu.»



Marrocos argumentou que o Mundial de clubes não terá países de zonas afetadas pelo Ébola (terá dois clubes africanos, um marroquino e um argelino), e reafirma que não abdicou de organizar a prova, mas apenas quis adiá-la.

O país, recorde-se, estava apurado para a CAN 2015 como anfitrião e neste processo foi desqualificado pela CAN, que pretende substituí-lo pelo novo anfitrião. Se este for um país já apurado, ainda não é claro o que acontecerá. Mas antes dessa ainda há outras incertezas a resolver.

A Confederação africana mostrou-se desde sempre intransigente sobre a alteração das datas da CAN. O seu presidente, o eterno Issa Hayatou, explicou agora alguns dos argumentos para essa atitude, invocando os compromissos com patrocinadores e a credibilidade da prova para justificar a intransigência. Mas não só, também referiu as dificuldades que surgiriam para libertar jogadores noutras datas.

«A partir do momento em que adiássemos o evento, ficaria aberta a porta para toda a gente pedir o adiamento de qualquer competição e já não seria credível», defendeu Hayatou, em declarações ao France 24. «Iríamos prejudicar os nossos patrocinadores e parceiros. Toda a gente diria que não estávamos prontos e finalmente seria a CAF a pagar o preço. Foi o que disse aos marroquinos. Não podemos assinar a nossa sentença de morte, se adiássemos o evento seria muito prejudicial para o futebol africano. Construímos esta casa pacientemente durante 57 anos», insistiu: «Não vamos deixar ninguém destruir o trabalho que desenvolvemos pacientemente durante anos.»

Mudar as datas, como começou por sugerir Marrocos, não era alternativa, considera ainda Hayatou. «O que dissemos no comunicado é que a CAN 2015 tem de se realizar imperativamente de 17 de janeiro a 8 de fevereiro, por razões que conhecem. Houve muitas razões que nos levaram a não mudar a data. Temos um problema com os clubes franceses, que não libertariam os jogadores se mudássemos a prova.»

Hayatou disse também que haverá uma decisão em dois ou três dias e que «há outros candidatos» a organizar a prova. Mas não é claro quem serão. Desde o anúncio, já se sucederam em vários media internacionais uma série de listas com hipóteses. Algumas já desmentidas. O jornal LÉquipe chegou a falar do Qatar, por estranho que pareça a hipótese de um anfitrião fora de África, mas os responsáveis do país designado para organizar o Mundial 2022 já desmentiram.

Angola, apontada por várias fontes como hipótese, também disse que não está interessada, tal como, por exemplo, o Egito. A Guiné Equatorial, dizem ainda em França, será uma das possibilidades concretas, depois de já ter organizado a prova em conjunto com o Gabão em 2012. O Gabão, treinado pelo português Jorge Costa e muito perto da qualificação, foi outra das alternativas lançadas para o debate.