1000 jogos, milhares de histórias e muitos troféus em tempo de recordar uma das grandes figuras do futebol mundial. Alex Ferguson dirige esta terça-feira o seu 1000º jogo à frente do Manchester United. Frente ao Lyon, para a Liga dos Campeões, o treinador escocês tem «o jogo perfeito» para assinalar a efeméride, segundo diz o próprio.
O antigo operário da construção naval, que também foi dono de um pub e gosta de cavalos chegou ao topo do Mundo no banco dos «Reds». Jogou a avançado, com a camisola do Queens Park, Saint Johnstone, Dunfermline, Rangers, Falkirk e Ayr United e dedicou-se depois à carreira de treinador. Primeiro na Escócia, onde em oito anos à frente do Aberdeen foi três vezes campeão e ganhou uma Taça das Taças, depois na selecção da Escócia.
Chega a Old Trafford em 1986, para dirigir um clube em situação difícil. O Manchester United não era campeão desde 1967, andava à procura da glória perdida nos tempos de Matt Busby, George Best e Bobby Charlton. O início de Ferguson não seria fácil.
O seu primeiro jogo terminou com uma derrota frente ao Oxford, os tempos que se seguiram não foram brilhantes e a derrota frente ao vizinho Manchester City por 1-5, em 1989, parecia representar o fim do seu consulado em Old Trafford. Mas o clube manteve a confiança no treinador, que estava a colocar em prática uma política de prospecção e formação que havia de dar frutos em breve.
E os títulos começaram a aparecer. Em 1990 ganha a Taça de Inglaterra, em 1991 a Taça das Taças e em 1993 o título de campeão inglês que o United não vencia há 25 anos. Estava lançada a equipa que havia de manter-se no topo do futebol europeu até hoje. Ferguson foi descobrindo e potenciando o talento de jogadores como Cantona, Schmeichel, Giggs ou Beckham, o United foi crescendo, até à coroa de glória do treinador, a conquista da Liga dos Campeões em 1999, com direito a reviravolta nos últimos instantes, frente ao Bayern Munique. Até hoje, o seu balanço é de 563 vitórias, 188 empates e 248 derrotas.
Carlos Queiroz, o português que Alex Ferguson já chamou por duas vezes para o seu lado e que trabalha como braço direito do escocês, que ganhou o título de Sir pelos seus feitos, faz uma analogia curiosa, para definir a importância do marco atingido por Fergie. «Passar 18 anos num clube é muito invulgar. Às vezes em Portugal, onde os treinadores podem perder os empregos ainda antes do começo da época, 18 dias podem ser considerados uma proeza», afirmou Queiroz, citado pela BBC, dando conta do seu respeito por um homem «estimado em todo o Mundo e que é um modelo para todos os treinadores».
Ferguson sorri e promete continuar. Aos 62 anos, renovou recentemente com o United e diz que não pensa em ir-se embora, sobretudo se sentir que deixa «dores de cabeça ou dilemas» a quem lhe suceder. E por esta altura o Manchester United até atravessa uma fase complicada, com dúvidas quanto à capacidade de renovação da equipa, embora com jovens talentos já confirmados, como Cristiano Ronaldo ou Wayne Rooney.
Continuaremos a ver Ferguson, muitas vezes de rosto fechado, ar antipático, mas também com sentido de humor inesperado. O homem que tem fama, e proveito, de ser duro com os jogadores, protagonista de um episódio para a memória das melhores histórias, a bota atirada ao sobrolho de David Beckham. Mas também, indiscutivelmente, um grande líder.