A esta hora, o mais provável é que o adepto comum já não tenha paciência para o triunvirato Choupana-nevoeiro-adiamento. Perfeitamente normal.

O FC Porto já teve de fazer um jogo contra o União da Madeira em data revista, o Benfica defronta na próxima terça o mesmo União para acertar calendário, e este domingo o Nacional-FC Porto foi suspenso a 15 minutos do fim e é reatado na segunda-feira, 12h30.

O culpado? Sempre o mesmo, sempre o nevoeiro que anuncia heróis e destrói jogos.

Nessa zona concreta da Ilha da Madeira, o inverno está a ser exigente, mas há sítios bem piores para se jogar futebol. Podíamos pensar em locais exóticos, como as Ilhas Faroe, Svalbard ou o Fim do Mundo, mas não é preciso ir tão longe.

Nevoeiro da Choupana: elemento importante da Liga

Sabia que o Airdrie-Stranraer, relativo à Taça da Escócia, foi remarcado 33 vezes? Tudo por culpa do rigoroso inverno de 1963. Durante três longos meses, a neve, a chuva e o frio obrigaram a uma radical reorganização do calendário desportivo e esse jogo tornou-se icónico, símbolo da luta entre o desporto e a natureza.

Outro exemplo. Também na Escócia, também na taça. Inverness e Falkirk só à 30ª tentativa (22 de fevereiro de 1979) conseguiram concluir com sucesso o jogo. Inicialmente marcado para 6 de janeiro de 1979, foi sucessivamente interrompido, até ao glorioso dia de 22 de fevereiro.  

Comparado com isto, na verdade, o nevoeiro da Choupana é uma brincadeira de meninos. Incomoda, claro, causa transtornos, mas tudo é resolvido com alguma facilidade.  

O futebol é um jogo de quatro estações, ao ar livre, e estas situações são até mais vulgares do que se julga em Portugal.

O Maisfutebol junta sete exemplos de jogos adiados e retomados, no dia seguinte ou mais tarde, como forma de motivação para os adeptos e responsáveis de Nacional e FC Porto.

Não vale a pena amuar. Podia ser bem pior. Já imaginou o FC Porto - ou outro clube do continente - a ter de viajar 33 vezes até à Madeira, sempre para o mesmo jogo?

SETE JOGOS SUSPENSOS NA LIGA PORTUGUESA

1995/96: D. Chaves-Sporting (2 minutos/12 dias de diferença)


A 30 de dezembro de 1995, o Sporting faz mais uma visita a Chaves em pleno inverno. Os flavienses marcam pelo espanhol Miner, de penálti, e o Sporting só empata a quatro minutos do fim, num livre exemplarmente cobrado por Carlos Xavier. Os leões carregam, carregam, e as iluminação do Municipal de Chaves vai ao ar. Tudo às escuras.

Os dois minutos que faltam são jogados a 11 de janeiro, 12 dias depois. Sem alteração do resultado original, mas com prejuízo para o Sporting no calendário. Dois dias depois recebe o FC Porto e Domingos Paciência resolve tudo: 0-2, bis do fininho das Antas.


2010/11 : Nacional-Naval (36 minutos/reatado no dia seguinte)

O argumento deste jogo na Choupana é mais complicado do que o habitual. Inicialmente agendado para domingo, 5 de dezembro, a partida nem chega a começar. Adiada para segunda-feira, Nacional e Naval só conseguem fazer 54 minutos. Resultado? 1-1 e o nevoeiro a regressar em força.

Os restantes 36 minutos são disputados já na terça-feira. O Nacional prefere jogar às 16h30, a Naval escolhe a manhã, a Liga indica as 16 horas. E à terceira, sim, o duelo realiza-se e vai até ao fim.

Mais uma vez, o golo surge logo no recomeço. Nuno Pinto faz o 2-1 e garante a vitória para o Nacional.

2011/12: Gil Vicente-Marítimo (15 minutos/reatado no dia seguinte)

O nevoeiro não é um exclusivo da Choupana. Em Barcelos, 1 de novembro de 2011, Gil e Marítimo jogam só até aos 75 minutos. Sem golos. Jogo interrompido duas vezes e à terceira em definitivo. Tal como no Nacional-FC Porto deste domingo, de resto.

No dia a seguir, mais uma grande defesa de Adriano Facchini, mas o nulo a prevalecer.



2012/13: P. Ferreira-Estoril (13 minutos/reatado no dia seguinte)

Paços Ferreira e Estoril empatam a zero quando um denso manto de nevoeiro (sempre ele) se apodera da Mata real. O árbitro Bruno Paixão reagenda os 13 minutos em falta para o dia seguinte.

No recomeço, golo de Manuel José, 1-0 para o Paços. Três pontos conquistados num curto espaço de tempo.

2013/14: Benfica-Sporting (dérbi não chega a arrancar)

Ventos fortes atiram material que se acumulara na cobertura do estádio. O relvado e as bancadas são atingidos, a Proteção Civil aconselha o adiamento da partida. A organização do jogo ainda aguarda 60 minutos, mas não há nada a fazer, por questões de segurança.

O dérbi passa de domingo para terça-feira, 48 horas depois. Ganha o Benfica, 2-0, golos de Nico Gaitán e Enzo Pérez.



2014/15: Nacional-V. Setúbal (78 minutos/reatado no dia seguinte)

Aqui não há que enganar. A altitude do Estádio da Madeira propicia o aparecimento de nevoeiro e este é um dos exemplos mais recentes. O jogo é suspenso aos 12 minutos e retomado logo no dia seguinte, para se jogarem os 78 em falta.

Os madeirenses entram com tudo e marcam logo aos 13 minutos. Ou seja, no primeiro minuto. O jogo acaba 3-0, golos de Luís Aurélio, Marco Matias e Lucas João.

2014/15: Estoril-PSV (45 minutos/reatado no dia seguinte)

Um dilúvio abate-se sobre o Campo António Coimbra da Mota. Ao intervalo, o Estoril vence por 3-2, mas ninguém regressa dos balneários para a segunda parte. Impressionante carga de água, marcações engolidas pela chuva, relvado completamente encharcado.

A segunda parte disputa-se logo no dia seguinte. Aos 82 minutos, Wijnaldum faz o golo do PSV, empata o jogo e destrói as possibilidades de o Estoril chegar aos 16-avos-de-final da Liga Europa.