Este domingo ao final da tarde, no estádio do Dragão, todos os olhos vão estar colocados em cima de um miúdo de dezassete anos. De Anderson já se traçaram maravilhas, verdadeiros cenários de ilusão que despertam a curiosidade e aguçam o apetite dos adeptos. Mas estará o jovem brasileiro preparado para a estreia? O Maisfutebol foi procurar a resposta dos dois lados do oceano atlântico. Começou por falar com Cuca, o treinador que o lançou no Grémio quando Anderson tinha apenas dezasseis anos. O treinador brasileiro acha que sim e recorda que o estreou num Grenal. Um Grémio-Internacional.
Trata-se do maior clássico do futebol gaúcho, na grande cidade de Porto Alegre, e um dos derbies mais furiosos do mundo. «Ele portou-se tão bem que quinze minutos depois de entrar em campo já estavam todos os adeptos do clube a gritar o nome dele». Tinha então dezasseis anos. Mas Cuca apresenta mais justificações na defesa Anderson. E recorda uma história que não é nova, mas que para ele é sintomática. «Um dia fui almoçar ao refeitório dos juniores e vejo entrar um jovem com rastas, brincos nas duas orelhas e com dois telemóveis, a falar com um e a gesticular com outro».
O miúdo chamou a atenção de Cuca que no final da refeição foi falar com ele. «Disse-lhe que devia ser muito importante para ter dois telemóveis. Ele respondeu-me que não tinha nada a ver com isso, que os tinha ganho num torneio de juniores e num jogo da selecção brasileira». Você vai à selecção, é? Deve ser bom jogador, disse-lhe Cuca. Sou bom jogador, sim. Sou melhor do que qualquer um dos que você tem lá no seu plantel, respondeu. «Eu disse-lhe que queria ver isso e que aparecesse no treino da tarde. Respondeu-me que não ia porque já tinha uma consulta no dentista». Cuca apreciou a ousadia e acabou por o levar no dia seguinte para um estágio de preparação do derby com o Internacional. Depois convocou-o para o jogo».
Anderson começou no banco, mas logo nos primeiros minutos um jogador do Grémio foi expulso e a equipa sofreu um golo. «Ao intervalo disse-lhe que era altura de mostrar que era melhor do que os outros. E que se não o fizesse ia contar a toda a gente o que ele dissera», conta. «Entrou em campo e pouco depois marcou um golo. Se estiver bem fisicamente, ele pode jogar em qualquer equipa». Nelson Rodrigues, seleccionador sub-17 brasileiro, também conhece bem Anderson. Diz que ele está pronto para jogar e recorda a estreia no Grenal como exemplo. «Embora seja muito novo, ele já está basicamente formado como jogador. É muito forte psicologicamente e não tem medo de enfrentar circunstâncias nenhumas. Nem adeptos, nem televisão, nem nada. O F.C. Porto pode esperar grandes jogadas de força, de velocidade e de técnica».
Como o futebol português não é igual ao brasileiro, Manuel António discorda. O treinador do Infesta viu Anderson em acção quando defrontou o F.C. Porto B e é da opinião que o brasileiro ainda não está no ponto. «Via-se que ele queria fazer mais e não conseguia», conta. «Acho que ainda é cedo para que um miúdo de dezassete anos possa entrar numa equipa como o F.C. Porto. Ele até pega na equipa, não tem medo de assumir o jogo, procura a bola sem problema nenhum, parte para cima dos adversários, mas falta-lhe consistência. Acho que entrando nos últimos dez ou quinze minutos dos jogos, então sim poderá com o tempo tornar-se uma mais valia. Mas para já é preciso ter calma com ele. Querer que ele assuma demasiadas responsabilidades pode queimá-lo».