A capacidade do F.C. Porto se regenerar e continuar a ganhar foi motivo de uma reportagem da prestigiada revista francesa France Football. A magazine entrevistou Antero Henrique, diretor geral da SAD portista, que explicou a receita do sucesso do clube na projeção de novos talentos.

«O sucesso do F.C. Porto assenta em três pressupostos: recrutamento, desenvolvimento e rendimento. O recrutamento articula-se com o scouting, o desenvolvimento tem a ver com a formação e o rendimento com a produtividade do jogador na equipa principal», começou por referir.

«A maior parte dos jogadores chegam muito novos ao clube e iniciam desde logo uma formação permanente. Se, ao nível do recrutamento, privilegiamos o talento individual, ao nível da formação é a preocupação com a integração num trabalho coletivo que colocamos em primeiro lugar.»

Os jogadores titulares e os emergentes

Antero Henrique explica que os jogadores são divididos em dois grupos: titulares e emergentes. «Os emergentes, geralmente mais jovens, devem ter condições de substituir os titulares a qualquer momento. É um risco assumido e que nos permite estar preparados para os grandes orçamentos.»

A France Football lembra, de resto, que a lista de casos de sucesso do F.C. Porto é muito grande. Fala de Jardel, de Hulk e de Deco, por exemplo. Antero Henrique adianta que tudo passa por não hesitar em procurar mercados desconhecidos, atuar com grande rapidez e assumir os riscos.

O diretor aborda o caso particular de Hulk, descoberto da segunda divisão japonesa. «Temos uma estrutura eficiente, que nos permite ter acesso rápido a informações sobre o potencial do jogador. Temos uma rede eficaz de empresários com quem trabalhamos em perfeita harmonia», garante.

250 olheiros entre scouts e agentes amigos

Parte do sucesso, acrescenta, passa por aí: pela rede de contactos do F.C. Porto. «Trabalhamos com 250 olheiros, tanto internos como externos ao clube», revela. «Realizamos vários níveis de observação, o que nos garante que cada jogador é supervisionado por várias pessoas diferentes.»

Mas há mais: o F.C. Porto, por exemplo, trabalha com aquilo a que chama «equipas virtuais». No fundo, explica Antero Henrique, trata-se de reagrupamentos dos jogadores mais interessantes de cada campeonato, em que cada um é colocado na sua posição e fica sob observação permanente.

Lembrando os casos de Kelvin, Danilo e Alex Sandro, que foram contratados na perspetiva de vender Álvaro Pereira e Moutinho, mais Atsu que estava de prevenção para a saída de Hulk, a revista elogia a capacidade do F.C. Porto não ser apanhado desprevenido pelos grandes europeus.

«Geralmente nós temos o cuidado de dar tempo aos jovens para que se adaptem sem pressão», garante. «O Alex Sandro, por exemplo, só este ano se tornou titular. Antes disso pôde compreender o que é o F.C. Porto, qual é a nossa identidade, a nossa cultura e os nossos métodos de trabalho.»

A apetência pelo mercado sul americano

Por fim, falou-se da apetência portista pelo mercado americano. «Se abordássemos, por exemplo, um jogador alemão, não teríamos nada de especial para lhe oferecer. Mas se falamos com um brasileiro, ele sabe que vai dar um passo de gigante na carreira e melhorar as condições de vida.»

Regra geral, adianta a revista, esse jogador acabará por sair por mais dinheiro. «Mas ele deixa o clube para somar mais no plano económico e sabe que a maior parte das vezes ganhará menos troféus», adianta Antero. «Não é por acaso que somos o clube mais titulado da Europa no séc. XXI.»