Esta é uma estória das Arábias. Não abarca mil e uma noites, lâmpadas mágicas ou tapetes voadores. Nem sequer há espaço para a dança do ventre. Esta é uma estória sobre o futebol nas Arábias. Um espaço que começa a ter, cada vez mais, destaque em solo lusitano, ou não estivéssemos a falar de um oásis para muitos jogadores, que encontram naquela zona a tábua de salvação económica de uma carreira. Um bóiaa que compensa o afastamento e disfarça a realidade local. Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrain, Irão...Não é difícil encontrar caras conhecidas do campeonato português por estas paragens.
Armando Sá, moçambicano de nascimento, é um deles. Em Portugal deu nas vistas no Rio Ave e no Sp. Braga, antes de rumar ao Benfica, numa transacção que incluiu Tiago e Ricardo Rocha e que foi notícia por uns tempos. Da Luz saiu com o objectivo de conquistar a Europa. Três anos depois estava no maior dos continentes.
«Não me passava pela cabeça vir para cá, ao início, e foi um choque muito grande. Vinha do Leeds, da Liga inglesa, depois de ter jogado no Villareal, Espanhol ou no Benfica e encontrei um mundo totalmente diferente. Ainda é preciso dar passos mais fortes para o profissionalismo. Desportivamente é a grande diferença», salienta Armando Sá, em declarações ao Maisfutebol.
Chegou para o Foolad, equipa orientada por Augusto Inácio. O sogro, curiosamente. No mesmo pacote chegavam o guarda-redes Carlos, agora no Rio Ave, e os brasileiros Sandro e Fábio Januário (ex-Belenenses). Uma pequena colónia com sotaque português. «Encontrei um grupo de trabalho muito bom. Tinha com quem conversar. Facilitou a adaptação. Agora estou só eu, mas o grupo respeita-me e isso facilita muito», assegura.
«Que saudades da comida portuguesa!»
Um ano depois, trocou o Foolad pelo Sepahan, que ainda defende. Desportivamente a época corre de feição. A cinco jornadas do fim, a equipa está isolada na frente com mais seis pontos que o segundo classificado. «Já falta pouco para sermos campeões», atira Armando Sá, por entre risos. Afinal será o primeiro título nacional da carreira.
«Nunca me arrependi de ter vindo para cá, embora no princípio tenha sido complicado. Os grandes obstáculos foram a comunicação e a comida. Mesmo hoje a questão da comida ainda custa, ainda não ultrapassei. No princípio notava diferenças no meu rendimento físico, mas depois comecei a descobrir como me safar. Passei a conhecer os alimentos, onde os encontrar, deixei os restaurantes e passei a comer em casa. Notei logo uma grande diferença. Mas...que saudades eu tenho da comida portuguesa!», desabafa.
A cultura iraniana também não foi de fácil encaixe, como o antigo jogador do Benfica atesta: «Para os europeus é sempre complicado. Mas já me sinto quase em casa. Só não digo que estou mesmo em casa porque essa há só uma, mas estou contente.»
A ligação ao Sepahan termina no final da época e o futuro de Armando Sá é, para já, uma incógnita. O jogador diz que tem propostas de dentro do Irão e não as descarta, atendendo ao estado actual do futebol português que dificulta um possível regresso. «A situação financeira dos clubes portugueses não é a melhor e também tenho de pensar nisso na hora de ponderar um regresso. Quando vim para cá, dizia que ficava um ano e depois ia embora. Todos os anos, no início, digo que é o último e acabo sempre por ficar. Vamos lá ver. Mas é verdade que gostava de voltar a jogar em Portugal, ainda», confessa.