A história do campo da Rua da Rainha confunde-se com as primeiras linhas da história do próprio F.C. Porto. Fundado em 1893 por António Nicolau de Almeida, o Foot Ball Club do Porto nasceu com a intenção de se tornar um marco da cidade e do país. Pouco depois, porém, cairia numa longa letargia. A razão? O casamento do fundador. A nova esposa considerava o futebol um desporto perigoso. Com uma mágoa no coração, Nicolau de Almeida dedica-se a investir nos courts de ténis, um desporto mais chique.

Vários anos passaram até que o F.C. Porto voltasse a ser um clube activo. Passou a sê-lo a partir de 1906 quando foi refundado por José Monteiro da Costa. O nome que justifica o casamento do clube com o campo da Rua da Rainha. A história é simples. O pai de Monteiro da Costa era membro da Companhia Hortícola, que alugava uns terrenos na Rua da Rainha (Rua Antero de Quental depois da implantação da República) para viveiros de plantas. Como os terrenos não eram utilizados na sua totalidade, conseguiu-se a cedência de um pequeno espaço.

Com o espaço foi também cedida uma pequena casita que serviu para a instalação de um vestiário e de um balneário. Marcou-se um rectângulo com 50x30 metros, espetaram-se no chão uns paus que serviam de baliza e foram traçadas umas linhas com cal desfeita em água. Estava encontrada a primeira casa do F.C. Porto. Pouco depois quis a sorte que a Companhia Hortícola transferisse os viveiros para outra zona da cidade. O que deixou todo aquele espaço alugado ao clube a troco de 1200 reis por ano. Monteiro da Costa tratou imediatamente de expandir o recinto. Corria o ano de 1909.

Senhoras só entram com autorização dos maridos

Estendeu o relvado para as medidas oficias da época e colocou-lhe relva, uma ideia que trouxera de Inglaterra, tornando o Campo da Rainha no primeiro relvado em Portugal. Num nível superior ao relvado construiu duas filas de bancos assentes em tijolos pintados de branco que acomodavam 500 pessoas. Ainda pensou construir uma verdadeira bancada, mas desistiu da ideia por não ter espectadores que devolvessem em lucro o investimento necessário. Acrescentou-lhe ainda um bufete, um ginásio, uma pista, courts e um espaço para jogos de cricket num espaço arborizado.

A esposa de Monteiro da Costa aproveitava o espaço para dar aulas de ténis às associadas do clube. Para as senhoras serem sócias do F.C. Porto, porém, tinham que ter a autorização dos maridos. Eram assim os costumes no início do século XX. E apesar de republicano, o presidente era tão conservador como os tempos aconselhavam. Mas em frente. Monteiro da Costa morreu em 1911 de doença súbita. O clube, esse, continuou a viver. Só teve de mudar de casa. Em 1911 o arrendatário do espaço onde estava o campo da Rainha avisou o clube que ia vender os terrenos para a construção de uma fábrica. O F.C. Porto teve de ir à procura de outra casa. Construiu-a na Rua da Constituição, mesmo ali ao lado. Do primeiro lar portista não sobra hoje mais que a memória em folhas de papel.