Nuno Assis não é caso isolado em Portugal. A substância encontrada no controlo anti-doping realizado no final do jogo com o Marítimo, a 3 de Dezembro, foi alvo de intensa investigação em 1999, depois de aparecer num teste efectuado ao atleta Luís Jesus. Na altura, a 19-norandrosterona era praticamente desconhecida, mas o corredor de fundo não se livrou da suspensão de dois anos.
O caso começou a 31 de Janeiro de 1999, quando Luís Jesus acusou uma concentração de 20ng/ml numa análise feita por ocasião da Corrida dos Sinos, em Mafra. Com base nesse valor, foi suspenso, argumentando posteriormente terem existido irregularidades em todo o processo e reclamando inocência, algo que mantém até hoje. Contestou, ainda, o atraso de quatro meses na análise da amostra, bem como o facto de ter fornecido duas amostras, acrescentando a estes argumentos queixas quanto à relevância da Comissão criada pela Federação Portuguesa de Atletismo para estudar o caso.
«Foi o primeiro caso de nandrolona a aparecer no nosso país e as pessoas não sabiam muito bem com o que estavam a lidar, por isso foi uma experiência nova para todos. O que fiquei a saber na altura é que se trata de uma substância que poderia ser criada no nosso organismo numa certa percentagem, mas há outras explicações», referiu ao Maisfutebol, explicando na primeira pessoa as implicações de todo este processo:
«São autorizadas 2ng/ml, mas os especialistas dizem actualmente que possivelmente o organismo poderá criar até 10. A substância pode aparecer no organismo através de uma deficiência enzimática (21-hidroxilase), ou então através de substâncias, que têm várias vertentes. A mais conhecida é através de uma injecção chamada decadurabolim, que combate lesões e aumenta a massa muscular, coisa que no atletismo que eu faço não pode acontecer, porque tomara eu pesar menos ainda e ter menos massa muscular», frisou, confirmando que o mesmo não sucede com os velocistas, porque «necessitam de massa muscular e ganhar peso».
Uma outra explicação
Completamente rejuvenescido após a suspensão, Luis Jesus sabe que poderão haver outras explicações para o sucedido.
«Há outra possibilidade, que é talvez a mais forte delas todas, e que mesmo assim o atleta não tem defesa possível. Imaginemos que toma um suplemento vitamínico comprado numa ervanária, farmácia ou noutra qualquer loja do género, por exemplo, num centro comercial, e acontece muitas das vezes que a discriminação do conteúdo não é total. Quase todos os atletas tomam Powerade ou Gatorade, mas há múltiplas marcas, para além de hidratos de carbono, sais, e muitas vezes o que acontece é que nestes produtos são colocadas essas substâncias dopantes para criar mais efeito e ter maior aceitação no mercado. Faz efeito e não está descriminado, as pessoas compram. O pior é quando vão a um teste¿»
Ciente das implicações que tudo poderá ter em Nuno Assis, deseja-lhe a maior sorte. «Espero que o Nuno Assis tenha força e que o Benfica se comporte da mesma forma que a Conforlimpa se comportou comigo. Ele tem a vantagem de estar no Benfica e de ter o doutor João Paulo Almeida como médico, pois tudo irá fazer para provar a sua inocência. Espero que o Nuno tenha mais sorte do que eu tive e que saia disto ileso», diz com sinceridade, apontado, como exemplo, o que sucedeu no seu caso pessoal após a suspensão de dois anos:
«Voltei a competir em Janeiro de 2001, dois anos depois, na mesma prova onde me castigaram, em Mafra, e venci com um tempo quase idêntico. Passados dois meses fui sétimo no nacional de corta-mato e o melhor português no mundial. Já fiz a melhor marca de sempre na Maratona, em Berlim, e este ano fui terceiro na Taça dos Campeões Europeus de estrada, fui segundo no campeonato nacional de estrada e fui terceiro no nacional de corta-mato. Isto do doping é muito subjectivo e é colocado um rótulo que nunca mais sai».