FC Porto-Atlético. Surpresa, escândalo, Vítor Baía, David. Os adeptos não esquecem uma história com sete anos. Nesta sexta-feira, o sorteio da Taça de Portugal ditou um reencontro entre as partes nos oitavos de final da competição.

O telefone de David irá tocar no Brasil, o avançado irá recordar o tento estranho, de costas, deitado. Aquele que pareceu um feito menor se comparado com o golo ao gordo da contabilidade, num famoso sketch dos Gato Fedorento.

A 19 de outubro, o brasileiro falou com a  Maisfutebol Total e explicou, uma vez mais, o lance. «Na altura, nem me apercebi que tinha marcado deitado. Imagine só: marquei no estádio do Porto, deitado, ao guarda-redes com mais títulos do Mundo. Nem pensei naquele momento. Se pensasse, não marcava.» 


António Pereira, o Mourinho dos pobres, era o treinador do Atlético nessa temporada 2006/07. Pode ver uma reportagem sobre o técnico no final deste artigo. Um  retrato do país real. 

O F.C. Porto mudou desde então, a equipa da Tapadinha também. Fucile foi titular nesse encontro mas está afastado do plantel azul e branco. Do outro lado, um único resistente: Marco Bicho.

Aos 33 anos, o médio continua a ser uma peça importante no Atlético. Aliás, regressou ao clube após passagens por Estoril, Doxa e 1º de Agosto. A 5 de janeiro de 2014, voltará a pisar o relvado do Estádio do Dragão.

Em entrevista à  Maisfutebol Total, Marco Bicho recorda os minutos finais desse histórico encontro.

«Bem, tirando aquela finalização que andámos a treinar durante semanas (risos), íamos para desfrutar o jogo e de repente estávamos a ganhar. E não esqueço que estava no Dragão, a quinze minutos do final, a ouvir os nossos adeptos cantarem o 'cheira bem, cheira a Lisboa', enquanto o FC Porto era assobiado pelo seu público.»

Nessa altura, o clube da Tapadinha estava na II Divisão B e o prémio de jogo caiu bem no grupo. «Terão sido 500 ou 600 euros para cada jogador, à volta disso, pelo que me lembro. Tínhamos um grupo fantástico, fizemos um excelente trabalho nessa altura»

Repetir a graça parece ainda mais difícil. O efeito surpresa desapareceu. «Vamos ver, mas claro que será complicadíssimo. Ainda por cima, por causa dessa história. O FC Porto também não se esquece e de certeza que não vão facilitar.»

O sorteio em cima da Ponte 25 de Abril

«Por acaso estávamos a vir embora do treino e íamos a passar a Ponte 25 de abril quando soubemos o resultado do sorteio.  Começaram a chover mensagens a dizer que era o FC Porto. Será no Dragão e eu gostei disso, sou ambicioso e quero os grandes palcos. Adoro a Tapadinha mas jogar no Estádio do Dragão é diferente», salienta Marco Bicho.

O médio atravessou a ponte em direção ao Barreiro. Por lá, Paulo Fonseca é uma figura conhecida. «Conheço o Paulo porque é do Barreiro como eu. Também conheço o adjunto, o Nuno Campos, que chegou a treinar no Barreirense quando eu lá estava.»

Marco defende o trabalho do treinador do FC Porto. «Não lidei com ele como treinador mas tem provas dadas, de baixo para cima. O Porto, mesmo sem um futebol muito atrativo, está na frente do campeonato e teve azar na Champions frente a Atlético e Zenit. Para mim, a equipa perdeu o melhor médio do Mundo (João Moutinho) e o James, portanto parece-me um pouco mais fraca.»

E Paulo Fonseca, está diferente? «Vejo a mesma pessoa que conhecia, mas claro que estar no Paços ou no Porto não é a mesma coisa. A pessoa muda um pouco, inconscientemente, está mais exposta e defende-se automaticamente», remata o médio do Atlético.

Paulo Fonseca fazia a travessia com Hugo Carreira

Hugo Carreira, 34 anos, é a referência no setor defensivo do Atlético e também conhece o treinador do FC Porto. Aliás, foram companheiros de equipa durante alguns épocas no Estrela da Amadora.

Nesta sexta-feira, o experiente central fez a travessia do Tejo com Marco Bicho e Moreira. Antigamente, o trajeto era partilhado com o próximo adversário na Taça de Portugal.

«Partilhávamos as viagens entre o Barreiro e Lisboa, quando jogávamos os dois no Estrela. Mais tarde, estive a treinar no Pinhalnovense, já com ele como treinador, quando voltei da China. E fui convidado por ele para ir para o D. Aves, mas não se concretizou. Orgulho-me do seu trajeto», diz, à Maisfutebol Total.

Hugo Carreira não tem dúvidas: Paulo Fonseca foi um bom central mas é melhor treinador. «Ele era bom, gostava de fazer dupla com ele, sempre muito ponderado, com uma calma tremenda. Aliás, é o reflexo do que é agora como treinador. Chegou rapidamente ao topo mas sempre de forma gradual, com muito mérito.»

«Curiosamente, penso que tivemos algumas conversas em 2001/02 e acho que ele não pensava continuar no futebol, ser treinador. Mas mudou e está a fazer uma bela carreira. Mesmo no FC Porto, acho que tem mantido a postura de sempre. Disse logo que o Jorge Jesus era um adversário, não inimigo, e ainda recentemente admitiu que havia aspetos a melhorar na equipa. Se calhar outros treinadores não admitiriam isso», frisa o jogador.

Anselmo repetiu a graça de David um mês depois

O defesa não estava no Atlético quando a equipa da Tapadinha, atual penúltima classificada da Segunda Liga, cometeu uma proeza no Estádio do Dragão. Nessa altura, Hugo Carreira representava o Estrela da Amadora. Paulo Fonseca dava os primeiros passos como treinador nos juniores do emblema da Reboleira.

David surpreendeu o FC Porto em janeiro de 2007 mas o Estrela da Amadora fez o mesmo no mês seguinte. Um período negro para Jesualdo Ferreira. 

Hugo Carreira saltou do banco a par de Anselmo. Seria o avançado a gelar o Dragão (0-1). «Foi já nos descontos. Lembro-me que o Anselmo tinha falhado uma grande ocasião pouco antes e marcou a mais difícil. Mas o FC Porto tinha desperdiçado várias oportunidades, claro. Foi um dia histórico, não é todos os dias que uma equipa ganha no Dragão, ainda por cima uma equipa média como o Estrela.»

Repetir esse início de ano de 2007 é o mote para o Atlético na próxima eliminatória da Taça de Portugal. «Não é por nada, mas lembro-me de alguém dizer, logo depois de passarmos o Camacha, que se calhar ia calhar o Porto outra vez. Vai ser um grande jogo mas sabemos que será muito difícil, não querem ser surpreendidos duas vezes. Será um FC Porto de orgulho ferido frente ao Atlético. Faremos o possível», remata o defesa.