O Marco continua a ser notícia. Depois dos salários em atraso, das ameaças de demissão do presidente e do fumo de extintor lançado para o interior do balneário do Estoril, neste domingo a equipa da Liga de Honra viu-se envolvida numa situação complicada, sendo fortemente apedrejada após o jogo com o Leixões (que perdeu por 4-0).
Vidros partidos, autocarro (alugado) com muitas amolgadelas e um ferido de alguma gravidade, que teve de ser assistido no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. A Polícia deteve 15 pessoas, que encontrou junto ao local da ocorrência, e manteve quatro delas encarceradas para posterior inquirição. A equipa regressou a casa com um enorme susto e uma janela sem vidro, que fez passar chuva e vento para o interior. Um dia para esquecer.
O mais atingido com esta situação, porém, foi o cinquentenário massagista da equipa, Augusto Vieira, que teve de ser suturado com mais de uma dezena de pontos na região malar direita, para além de ter perdido um dente, por ter sido atingido por um paralelo. O motorista do autocarro também sofreu um ligeiro traumatismo no braço direito e o director desportivo, Paulo Antunes livrou-se de males maiores, segundo conta na primeira pessoa:
«Só me lembro de ver um vulto no ar e voar para o lado. Estava sentado sozinho no banco da frente e tive sorte em baixar-me, mas a pedra acabou por atingir o nosso massagista. Ainda apanhei com os vidros, por isso tenho algum sangue na cara. Tudo aconteceu já depois de termos saído do estádio e quando estávamos completamente desprotegidos, apenas acompanhados por um carro que seguia à nossa frente, com dois polícias. De um momento para o outro vimos vários paralelos a atingirem o autocarro e só nos tentámos proteger. Cheguei a ver a cara de um dos que atirou pedras e se o vir na rua reconheço-o. Houve jogadores que saíram do autocarro e foram atrás deles».
Abalado com a situação, lamenta este tipo de situações e considera que nada no jogo o faria prever, pois «o Leixões ganhou 4-0 e jogou com mais um jogador uns 60 ou 70 minutos». «Saímos calmamente do estádio e aconteceu-nos isto», contou Paulo Antunes a poucos metros dos incidentes, enquanto o sub-comissário Dias Canário ainda tomava conta da ocorrência e detinha presumíveis agressores.
Momentos de pânico
O dirigente reconhece que «podia ter sido pior», até porque ao seu lado não viajava o presidente Jorge Sousa, que desta vez não esteve no estádio. De facto, os sinais do impacto mostram que a pedra foi dirigida aos dois passageiros da parte dianteira, no lado direito, mas atingiria o azarado Augusto Vieira, que seguia sentado no lado contrário. Mais atrás, um vidro duplo impediu que os jogadores também fossem para o hospital.
Para trás fica um histórico de confrontos, com culpas repartidas. Se hoje é o Marco, no ano passado foi a claque do Leixões, Máfia Vermelha, a ser apedrejada à saída de Marco de Canavezes. A origem da rivalidade vem da época 2001/02, quando o Leixões falhou a subida à Liga de Honra, apesar de ter somado os mesmos 83 pontos do líder Marco. Na altura os nervos estiveram sempre à flor da pele e os problemas nunca deixaram de existir.
Para além disso, a presente situação terá sido fruto de uma aparente confusão, pois os agressores terão confundido o autocarro da equipa, pensando que estariam a atingir o veículo onde seguia a claque marcoense, os Ultra Tuff Boys. No interior do veículo, porém, viveram-se «momentos de pânico», segundo conta o «capitão» Celso:
«São coisas que nada têm a ver com o futebol e de que não estávamos à espera. Em todo o caso, são problemas antigos, que continuam a levar as pessoas a tomar estas atitudes. Lá dentro vivemos momentos complicados e ficamos bastante apreensivos quando vimos o nosso massagista cheio de sangue, depois de ter sido atingido por uma pedra».