Aimar foi apresentado no Benfica a 17 de Julho. Mais de quatro meses depois, qual o balanço? Dois jornalistas do Maisfutebol apresentam análises distintas. Vítor Hugo Alvarenga acusa, Pedro Jorge da Cunha defende o argentino, em três pontos. O leitor decide:

1. Físico

Acusação: «Não posso viver tão rápido. Aí está o meu ponto fraco», reconheceu Aimar, em 2005. Sem dúvida. O talento está lá, mas o corpo cede e o argentino apresenta um historial preocupante de problemas físicos. O cérebro de nada serve, se os músculos continuam a falhar a um ritmo contínuo. É pena, sem dúvida, mas multiplicam-se as provas de limitações físicas de «El Payaso». Está parado, uma vez mais.



Defesa: Aimar é o primeiro a reconhecer as suas limitações no plano físico. Isso é pacífico. Mais relevante é perceber o que pode dar ao Benfica sempre que estiver disponível para jogar. E nestes quatro meses de águia ao peito, os números são a melhor prova de defesa. Nos oito jogos oficiais que fez, os encarnados venceram cinco, empataram dois e perderam somente um (aproveitamento de 62,5%). Sem Aimar, a percentagem de sucesso baixa para 42%. Se a equipa técnica souber gerir o esforço de «El Payaso», teremos por certo mais momentos como a rabona de Guimarães ou o passe de calcanhar contra o Aves.



2. Táctica

Acusação: Quique Flores tem convicções fortes e montou o seu 4x4x2 a todo o custo. Com resultados satisfatórios. Por mais voltas que se dê à questão, Aimar não encaixa nesse sistema. Então, porquê a contratação? Neste 4x4x2, o segundo avançado tem de garantir golos. Aliás, Quique parece ter desenrascado o losango só a pensar em Aimar. Ou seja, fugindo à sua génese como treinador. Já no Valência, garantiu os melhores resultados num 4x4x2 clássico. Aliás, chegou a ser elogiado por isso mesmo.



Defesa: Ponto prévio: o Benfica será sempre melhor com Aimar em campo. Seja num 4x4x2 clássico ou em losango. No futebol moderno, a tendência é para que o segundo destes sistemas se torne a estrutura-base das grandes equipas. O Benfica também caminha para aí, necessariamente, e o argentino encontrará a sua posição ideal dentro das ideias de Quique Flores. E, lá está, se Aimar é uma das grandes apostas do Benfica de Rui Costa, Quique poderá recorrer cada vez mais ao 4x4x2 losango. Sem, com isso, colocar em causa as suas concepções. Estou em crer que o espanhol ainda está no seu processo evolutivo enquanto treinador. E nesse processo é mais do que compreensível que vá gradualmente colocando de parte o rudimentar 4x4x2 e dê lugar ao losango. Em nome do maior aproveitamento das suas maiores figuras. Aimar está entre elas e valoriza a evolução táctica do Benfica.

3. Preço

Acusação O Valência pagou 24 milhões de euros em 2001, depois vendeu Aimar ao Saragoça por metade do preço, em 2006. Dois anos mais tarde, o Saragoça liberta o médio para o Benfica por cerca de metade do que pagou: 6,5 milhões de euros. Ou seja, aos 29 anos, o internacional argentino vê o valor do seu passe cair a pique, não esquecendo o salário elevado, ao longo de quatro anos de contrato.

Defesa A influência de Pablo Aimar não se esgota no relvado. É óbvio que o Benfica não ganhará dinheiro com Aimar numa futura venda, mas a chegada do credenciado argentino à Luz trouxe uma esmagadora mais-valia ao departamento de merchandising. É o atleta que mais camisolas vende e o que mais adeptos atrai aos estádios. Entre o deve e o haver, estou certo de que o Benfica terá muito a ganhar no plano financeiro com a aquisição de Pablo Aimar.

«Jogo de opostos» é um espaço de debate semanal sobre temas da actualidade desportiva, entre dois jornalistas do Maisfutebol, Pedro Jorge da Cunha e Vítor Hugo Alvarenga.