José de Morais integra o contingente luso de treinadores emigrados. Portugal espalha representantes pelos quatro cantos do Mundo e multiplicam-se as histórias interessantes, os registos inacreditáveis de experiências sem paralelo na nossa realidade. Em conversa com o Maisfutebol, o actual técnico do Espérance de Tunis (Tunísia) recupera o seu diário de viagem.
Aos 43 anos, Morais já treinou em destinos distintos como Portugal, Alemanha, Suécia, Arábia Saudita, Iémen e Tunísia. A bola é sempre redonda, costumam ser onze para cada lado, mas as semelhanças terminam logo aí. Por vezes, encontram-se muito mais que clubes de futebol. A história do Assyriska, por exemplo, merece ser contada.
José de Morais treinara a equipa B do Benfica, alguns emblemas na Alemanha, Estoril, Ac. Viseu e Santa Clara. Em 2005, recebe um convite da Suécia. Iria encontrar os famosos jogadores altos, loiros e relativamente toscos? Longe disso. O Assyriska chegou ao topo do futebol sueco como representante da comunidade assíria radicada no país. Os assírios são um grupo étnico actualmente sem pátria. As suas origens estão dispersas por Iraque, Síria, Turquia ou Irão.
Cinco milhões de adeptos
«Chamam-lhe uma selecção nacional sem pátria. Aliás, foi feito um documentário nesse ano em que estiveram na primeira divisão, documentário que concorreu a festivais e recebeu um prémio. Nesse ano, a equipa subiu administrativamente, mas estava preparada para jogar na II Divisão e não tinha dinheiro para mais», recorda o treinador português.
O Assyriska subiu e desceu de divisão no ano seguinte, mas conquistou adeptos em cerca de oitenta países. Existem mais de cinco milhões de assírios espalhados pelo Mundo. José de Morais ficou na história: «Não tinha jogadores com experiência de I Liga, mas ainda assim fez bons jogos, mesmo tendo regressado à segunda divisão. Aliás, o mesmo grupo de jogadores, em 2006, desceu à terceira divisão. Ou seja, o trabalho teve a qualidade possível e, como prova disso, posso dizer que o Assinkirya endossou-me um convite há menos de duas semanas, para tentar nova subida ao escalão principal, mas tive de declinar.»
Arábia Saudita, Iémen e Tunísia
«Depois da Suécia, estive em três clubes da Arábia Saudita (Al Faysali, Al Shabab e Al Hazem). Seguiu-se um convite para trabalhar no Stade Tunisien, mas entretanto tive a oportunidade de assumir o comando da selecção do Iémen. Em termos de currículo, seria um elemento bom e decidir aceitar. Infelizmente, as expectativas foram defraudadas, não havia confianças. Senti muitas intromissões nas minhas escolhas. Acabei por forçar a minha posição e sair», vai contando o técnico.
No mês passado, José de Morais regressou à Tunísia para orientar o Esperance de Tunis, líder do campeonato. Um desafio de peso. «A equipa tem estado a jogar em quatro frentes mas desenrascou-se bem. Consegui aumentar a vantagem na frente para três pontos e, com a vitória de 6ª feira, passou para seis, mas o 2º classificado ainda vai jogar. Este é o maior clube da Tunísia, joga perante 40 mil espectadores e rivaliza com o Al-Ahly (Egipto) em termos de notoriedade no Norte de África», sintetiza.