A propósito destas questões relacionadas com a educação e a contestação à ministra veio-me à memória aquela situação de desrespeito numa sala de aula em que uma aluna desrespeita a professora, que lhe retirou o telemóvel. «Dá-me o telemóvel já» ficou célebre, fez o seu caminho na Internet e entretanto foi esquecido. O sofrimento dos professores, esse, continua e muitos até já se cansaram e decidiriam antecipar a reforma.
Bem, mas estou aqui para falar de futebol, colocando-me na pele daquela aluna numa sala de aula e apetece-me desrespeitar a professora. No caso que me interessa, as trivelas de Quaresma fazem o papel de telemóvel e a professora pode muito bem ser o presidente do Inter de Milão. Por isso, qual histérico com sotaque do norte, exige: «Devolvam-nos a trivela já!»
Há poucos meses, os portistas entretinham-se a refinar uma espécie de ódio de estimação por Quaresma e as suas fintas incompreendidas, as trivelas e os passes de letra. A equipa ganhava, somava pontos de avanço sobre os rivais e Quaresma balouçava entre os assobios e os gritos desmesuradas de alegria. Tanto era «o maior», «inigualável», como «este gajo leva qualquer um ao desespero».
Agora, Quaresma é novamente incompreendido. Mourinho tenta dar-lhe espaço, mas Ricardo despreza a mão que o ajuda, pela enorme confiança nas suas qualidades. Tem o seu método, acredita que pode ser tão grande como Cristiano, mas pouco faz para lá chegar. Acredita nele e pronto. Os seus brincos e pulseiras irão conduzi-lo para o caminho correcto (para seu bem, da Selecção, de José e de quem adora o jogo bonito).
Em Milão, já não há tempo para namoros. Mourinho diz que se trata de «um rapaz corajoso, sabe que não está a jogar bem e agora pode repousar em termos mentais». Ninguém como ele pode ter tanta paciência (o último a consegui-lo foi Co Adriaanse), mas o ponto sem retorno em que se encontra Quaresma poderá definir o resto da carreira.
Por mim, e pelo menos enquanto Ricardo vai descansar por uns jogos, aproveito para recordar as suas trivelas e passes de letra, desejando que pelo menos Aimar tenha disponibilidade física para replicar alguns destes momentos nos campos portugueses. Aos portistas, desejo sorte e paciência, agora que têm Hulk para preencher esse cantinho dedicado ao amor-ódio.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as quartas e sextas-feiras