Em Espanha, o Barça abana mas não cai: 518 dias depois, continua a não ter de olhar para cima, mantendo intacto um ciclo iniciado a 19 de agosto de 2012. Nesse dia, o da primeira jornada da Liga 2012/13, a equipa de Tito Vilanova respondeu à saída do «pai espiritual», Pep Guardiola, com uma goleada sobre a Real Sociedad por 5-1, subindo ao primeiro posto. Mesmo com a doença de Tito pelo meio – Jordi Roura comandou a equipa entre dezembro e abril, nunca mais de lá saiu até aos festejos, em maio.

Assim continuou desde o primeiro dia desta edição da prova – para não variar, a estreia de Tata Martino fez-se com grande estrondo, uma vitória por 7-0 ao Levante. E já lá vão 58 jornadas, mais de campeonato e meio, com os «blaugrana» sempre no primeiro posto – sozinhos, quase sempre, ou pontualmente acompanhados pelo At. Madrid, como continua a ser o caso. O atual mano a mano com os «colchoneros» já dura desde a 15ª jornada, e prolongou-se neste domingo com o duplo empate que serviu para a reaproximação do Real Madrid. Em duas semanas, os merengues recuperaram quatro pontos para o duo da frente e contribuem assim para a Liga mais equilibrada dos últimos anos.

No Ciudad de Valencia viu-se um Barça pouco rematador (seis tentativas em todo o jogo) e que chegou ao empate num recurso pouco habitual (cabeçada de Piqué após canto, primeiro golo de um central nesta edição da prova), a confirmar a maldição da Senyera. A camisola alternativa, com grande significado simbólico, por remeter para a bandeira da Catalunha, foi usada em nove jogos. Desses, apenas dois foram ganhos: um com o modesto Cartagena, para a Taça, outro com o Getafe, para a Liga. Os restantes saldaram-se em duas derrotas e cinco empates, registo sem precendentes nos últimos anos.



Mesmo segurando a liderança, com a ajuda do empate de Sevilha no Calderón, o Barça inquieta-se com pequenos sinais: para uma equipa habituada a vencer tanto, duas jornadas seguidas sem ganhar fazem soar alarmes entre os adeptos ultraexigentes. Não acontecia nada de semelhante desde maio de 2011, quando, com a Liga ganha, Guardiola decidiu gerir o grupo, concentrando energias na Liga dos Campeões, que acabaria por vencer.

A lesão de Neymar, a meio da semana, trouxe mais nuvens negras numa altura em que a recuperação de Messi prometia refazer o clique ofensivo da maior máquina goleadora do futebol nos últimos seis anos. Mas a verdade é que o astro argentino está a viver um jejum sem precedentes desde fevereiro de 2008, apesar dos quatro golos em dois jogos ao Getafe, para a Taça, sugerirem um Messi de volta à melhor forma.

O seu último golo na Liga data da sétima jornada, a 28 de setembro, em Almería. Mesmo descontando as seis jornadas que falhou por lesão, depois disso Messi esteve em campo em mais sete jogos da Liga, totalizando 456 minutos sem marcar. Para encontrar registo semelhante é preciso recuar seis anos, até dezembro de 2007, quando Messi, ainda na sombra de Ronaldinho, Eto'o e companhia, esteve oito jogos, e 620 minutos sem marcar para o campeonato. A diferença é que, nesssa altura, o Barça estava em crise interna, acabando o campeonato a quase 20 pontos do Real Madrid – e determinando uma mudança radical na política desportiva, com a saída de Rijkaard e a aposta em Guardiola.

Desta vez, nada disto está sobre a mesa: o Barça mantém-se na crista da onda, mesmo com Messi a marcar apenas oito dos 54 golos da equipa. Também por isso, o Málaga de Antunes, Duda e Eliseu, já sabe que terá de sujeitar-se a trabalhos forçados, no próximo domingo, no Camp Nou, para não pagar a fatura do regresso do rei.