A última vez que tínhamos ouvido falar de Fabien Barthez no futebol foi em abril de 2007, quando ele abandonou o Nantes depois de um desentendimento com adeptos que o recriminavam por uma derrota. O antigo campeão do mundo abandonou a cidade nesse dia com a família e não voltou a jogar. Mas não tem estado parado. Nos últimos cinco anos Barthez trocou as balizas pelo volante. E acaba de se sagrar campeão de França de GT Series, a principal competição de circuitos atualmente em solo gaulês.

«É mais stressante que o Mundial», desabafou no final Barthez ao jornal LÉquipe. Celebrava a conquista no circuito Paul-Ricard depois de um sétimo lugar na última etapa da prova, que lhe garantiu o título em conjunto com Morgan Moulin-Traffort, seu companheiro de equipa na Sofrev-ASP.  Ao volante de um Ferrari 458 Italia com o número 16, o mesmo que usava na camisola enquanto futebolista.

Barthez e Moulin-Trafford venceram duas das sete etapas e subiram mais quatro vezes ao pódio, num campeonato onde havia mais nomes sonantes. Desde logo Sebastien Loeb, o múltiplo campeão do mundo de Ralis, mas também Olivier Panis, o último piloto francês a vencer um Grande Prémio de Fórmula 1.

A paixão pelo volante, conta Barthez, surgiu quando jogava no Mónaco, entre 1995 e 2000. Foi no período em que ganhou tudo o que havia para ganhar com a seleção francesa: o Campeonato do Mundo em 1998 e depois o Campeonato da Europa, em 2000. «Sempre gostei de bons carros. Mas interessei-me realmente pela competição quando jogava no Mónaco, onde assisti a todos os Grandes Prémios de Fórmula 1. Entrei naquele mundo e vejam até onde me trouxe», recordou numa entrevista ao «La Nouvelle Republique».

Depois do Mónaco Barthez jogou no Manchester United, onde esteve até 2004 e onde venceu por duas vezes a Premier League. Seguiu-se o regresso a França e ao Marselha, o clube onde tinha sido campeão europeu em 1993. Foi lá que esteve até ao verão de 2006, quando jogou o seu terceiro Mundial pela França e chegou até à final, perdida para a Itália naquela cabeçada de Zidane a Materazzi.

A seguir ao Mundial, sem clube, decidiu terminar a carreira. Mas acabou por aparecer o Nantes e em janeiro de 2007 decidiu voltar a calçar as luvas. Durou pouco tempo. O Nantes fez uma época medíocre e em abril, com a descida de divisão à vista, os adeptos descarregaram em Barthez. «Não estou preparado para viver assim. Já não me sinto em segurança em Nantes e é melhor partir», disse na altura.

E partiu. Só formalizou o final da carreira no verão de 2008 e foi nessa altura que começou a experimentar a competição automóvel. Começou por entrar em vários campeonatos monomarca, pelo meio ainda comentou futebol, no Mundial 2010 e no Euro 2012, e foi conselheiro da Federação francesa para os guarda-redes.

Mas concentrou-se muito na sua nova carreira de piloto. A lista de antigos jogadores a virar-se para outro desporto depois de terminada a carreira é longa, mas Barthez dedicou-se a sério, não quis apenas passar o tempo. «Quando entrei nisto o meu objetivo era fazer dez anos de desporto automóvel, não experimentar uma vez ou fazer como os famosos VIP, como se costuma dizer, que me horrorizam», dizia Fabien em abril ao jornal Sudouest.

A atitude de quem veio para ficar levou a que acabasse por se integrar bem no meio e não fosse visto como mais uma estrela que queria passear-se pelo paddock. «A forma como me olham mudou, embora eu vá continuar sempre a ser o Fabien Barthez, o campeão do mundo de futebol. Nada pode superar isso, mas cabe-me a mim e não a quem já cá estava integrar-me neste meio», diz, num discurso humilde, a contrastar com a imagem arrogante que muitos lhe colaram quando jogava futebol.

«Quando cheguei tinha tudo a provar. Encontrei gente que confiou em mim e me deixou tentar», insistia Barthez em 2012, noutra entrevista, fazendo uma comparação curiosa com o futebol: «Fui evoluindo sempre sem deixar de lado a paixão e o prazer. É muito diferente do futebol, onde a noção de prazer passava um bocado para segundo plano.»

Aos 42 anos, Barthez volta a ser campeão. E não vai ficar por aqui. Só passaram cinco dos 10 anos que ele disse que iria dedicar ao desporto automóvel. O próximo objetivo que definiu é correr as 24 horas de Le Mans, para o ano.

A corrida de Barthez para o título

Fabien Barthez et Morgan Moullin-Traffort... by FFSA-tv