A versão resumida da história é a mais direta: Mangala deu, Mangala tirou. Dois momentos de destaque individual do central francês, em áreas opostas, coloriram o empate do FC Porto no Restelo, no segundo tropeção à beira Tejo da equipa de Paulo Fonseca, depois do 2-2 na Amoreira.

Mas, mesmo sendo objetivo, este é um resumo demasiado simples, que não sublinha as duas evidências mais importantes do jogo. A primeira, a consistência de um Belenenses que não perde há oito encontros oficiais e que em momento algum deu como demonstrada a diferença de estatutos. A segunda, a indefinição de um FC Porto que, esvaziada a injeção de moral após o clássico com o Sporting, voltou ao ponto onde estava, com exibições cinzentas e demasiadas perguntas sem resposta.

Com a viagem a São Petersburgo no horizonte, e a  passagem do Benfica por Coimbra como exemplo – uma vitória garantida cedo, a anteceder um exercício de gestão - Paulo Fonseca surpreendeu com a titularidade de Ricardo, apostando em dois extremos bem abertos e poupando Josué. A ideia era, provavelmente conquistar cedo o direito ao descanso, com uma entrada forte e mais serviços de qualidade a Jackson, de forma a garantir antes do intervalo uma vantagem que permitisse  pôr o jogo no congelador.

Mas, apesar de dez minutos iniciais intensos, com Varela e Alex Sandro a assumirem as despesas à esquerda, assim que o Belenenses acertou marcações começou a notar-se um problema crónico neste FC Porto versão 2013/14: a aproximação de Lucho a Jackson deixa trabalho excessivo aos outros dois médios. E nem Herrera nem Fernando têm características de lançadores ou transportadores que permitam manter a dinâmica e a agressividade nas laterais.

Assim, com Diakité e Danielsson como barreira a meio-campo, e com o trio Fredy (grande jogo!), Tiago Silva e João Pedro a desdobrar-se no apoio defensivo e nas saídas rápidas, o Belenenses começou a sentir-se confortável no jogo. Um estado que durou até aos 30 minutos, apesar das ameaças portistas pelos flancos, em especial o esquerdo.

Foi num lance desses que Alex Sandro conquistou um livre lateral, já perto da área. Danilo arrancou um cruzamento competente, e o poder físico de Mangala fez a diferença, com a sua cabeçada a contar ainda com um desvio feliz em Meira.

Parecia que o passo mais difícil estava dado mas, logo no lance seguinte, Mangala voltou a desequilibrar. Desta vez na sua própria área, deixando rolar, com aparente excesso de confiança, uma bola que tinha tudo para controlar. João Pedro agradeceu e aproveitou, retirando qualquer ascendente psicológico que o FC Porto pudesse reclamar, à falta de ascendente no relvado.

Jackson, tão perto e tão longe do golo

Gorado o sonho de uma vitória tranquila, o FC Porto encontrou, na segunda parte, um problema adicional: a intranquilidade na zona de finalização, que lhe inviabilizou o segundo golo em lances protagonizados por Ricardo (defesa de Matt Jones, 51 min) e principalmente Jackson (três remates para fora, o último dos quais de cabeça, na pequena área, só com o guarda-redes pela frente, aos 64 minutos).

Porém, no momento em que o Belenenses mais oscilava, o jogo ganhou outro protagonista com as transições rápidas de Fredy, que voltaram a pôr o dragão em sentido, expondo, ao mesmo tempo, o vazio de um meio-campo que atirava para os laterais quase todas as tarefas de construção.

O jogo dos bancos começou por dar vantagem ao FC Porto, já que o Belenenses acusou a quebra de Tiago Silva e deixou de levar o perigo à área de Helton. Mas enquanto Paulo Fonseca, lançando Licá e Ghilas, se rendia à evidência e procurava resolver pela força o que a estratégia não resolvia, a entrada de Sturgeon e a passagem de Fredy para o meio deram um novo fôlego ao Belenenses, que a oito minutos do fim viu mesmo Helton negar-lhe a vitória, com uma grande defesa a cabeceamento de Diawara.

Até final, num péssimo relvado, um FC Porto com pouca cabeça instalou-se nas imediações da área azul, mas sem argumentos para mudar o destino. Pela primeira vez nos últimos dez anos, o dragão perde pontos no Restelo e, desta vez, perde-os sem qualquer outra queixa que não a resultante das suas limitações. 

Nos tempos que correm, o direito ao descanso é cada vez mais um luxo, que este Belenenses não concede a ninguém e este dragão,apesar da liderança invicta, não tem feito por merecer. Nem para São Petersburgo nem, a avaliar pelos sinais, para o resto da temporada.