Foi um V. Setúbal ainda a tentar reagir a «uma profunda tristeza» que se apresentou no Estádio da Luz a 30 de Dezembro de 1973. O portista Pavão tinha morrido em campo há apenas duas jornadas, precisamente num jogo com os sadinos, e Octávio Machado, um dos jogadores que estava então no relvado, conta que o V. Setúbal tentava ainda reagir à tragédia.
O que animava o grupo era um segundo lugar na tabela classificativa - estavam a apenas um ponto do Sporting - e a convicção de que «os campeões têm de reagir ao contrário e mostrar o gosto pela vida». Foi nesse contexto e também com uma revolução quase à porta que o V. Setúbal foi ao «infernal» Estádio da Luz para conseguir a primeira das duas vitórias que ali conseguiu.
«Foi uma tarde maravilhosa, um jogo extraordinário», recorda Octávio Machado, uma das estrelas do V. Setúbal daquela altura, frisando que a vitória por 3-2, na 15º jornada do campeonato, esteve longe de surpreender. Lembra o ex-jogador que os sadinos já no ano anterior, a 6 de Fevereiro de 1972, tinham empatado na Luz e que na época de 1971/72 tinham sido vice-campeões, com 26 jogos sem perder em 30 jornadas. «E se não houvesse um senhor chamado Eusébio da Silva Ferreira tínhamos sido campeões», garante.
A vitória na Luz surgiu assim como a prova definitiva de que o V. Setúbal de José Maria Pedroto não era pêra doce. E o marcador foi aberto logo no primeiro minuto, com um autogolo de Artur. «Para nós o golo foi do Duda», faz questão de dizer Octávio Machado. E logo depois acrescenta que o segundo, que ele marcou, também teve uma ajuda do colega. «Houve um cruzamento, depois o cabeceamento de Duda foi à trave e eu fiz um golo de encher o olho, um golo que me ficou na memória. Tive muitos momentos bons na minha carreira, esse foi um deles. Não é todos os dias que se marca na Luz», recorda, com uma memória precisa.
O terceiro golo ficou por conta de Jacinto João. «Foi um livre do Jacinto João. Ele e o José Maria eram dois artistas», refere Octávio Machado e na lista de argumentos sadinos inclui também Torres, Rebelo, Carriço, entre outros.
Era difícil jogar no Estádio da Luz, é preciso frisar. «O ambiente da Luz foi mais infernal do que a equipa que encontrámos», conta o ex-jogador. Havia «a força do terceiro anel» e um adversário com vontade de responder, que ainda marcou dois golos. «O António Garrido, que era o árbitro, resolveu amenizar as coisas e inventar um penalty [convertido por Vítor Martins aos 88 minutos]. Nós queríamos é que o jogo acabasse. Sabíamos que estávamos a defrontar uma grande equipa», afirma Octávio.
O certo é que o V. Setúbal dos «jogadores de qualidade, indiscutíveis na selecção», do «balneário forte, de gente amiga e que servia o futebol» venceu. Mas, mesmo assim, depois da vitória, Pedroto saiu, o Vitória perdeu com o Sporting, veio a revolução, foi-se o campeonato e com ele os tempos de glória.