A eficácia de Mitroglou e o desperdício de Aubameyang simbolizam a primeira parte dos oitavos de final da Champions, contra a corrente dos números. Se o Benfica contrariou probabilidades na Luz, agora joga tudo em Dortmund, apoiado no 1-0 da primeira mão e na história que lhe sorri. O Borussia, depois da exibição da Luz que pedia mais, também tem o seu quinhão de memórias a favor.

Os avançados de Benfica e Dortmund são necessariamente protagonistas no lançamento desta segunda mão. Para Mitroglou este será um regresso ao país onde cresceu. Nascido na Grécia, Kostas emigrou cedo para a Alemanha, foi lá que se formou como jogador e tem aliás dupla nacionalidade. Quanto a Aubameyang, é o rosto da pressão sobre o Dortmund. Depois de ter falhado na Luz e de ter visto Ederson negar-lhe uma grande penalidade, antes de ser substuído com meia hora para jogar, é sobre o goleador que caem as expectativas agora no Signal Iduna Park.

A vida tem sorrido a ambos depois da Luz. Mitroglou, que esteve seis jogos seguidos a marcar, apontou cinco golos nos quatro jogos depois da primeira mão. Só ficou em branco na jornada que agora passou, frente ao Feirense. Tem 24 golos apontados em todas as competições esta época, em 34 jogos disputados.

Aubameyang esteve no CAN e o regresso foi difícil. Desde que voltou só fez um golo em seis jogos. Mas encarrilou agora: nos últimos dois jogos marcou quatro golos. No total da temporada tem 25 golos esta época, em 30 jogos.

Ambos têm seis jogos nesta edição da Liga dos Campeões, número semelhante de minutos disputados, 442 para o gabonês e 402 para o grego. As estatísticas de ambos mostram como Aubameyang tem sido mais eficaz que Mitro. Menos no Benfica-Dortmund e no golo do grego, o único até agora na prova, e que pode fazer toda a diferença.

Aubameyang é o melhor marcador do Dortmund, a equipa mais goleadora desta edição da Liga dos Campeões. Nada menos que 21 golos, um número muito reforçado pelos 8-4 da goleada ao Legia Varsovia na fase de grupos.

O Dortmund surge ainda no topo de vários parâmetros estatísticos nesta edição da Liga dos Campeões, do número e precisão de passes aos remates. Ao contrário do Benfica, que foi a equipa de toda a fase de grupos a apurar-se com menos pontos, oito no total, e que apenas aparece lá em cima nas faltas cometidas.

A lógica não mandou na Luz, num jogo em que o Benfica fez golo no único remate enquadrado com a baliza e teve apenas 30 por cento de posse de bola, além de um Ederson em estado de graça. (Recorde aqui as estatísticas do jogo)

Agora, para a decisão, por onde quer que se olhe há dados para alimentar todos os cenários, do momento ao passado.

O Benfica não tem Fejsa, que ainda não recuperou de lesão, jogador central na época encarnada e também na Liga dos Campeões. Foi utilizado em todos os jogos europeus do Benfica até agora, apenas mais quatro jogadores do Benfica têm sete partidas esta época: Salvio, mais Lindelof, Nelson Semedo e Pizzi, estes três com todos os minutos possíveis.

Por aí, o Borussia Dortmund também tem baixas, numa época, tal como a do Benfica, muito afetada por lesões. A última foi Marco Reus, descartado depois de se lesionar na goleada do último sábado ao Bayer Leverkusen. Antes dele foi Mario Gotze, um afastamento sem data de regresso marcado, ao que o clube avançou devido a «distúrbios metabólicos». Raphael Guerreiro, o português do Dortmund, não treinou nesta terça-feira e o treinador disse que só saberá se pode contar com ele no próprio dia do jogo.

Quanto ao peso da história, o Benfica tem do seu lado um resultado que lhe foi favorável na maioria das vezes: nas 13 eliminatórias europeias em que defendeu um 1-0 apenas não passou numa, o jogo com o Anderlecht de acesso à Liga dos Campeões em 2004/05. Em termos absolutos, no histórico das competições europeias, este resultado garante mais de 59 por cento de probabilidades de passagem.

O Dortmund, por seu lado, pode agarrar-se a um dos grandes momentos da memória do clube, A vitória por 5-0 sobre o Benfica em 1963/64, quando deu a volta a uma derrota por 1-2 trazida da primeira mão. Essa foi durante muitos anos, até aos 0-7 frente ao Celta Vigo em 1999/00, a derrota mais pesada do Benfica na Europa. O Dortmund assinalou-a com pompa em dezembro de 2013, quando passaram 50 anos, num evento em que esteve presente Eusébio, uma das últimas aparições públicas do Pantera Negra. Eusébio que, lesionado, nem jogou naquela partida da segunda mão em Dortmund. Recorde aqui essa história.

O Dortmund apoia-se ainda no seu histórico em casa com equipas portuguesas, foram cinco confrontos e cinco vitórias. Duas delas no espaço de pouco mais de um ano. Na época passada venceu o FC Porto por 2-0 na primeira mão dos 16 avos de final da Liga Europa, nesta temporada ganhou ao Sporting por 1-0 na fase de grupos da Liga dos Campeões.

O resto será outro jogo, necessariamente diferente do que foi o da Luz. Como reforçaram Rui Vitória e Samaris na antevisão do jogo, ou Tuchel, o alemão a puxar pela capacidade goleadora do Dortmund e pelo bom momento de Aubameyang. Com pressão garantida.