O Benfica lançou recentemente a primeira Casa 2.0: trata-se de um conceito novo de delegações do clube, criado ainda em 2019 e que começou a ser materializado em Santarém.

O primeiro exemplar vai ser construído, por isso, no Jardim da Liberdade, bem no centro da cidade ribatejana, no espaço anteriormente ocupado por um café e um restaurante.

Mas o que são afinal as Casas do Benfica 2.0?

Basicamente é um conceito revisto e profissionalizado das atuais Casas do Benfica, que se encontram espalhadas pelo país e pelo mundo, num total de quase trezentos espaços. As novas delegações que vão nascer passam a propriedade para o Benfica e oferecem mais serviços à população que tentam servir, sobretudo na área do estudo e da ocupação de tempos livres.

«Por volta de 2014 ou 2015 houve a necessidade de todo o universo do Benfica pensar o Benfica mais à frente. O desafio era perceber, há dez anos, como o Benfica estaria hoje», começa por contar Jorge Jacinto, diretor do Departamento das Casas, ao Maisfutebol.

«No departamento das Casas do Benfica identificámos um problema: o modelo associativo, ou seja, pessoas que trabalham por amor à camisola, estava a ficar esgotado. Hoje as novas gerações já não se envolvem no modelo com a mesma intensidade e disponibilidade. Atualmente os desafios são outros e as pessoas já não se sentem impulsionadas a trabalhar em prol de uma causa, sem retorno financeiro ou curricular. Algumas casas do Benfica estão, por isso, a entrar em inatividade por falta de pessoas para integrar os órgãos sociais.»

Ora a partir deste diagnóstico, tornou-se claro para Jorge Jacinto que era preciso mudar o modelo de funcionamento das Casas do Benfica, salvaguardando o importante papel que desempenham na vida do próprio clube e no dia a dia da comunidade em que se inserem.

«Há zonas do país onde as Casas desempenham um papel importantíssimo. Por exemplo, na Beira Baixa só existe futsal porque há casas do Benfica a entrar no campeonato da modalidade, caso contrário não haveria equipas suficientes no distrito de Castelo Branco.»

Jorge Jacinto teve então a visão do que seria uma Casa do Benfica do novo século e trabalhou o modelo. Com o apoio da Universidade Católica, definiu-se um business model, que acabou por convencer a administração do Benfica da viabilidade do projeto.

«Eu desafiei a Católica para participar nisto e foi então que o Miguel Abilheira entrou no Benfica, através de um estágio da Católica.»

Nesta altura convém dizer que Miguel Abilheira é atualmente consultor sénior da Deloitte. Em 2019 era aluno do mestrado da Católica e foi colocado a estagiar no Benfica. Foi então que ajudou a criar o business model do conceito que Jorge Jacinto já tinha criado.

«O que fizemos foi primeiro definir um modelo de funcionamento, depois um modelo de arquitetura e por fim um modelo de serviços que faça sentido em cada região. É quase um puzzle: em alguns locais conseguimos implementar três serviços, noutros cinco serviços e noutros se calhar um. A Casa 2.0 de Santarém, por exemplo, não poderá igual à de Paris.»

Ora é aqui que reside a principal novidade.

Para além de uma estética igual em todos os exemplares, com traços arquitetónicos que recordam o Estádio da Luz, as Casas do Benfica 2.0 têm um conceito renovado, que se caracteriza por estar dividido em três áreas de negócio: zona de restauração, loja do Benfica e academia de lazer. Todas elas controladas pelo Benfica e geridas por parceiros específicos.

«Queremos ter uma estrutura profissional de gestão, que possa libertar os dirigentes locais para a organização de competições desportivas», conta Jorge Jacinto.

«Em Santarém, por exemplo, a gestão da Casa 2.0 pertence ao Benfica através de parceiros. Os responsáveis locais ficam com os departamentos de judo e tiro ao alvo, até porque têm uma longa tradição nestas modalidades. O departamento de judo de Santarém vai fazer 50 anos e já deu ao país atletas de elite como o Nuno Delgado.»

Ora pegando no exemplo de Santarém, Jorge Jacinto explica que a área de negócio da restauração – o chamado Food and beverage - vai ter um modelo todo pensado pelo Benfica.

«Estamos a desenhar com um parceiro um modelo nosso e vamos reinventar um prato nacional mundialmente conhecido. Temos uma parceria com o chef Vítor Sobral, que nos está a ajudar na conceção de todos os pratos, especialmente os pratos para as crianças, por causa dos ingredientes, valores proteicos e calorias. A nossa preocupação é que as crianças sejam o foco deste espaço e que a cafetaria seja um espaço de família.»

Nas outras duas áreas de negócio, vai haver a Loja do Benfica e a Barbearia do Benfica, onde as pessoas podem comprar merchandising, bilhetes para os jogos ou cortar o cabelo, e vai haver a tal academia de lazer, que o clube chama de Benfica Ativo.

«O Benfica Ativo de Santarém vai ter 28 atividades diferentes, que vão desde a componente académica, com explicações de matemática ou aulas de robótica, entre outras, até à componente desportiva, com vários desportos, entre os quais quatro modalidades de pavilhão que vão ficar na dependência dos departamentos de formação do Benfica», acrescenta.

«O que queremos é que a Casa do Benfica seja um centro de desenvolvimento pessoal depois da escola. As crianças chegam, nós vamos dar-lhe o lanche, vamos ajudá-las a fazer os trabalhos de casa e vamos ter um calendário de atividades que vamos apresentar em breve. Uma criança pode estar a ter explicações, enquanto outra vai fazer ballet e outro vai jogar basquetebol, por exemplo. Passada uma hora rodam e vão fazer uma atividade diferente. Entretanto a mãe chega e vai fazer uma sessão de fitness ou ioga e o pai à noite ainda pode ir jogar futsal com os amigos no pavilhão.»

O diretor do Benfica espera que a infraestrutura de Santarém crie duas dezenas de postos de trabalho já na primeira fase e que tenha entre 50 e 100 crianças a entrar nas várias atividades.

Todas as Casas 2-0 vão funcionar sete dias por semana, 16 horas por dia, com cerca de 30 modalidades diferentes. Está previsto que também todas tenham campo de padel, o que permitirá criar o departamento das escolas de padel do Sport Lisboa e Benfica.

Santarém vai, de resto, ser o teste piloto do novo modelo, para se perceber se a execução do projeto poderá atingir o sucesso. Se tal acontecer, vão avançar mais Casas 2.0, estando já na fase de estudos o lançamento deste novo conceito em Vila Real, Portalegre, Beja e Loures.

Sempre, tal como acontece em Santarém, em parceria com os municípios.

«Este conceito não existe em mercado nenhum, não há ninguém que tenha este modelo de funcionamento. Na altura a aceitação por parte da Universidade Católica foi tão boa que este modelo de negócio acabou por entrar como caso de estudo no currículo anual do curso de Gestão. Isso deixa-nos muito orgulhosos, porque é um modelo novo, que ainda não estava instituído e já entrava num currículo conceituado como é do Católica Business School.»

O business plan calcula que o investimento em cada casa seja recuperado em dez anos, mas Jorge Jacinto garante que a motivação por detrás das Casas 2.0 não é financeiro.

«Este projeto significa um investimento nas casas do Benfica e na ligação do Benfica às comunidades locais. Mas estes espaços não são exclusivos para benfiquistas: são espaços abertos a toda a gente, a todos os adeptos, esperando que depois de entrar numa Casa 2.0 todos saiam de lá um pouco mais benquistas.»